Cotidiano

Familiares de pacientes de UTIs são vítimas de estelionatários

Golpistas fazem ligações para familiares dos pacientes se passando por médicos e tentam tirar dinheiro das vítimas

Golpistas estão usando nome de médicos do Hospital Geral de Roraima (HGR) para cobrar procedimentos médicos, como exames e cirurgias, dos familiares dos pacientes internados na unidade hospitalar. Somente esta semana, ao menos quatro pessoas afirmaram que foram assediadas pelos estelionatários.

O golpe já vem sendo praticado em diversos outros estados há vários meses. As vítimas relataram que receberam ligações de pessoas cobrando R$ 1,5 mil, R$ 2 mil e até R$ 3 mil para que seus familiares internados nas duas Unidades de Terapia Intensiva (UTIs) do HGR continuassem recebendo tratamento.

À Folha, o filho de um paciente que está internado na unidade relatou como funciona o golpe. “Eles [golpistas] ligaram de um número de outro Estado, mas de alguma forma sabiam tudo sobre meu pai. Disseram que ele precisava de um medicamento específico que não era dado pelo hospital e que custaria um certo valor. Eu desconfiei e desliguei na hora”, disse.

O familiar, que preferiu não se identificar, afirmou que registrou Boletim de Ocorrência sobre o caso e comunicou o hospital sobre a fraude. “Eu procurei a polícia, porque é algo muito sério. A pessoa que me ligou se passou pelo médico que atende meu pai e sabia tudo sobre ele. Fiquei espantado com essa situação”.

Segundo servidores do HGR, pelo menos uma família teria caído no golpe dos criminosos e depositado R$1,5 mil em uma conta bancária. “Eles ligaram para essa pessoa dizendo que um familiar dela, que estava internado, precisava fazer um exame em uma clínica particular e ela acabou fazendo o depósito”, denunciou um servidor.

A Folha tentou ligar para um dos números de telefone pelo qual os golpistas entraram em contato com as vítimas. O número de discagem direto à distância, (DDD) 67, é do Estado do Mato Grosso do Sul e as ligações não completaram.

Um dos profissionais que estaria tendo o nome utilizado pelos bandidos para encobrir a farsa é o médico infectologista Mauro Asato. Ele informou que não faz contato com familiares de pacientes por telefone. “Nenhum médico entra em contato com a família dessa forma, isso não existe. A gente não costuma dar orientação por telefone e todo o procedimento é tratado diretamente na unidade”, ressaltou.

O médico afirmou não saber como os bandidos conseguem informações pessoais das vítimas. “Pode ser que muitos fiquem na frente do hospital perguntando a familiares e, quando ligam, chutam os nomes”, disse.

A polícia ainda não sabe como os estelionatários estão obtendo os contatos de referência dos pacientes que estão em situação mais delicada na internação do hospital. A apuração deve descobrir se o sistema do hospital foi invadido por hackers ou se houve algum vazamento interno.

Sesau faz alerta sobre golpe

Depois da denúncia feita pela Folha e diante dos relatos de acompanhantes de pacientes internados no HGR, que receberam ligações solicitando depósito de quantias em dinheiro para custear a realização de exames de seus familiares internados na unidade, a Secretaria Estadual de Saúde (Sesau) afirmou que se trata de uma ação criminosa e que o golpe está sendo aplicado até mesmo em outras cidades do País.

A Sesau esclareceu que o HGR é um hospital público, com todos os seus serviços prestados à população por meio do Sistema Único de Saúde (SUS), de maneira totalmente gratuita.

Destacou que, em caso de situações similares, em que aconteça cobrança de valores por qualquer serviço de saúde pública, seja registrado um boletim de ocorrência na Delegacia de Polícia Civil mais próxima, para que sejam tomadas as medidas cabíveis contra os criminosos. “O HGR também está aberto para orientar os usuários vítimas do golpe, o que pode ser feito na direção da unidade”, frisou. (L.G.C)