Cotidiano

Índice de médicos em Roraima é 29% menor que média nacional

Baixo número é atribuído à falta de políticas públicas que incentivem os médicos a se fixarem em municípios mais distantes e regiões menos desenvolvidas

Roraima carece de médicos. Para atender uma população de mais de 500 mil habitantes, o Estado conta com 816 profissionais, o que resulta numa razão de 1,56 médicos para cada mil habitantes. Na avaliação do Conselho Regional de Medicina de Roraima (CRM-RR), o índice constatado pela pesquisa Demografia Médica 2018 é atribuído à falta de políticas públicas que incentivem os médicos a se fixarem em municípios e regiões mais distantes.

No Estado, pediatria é a especialidade com maior número de profissionais, totalizando 79, seguida da clínica médica (74), ginecologia e obstetrícia (68), cirurgia geral (55) e anestesiologia, com 35. Em contrapartida, as áreas de cirurgia cardiovascular, de mão, do aparelho digestivo, torácica, medicina esportiva, medicina física e reabilitação, medicina nuclear e nutrologia possuem, cada uma, um profissional.

A situação piora na áreas de genética médica, angiologia, homeopatia e radioterapia, que não têm nenhum especialista no Estado. Para a presidente do CRM-RR, Blenda Garcia, muito além da tão falada carência de médicos, falta a distribuição correta dos profissionais. “A Demografia Médica 2018 é a prova disso. Temos médicos, mas eles estão distribuídos erroneamente”, disse.

Em Boa Vista, a população de quase 330 mil habitantes é atendida por 710 médicos, ou seja, 87% dos profissionais roraimenses atuam na capital. Analisando a relação, o resultado é uma razão de 2,14 médicos por mil habitantes. A porcentagem é explicada pelo fato de que apenas a capital conta com uma maternidade, um hospital infantil e um hospital de alta e média complexidade.

Para a presidente do CRM, as principais dificuldades locais são a falta de condições de trabalho, de materiais e equipamentos para um bom diagnóstico e a continuidade da formação, como especializações. Tendo em vista que o tempo médio de formação de um médico é de 15 anos, considerando a graduação e a pós-graduação, Blenda explicou que é difícil convencer esse profissional a trabalhar em uma região que não conta com hospital e/ou equipamentos, como as áreas ribeirinhas.

Natural de Roraima, ela relatou que antigamente os médicos buscavam formação e capacitação em outros Estados e voltavam para o Estado. “Hoje isso não acontece mais, mesmo na capital. As políticas públicas não estimulam o profissional médico a vir pra Região Norte. Ele não vai ter um estímulo, uma carreira de Estado que o incentiva e isso tudo dificulta”, declarou.

Em busca de melhorias, o CRM cobra de forma simultânea o Governo Federal e o Estado. Entre os pontos, está o Plano de Cargos, Carreiras e Remunerações, que está parado há mais de 10 anos. Com salários abaixo da média nacional, a presidente frisou ser complicado instigar profissionais a virem ao Estado, uma vez que tudo vai ser mais difícil e caro. “A principal compensação do médico é simples: ter condições de trabalho”, citou.

DEMOGRAFIA MÉDICA – Os dados foram levantados por meio da pesquisa Demografia Médica 2018, realizada pela Faculdade de Medicina de São Paulo (USP), com o apoio institucional do Conselho Federal de Medicina (CFM) e do Conselho Regional de Medicina de São Paulo. Ainda foram utilizadas bases de dados da Associação Médica Brasileira (AMB), Comissão Nacional de Residência Médica (CNRM), Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) e Ministério da Educação e Cultura (Mec). (A.G.G)

Desabastecimento de hospitais é acompanhado pelo CRM

Em termos de abastecimento das unidades hospitalares, o ano de 2017 foi considerado árduo pelo Conselho Regional de Medicina de Roraima (CRM-RR). Por não ter o poder de compra, o órgão utiliza a função de fiscalizar e informar aos demais órgãos competentes para que cobrem o Estado. Com a imigração venezuelana em desordem, no entanto, a crise na saúde piorou consideravelmente.

Há meses o CRM-RR vem debatendo, a nível nacional, a demanda de imigrantes. Entre as discussões, estão as doenças que estavam erradicadas há mais de 10 anos, como o sarampo e a difteria. Mesmo com os números de casos aumentando a cada dia, a principal preocupação do Conselho ainda é o desabastecimento das unidades hospitalares que, com a imigração, gerou interdição dos dois maiores hospitais do Estado.

No Hospital Materno-Infantil Nossa Senhora de Nazareth (HMINSN), foi constatado um aumento de mais de 60% na demanda, enquanto no Hospital Geral de Roraima (HGR), o número de pacientes subiu quase 300%. Em ambas as unidades, assim como nos demais municípios, faltam equipamentos e materiais básicos, como luvas, gazes, seringas e compressas.

Por vezes, segundo a presidente, o próprio médico tira dinheiro do bolso para comprar o material básico, assim como acontece com os profissionais da enfermagem. “Você está diante do paciente e sabe que precisa fazer seu trabalho, mas não tem como fazer se não tirar dinheiro do bolso. O Governo Federal tem que olhar pra Roraima imediatamente, não dá pra esperar 15 ou 30 dias, já passou o tempo. É um apelo coletivo. Temos que ajudar os imigrantes, mas não podemos fazer isso sozinhos, sem as mínimas condições”, disse. (A.G.G)