Polícia

Imigrantes envolvidos em ocorrência com militares são expulsos de abrigo

A Folha publicou nesta semana um caso de ocorrência policial envolvendo militares do Exército e imigrantes indígenas da etnia Warao

A Folha publicou nesta semana um caso de ocorrência policial envolvendo militares do Exército e imigrantes indígenas da etnia Warao, fato ocorrido na madrugada de domingo, dia 15, no Centro de Referência ao Imigrante (CRI) que fica localizado no bairro Sílvio Botelho, nas proximidades da Praça Germano Augusto Sampaio, zona Oeste da Capital.

Ontem, dia 18, a equipe de reportagem conversou com os três indígenas envolvidos no caso e eles deram suas versões do que aconteceu. A entrevista aconteceu na Praça Germano Sampaio, onde os homens estão dormindo desde a noite do domingo, depois de serem expulsos do abrigo. Eles são aydamos, líderes dos Warao.

Eles afirmaram que, diferente do que foi relatado na delegacia pelos militares, não houve agressão e em nenhum momento golpearam os responsáveis pela guarda do portão. Os três confessaram que tinham bebido, mas que não estavam bêbados, que tinham total consciência de suas ações.

“Nós estávamos numa festa junto com as esposas e as crianças e retornamos para o abrigo. Isso já era uma da manhã. Eles não queriam deixar ninguém entrar e pedimos que deixassem pelo menos as crianças e as mulheres entrarem. Eles concederam o pedido, mas assim que todo mundo entrou bateram o portão de uma vez e perdi parte do meu dedo. Meu cunhado me viu sangrando e acabou pegando com as duas mãos na farda do soldado do Exército, mas não agredimos ninguém, não batemos em ninguém, tudo isso foi uma invenção. Eu também tive um ferimento na perna direita causado por material explosivo”, ressaltou o homem.

Os aydamos disseram que não sabem como as pessoas do abrigo ficarão sem uma liderança e que desde domingo estão passando fome e sede. Eles choraram ao relembrar que foram presos e que não tinham praticado nenhum crime. “A delegada percebeu que não praticamos delito grave e por isso fomos liberados, mas quando retornamos para o abrigo, depois de sair da delegacia, levaram a gente para um contêiner fechado e disseram que a gente tinha que ir pegar nossas coisas e ir embora. Nossas famílias tentaram impedir, mas todos foram ameaçados, caso insistissem em lutar a nosso favor”, acrescentou.

Uma das instituições que realiza um trabalho direto com os imigrantes informou à Folha que vai levar os três homens ao Ministério Público Federal (MPF) para serem ouvidos no Ofício de Indígenas e Minorias para pedir uma investigação do que, de fato, aconteceu. (J.B)

Setrabes e Exército se manifestam
sobre a expulsão dos Indígenas

Tanto a Secretaria Estadual do Trabalho e Bem-Estar Social (Setrabes) quanto o Exército Brasileiro se manifestaram em relação à ocorrência e à expulsão dos três imigrantes do Abrigo. Como a Setrabes é responsável pela gestão do espaço, a reportagem enviou um pedido de resposta para saber que medidas foram tomadas e sobre a possibilidade de os imigrantes regressarem ao abrigo.

Em nota, a Setrabes reforçou que “os indígenas warao estavam alcoolizados, agrediram os soldados do Exército, desacataram funcionários públicos no exercício de sua função, além de tentarem arrombar o portão do abrigo, subvertendo a ordem e as regras de convívio do local e colocando a vida de outros abrigados em risco”.

“Importante ressaltar que dois dos envolvidos já tinham advertências dentro do abrigo. Após o registro do B.O. (Boletim de Ocorrência), o Comitê Disciplinar do Abrigo, formado pela Setrabes, Exército e Fraternidade, decidiu que, devido à falta grave, os indígenas deveriam deixar o local. Pelas normas do abrigo, os envolvidos não podem voltar ao local, uma vez que foram expulsos”, respondeu.

Já o Exército, também por meio de nota, disse que as medidas foram adotadas e os militares agredidos compareceram à 5ª Delegacia de Polícia Civil para fins de Registro de Ocorrência Policial.

Sobre a expulsão dos indígenas, a assessoria do Exército enfatizou que militares das Forças Armadas apoiam as atividades de segurança física e guarda do Abrigo, fornecem gêneros alimentícios para alimentação dos abrigados e, também, cooperam com visitas médicas diárias volantes e prescrição de medicamentos aos que necessitam.
Informou ainda que a ONG Fraternidade Federação Humanitária Internacional e a própria Setrabes são as responsáveis pela gestão humanitária dos indígenas abrigados, bem como realizam a admissão de novos integrantes e as eventuais exclusões do abrigo, como foi o caso em questão. (J.B)