Política

Funai retomará conversa com os índios somente em setembro

Presidente da Funai informou à governadora Suely que índios estão de luto e que está aguardando passar esse período para retomar diálogo

Em Brasília para tratar de diversos assuntos de interesse do Estado, a governadora Suely Campos (PP) se reuniu ontem, 17, com o presidente da Fundação Nacional do Índio (Funai),  Franklimberg Ribeiro de Freitas, na sede do órgão. Entre os principais assuntos tratados na audiência, o destaque foi a passagem do Linhão de Tucuruí pela Terra Indígena Waimiri-Atroari, que se estende por Roraima e Amazonas. As obras estão paradas porque existe a necessidade de anuência dos indígenas.

A governadora explicou que a questão energética sempre foi uma preocupação e que atrasa o desenvolvimento econômico do Estado. A Venezuela é a responsável pelo fornecimento de energia elétrica por meio do Linhão de Guri e, nos últimos dias, voltou a despertar na população o sentimento de insegurança, diante dos apagões: foram pelo menos cinco nos dias 14 e 15 deste mês.

“A população vive assombrada pelo fantasma do apagão, pois 72,2% da energia consumida em Roraima são comprados da Venezuela, que enfrenta a maior crise econômica e humanitária da região. Os outros 27,8% são fornecidos por quatro usinas termelétricas caras e poluentes, mantidas pela Eletrobrás. Todo mês, elas consomem 6 milhões de litros de óleo diesel, ao custo de R$ 20 milhões”, disse Suely.

Por outro lado, a insegurança energética atrapalha o desenvolvimento do Estado, que tem elevado potencial para o agronegócio, uma vez que os investidores não querem arriscar produzir onde não há energia confiável e em abundância. Guri abastece Boa Vista, além de outros nove dos 15 municípios roraimenses: Cantá, Rorainópolis, Alto Alegre, Mucajaí, Caracaraí, Pacaraima, Bonfim, Iracema e São Luiz, todos, interligados ao sistema de transmissão venezuelano.

“Precisamos garantir a continuidade das obras do Linhão de Tucuruí para que, enfim, Roraima passe a fazer parte do Sistema Interligado Nacional. O presidente da Funai se mostrou sensível ao problema e informou que já solicitou da comunidade Waimiri-Atroari uma audiência para consultar os índios sobre a continuidade dos estudos e retomada da obras”, explicou a governadora.

Ela ressaltou que os Waimiri-Atroari ainda estão de luto pela morte do líder indigenista Porfirio Carvalho, no dia 13 de maio, aos 70 anos. A informação prestada pelo presidente da Funai é que, tão logo encerre esse período de luto, os indígenas vão receber a equipe da Funai para dar continuidade às tratativas.

Suely Campos ponderou que somente 250 torres do Linhão de Tucuruí irão passar pelos 135 km da reserva e que essas estruturas serão colocadas na faixa de servidão da BR-174, o que não trará nenhum prejuízo ambiental.

Franklimberg Ribeiro disse que em setembro retomará as tratativas com os indígenas e que na semana passada teve reuniões sobre Tucuruí na Casa Civil da Presidência da República. “Vamos dar atenção ao caso”, frisou. Ele disse que participará da audiência com os índios para explicar detalhadamente todo o projeto e sua importância para Roraima e o País.

Em 2015 a governadora Suely Campos foi recebida pelos índios Waimiri-Atroari para tratar do tema. “É uma questão simples de se resolver. Depende apenas de vontade política”, disse ela, à época.

TUCURUÍ – Em 2011, a Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) realizou o leilão para construção do Linhão de Tucuruí entre Manaus e Boa Vista, ao custo de R$ 1,5 bilhão. O Consórcio TransNorte, formado pelas empresas Alupar e Eletronorte, venceu a licitação, com prazo para entregar a obra energizada em janeiro de 2015.

Contudo, passados seis anos, a linha de transmissão não saiu do papel porque a Funai nunca autorizou a passagem do linhão pelos 125 quilômetros da Terra Indígena Waimiri-Atroari, localizada ao norte do Amazonas e ao sul de Roraima.

O trajeto da linha de transmissão prevê a implantação de 250 torres exclusivamente na faixa de domínio da preexistente rodovia BR–174, que liga Manaus a Boa Vista, área que não pertence ao perímetro da terra indígena.

ANZOL E PIRITITI – Na audiência com o presidente da Funai, Suely também demonstrou preocupação com a possível demarcação de novas terras indígenas em Roraima, como a do Anzol e Pirititi. Ela destacou que as áreas possuem muitos produtores rurais, alguns, que vivem há mais de 50 anos na região.

Franklimberg Ribeiro disse que, em relação à comunidade do Anzol, ainda não há nenhuma formalização junto à Funai, pela Justiça, de qualquer decisão para criação de terra indígena. Sobre Pirititi, o presidente da Funai afirmou que os estudos ainda estão sendo elaborados.