Cotidiano

Há 2 meses em greve, professores da UFRR fazem manifestação

Docentes da Sesduf pedem a reestruturação da carreira, valorização salarial, melhores condições de trabalho e defendem o caráter público da universidade

Ontem, 27, representantes da Seção Sindical dos Docentes da Universidade Federal de Roraima (Sesduf-RR) se manifestaram na Praça do Centro Cívico em acordo com o movimento nacional da categoria. Os professores participaram de ato unificado junto a docentes da Educação Básica estadual, que também estão em greve.

Entre as reivindicações, os servidores, que estão em greve desde o dia 1º de julho, cobram a reestruturação da carreira, valorização salarial entre servidores ativos e aposentados, melhores condições de trabalho e defendem o caráter público e autonômico da instituição.

A presidente da Sesduf-RR, professora Sandra Buenafuente, explicou que o movimento de greve local foi à praça para que os servidores pudessem se aproximar da sociedade e expor os pontos da luta da categoria. “Defendemos a qualidade da Educação do ensino público. Por isso, a UFRR está na praça apoiando esta luta, que é do interesse de todos”, afirmou.

Segundo a presidente da seção, o ponto principal sobre o caráter público da Educação é uma questão inadiável, que independe do fato de o Governo Federal centrar as exigências somente no âmbito salarial. “Somos contra a contratação de professores através das OS [Organizações Sociais], contra o transpasso de recursos para o setor privado em detrimento do setor público e queremos mais projetos na área da Educação pública”, frisou.

Buenafuente lembrou que outro ponto importante da luta da categoria se trata das condições de trabalho dos docentes, que buscam, através da ampliação e efetivação de projetos, mais salas de aula e contratação de professores.

Sobre a autonomia universitária, a professora acredita que muitas vezes, embora garantida pela Constituição Federal, a mesma é relativa. “Os recursos são repassados de maneira instável e as decisões das entidades são tomadas de acordo a interesses de gestões. Pedimos autonomia de acordo com as especificidades de cada região, e que cada professor possa votar nos conselhos, para que as decisões promovam o crescimento da instituição federal”, explicou.

O último ponto trata da valorização salarial de servidores ativos e aposentados. A presidente da Sesduf relatou que a categoria vem acumulando perdas históricas porque o Governo Federal não cumpre a reposição inflacionária de acordo com data-base anual. “Não temos isso. Colocamos uma proposta com índice de todos os servidores públicos federais do País de 27,3%, que o Governo não aprovou; logo, apresentaram outra proposta de 21,3% em quatro anos, sem considerar as perdas entre os anos de 2010 a 2015”, disse, acrescentando que o Executivo federal ainda fez uma projeção de inflação 50% abaixo do limite real que a categoria tem como efetiva.

“Aceitar o que o Governo propõe é reconhecer a perda e achatamento dos nossos salários e dos nossos direitos, coisas que dão dignidade à nossa carreira. Nós trabalhamos, contribuímos e queremos que a Educação seja valorizada. Isso implica em lutar inevitavelmente por nossos direitos. O Governo tem de começar a valorizar o setor”, declarou.

APLICAÇÃO – Apesar do calendário suspenso na UFRR, os professores da Escola de Aplicação decidiram retornar às atividades ontem. Desde o dia 11 de agosto, os professores da Aplicação aderiram à greve. “Os professores da Escola de Aplicação têm uma especificidade diferente. O EBTT [Ensino Básico, Técnico e Tecnológico] é diferenciado. Entendemos a posição, mas ao mesmo tempo a lamentamos, pois esta é uma luta única. Estamos agradecidos de qualquer maneira”, afirmou Sandra.

AGENDA – Além das atividades na Praça do Centro Cívico, o sindicato estará definindo a política organizativa da agenda para a próxima semana. Hoje, a Sesduf terá uma atividade no Diretório Central dos Estudantes (DCE) da UFRR, explicando os motivos de a universidade ter paralisado suas atividades docentes. “Vai ser um momento importante para reconhecer a luta dos alunos que também contribuem muito para o movimento. Por isso, convido a todos da comunidade acadêmica para participar deste debate às 18h30, no DCE da UFRR”, afirmou.

MOVIMENTO – No que se refere à atuação do movimento da Sesduf, Sandra Buenafuente esclareceu que a entidade rechaça movimentos políticos que considera oportunistas em função da crise, do ajuste fiscal e da instabilidade política e econômica que o Brasil atualmente vive. “Nós, da Sesduf e do comando local de greve representamos uma categoria de professores diversa. O nosso sindicato está aqui para defender os direitos dos próprios servidores diante das imposições e medidas que vulnerabilizam a nossa categoria. Neste sentido, não reconhecemos ninguém que atrele nossa luta a movimentos alheios”, disse.

A presidente lembrou que apesar de entender que os professores afiliados ao sindicato são livres para seguirem quaisquer filosofias ou políticas que julguem adequadas, a Sesduf não tem adesão a reivindicações isoladas em prol de outras reivindicações. “Qualquer professor tem o direito de seguir o que lhe pareça conveniente. O que não julgamos correto é a utilização do nome do sindicato e da coletividade que ela representa”, pontuou. (JPP)