Cotidiano

Homem é maioria entre imigrantes

As calçadas do comércio adjacente à Rodoviária e à Praça Simon Bolívar são pontos de concentração de imigrantes

Um dos primeiros pontos de concentração dos imigrantes venezuelanos na chegada a Boa Vista, a Capital de Roraima, foi a Rodoviária Internacional. Depois de um tempo eles foram impedidos de ocupar o local e tomaram conta da Praça Simon Bolívar, localizada nas proximidades. O espaço foi fechado pela Prefeitura de Boa Vista para reforma e os imigrantes que ali viviam de forma precária, foram direcionados para abrigos. 

No entanto, o fluxo migratório é constante e as calçadas tanto da Rodoviária, quanto do comércio adjacente à Praça Simon Bolívar, passaram a ser o abrigo destes imigrantes que chegam a todo o momento. Ao passar pela região após as 18 horas, quando os estabelecimentos fecham as portas e a noite toma conta da cidade, é possível ver os acampamentos se montando com barracas, colchões e malas utilizadas de forma improvisada como travesseiros. 

Ao olhar um pouco mais de perto, é possível ver que a maioria destes imigrantes são homens com aparência jovem, que variam dos 18 aos 30 anos de idade. Este é o caso de José Garcia, de 27 anos, que deixou na cidade de Sucre a esposa e um filho de 10 anos de idade. No país natal, ele trabalhava como agricultor, pedreiro e qualquer outro serviço que o permitisse colocar dinheiro em casa. 

“Decidi deixar minha cidade e tentar a sorte no Brasil porque lá não temos nem comida. Cheguei aqui no dia 14 de julho, até o momento não consegui nenhum trabalho, mas o dinheiro que eu pegar, vou mandar para a minha família para que eles não passem necessidades. Quando conseguir um bom trabalho e um teto para morar, quero trazê-los para perto de mim, pois não acredito que a vida na Venezuela vá melhorar tão cedo”, declarou. 

Garcia afirmou que na chegada ao Brasil, ele preencheu um cadastro, fez um registro, mas relatou dificuldades em encontrar uma vaga em um abrigo. “Eles me disseram que os abrigos estavam todos lotados, em suas capacidades máximas, mas que se eu tivesse acompanhado da minha família as chances seriam maiores, porém não pretendo trazer eles para viver em um abrigo aqui. Vou esperar as coisas melhorarem para mim. Enquanto isso, vou ficando pelas ruas mesmo até surgir uma vaga”, afirmou. 

Essa é mesma situação enfrentada por Antony Marques de 27 anos, que veio para Roraima com o irmão Gregory Marques de 22. “Quando chegamos também passamos pelo mesmo processo, fizemos o cadastro, tomamos vacinas e viemos para Boa Vista, mas sem garantia de que conseguiríamos uma vaga em um abrigo. Acredito que em um abrigo seria mais fácil conseguir um trabalho. Enquanto isso, vamos levando a vida como dá, fazendo serviços aqui e acolá. Uma hora a situação melhora. Só não quero precisar ficar pedindo esmola”, disse empolgado na esperança de melhorias futuras. 

Exército diz que abrigos para homens solteiros estão lotados 

Em nota enviada à Folha de Boa Vista, a Força-Tarefa Logística Humanitária informou que foi inaugurado no dia 20 o abrigo Rondon 1 que possui perfil de famílias com crianças e idosos que estavam em situação de vulnerabilidade nas ruas da cidade de Boa Vista ou no Pátio da Igreja Consolata.

Também encaminhou mais de 90 homens, mulheres e casais sem filhos para os abrigos Latife Salomão e Santa Tereza, respeitando a capacidade de lotação dos mesmos. Todas as vagas e disponibilidade dos abrigos estão sob coordenação do Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (Acnur). Novos abrigos estão em fase de construção em Boa Vista e Pacaraima.

DIFICULDADE – Enquanto setores se dedicam à acomodação dos que chegam sem parar, esses demonstram angústia por não encontrarem de imediato os meios de sobrevivência, independente da estrutura de apoio. 

Natural da cidade de Valência, Juan Velasquez, 38, se disse frustrado por não ter como socorrer o restante da família que ficou para trás. Sabedor das dificuldades que poderia encontrar argumenta que alimentava a expectativa de encontrar alguma facilidade. 

“Sabia que muitos venezuelanos estão aqui à procura de emprego. Esperei que pudesse ter um pouco mais de sorte. Mesmo assim, vou continuar na luta em busca de recursos para ajudar minha família que ficou lá”, comentou.

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