Cotidiano

Familiar de paciente reclama de falta de material e do atendimento no HGR

Denunciante que acompanha a avó de 78 anos afirma que no HGR não tem algodão, gaze e nem remédio para hipertensão

A acompanhante de uma paciente internada no Hospital Geral de Roraima (HGR) denunciou à Folha a falta de material, medicamentos e de assistência humanizada por parte dos funcionários. A estudante do curso Técnico em Enfermagem, Luciana Pinheiro Santana, que está acompanhando, há uma semana, a internação da sua avó, de 78 anos, que sofreu um Acidente Vascular Cerebral (AVC), contestou a informação do Governo do Estado que divulgou, há menos de um mês, o abastecimento de medicamentos das unidades de saúde.

“Lá não tem nada, não tem algodão, não tem gaze, não tem medicação para hipertensão. Tudo isso os pacientes tem que ficar comprando. Não tem aparelho para verificar pressão, não tem termômetro para verificar temperatura”, complementou. Segundo Luciana, o atendimento dos profissionais tem até influenciado no estado de saúde da sua avó.

“Por falta de assistência da enfermagem, aquelas ações diárias para fazer mudança de posição, a minha avó já está cheia de lesões no corpo, na perna. Ela não está se mexendo, ela não vira, não fala. É muito complicado. Eles falam que não podem fazer o procedimento por falta de material e aí a gente vai e compra o material. Quando está com o material, eles falam que não podem ir porque tem muita gente para atender e acabam não fazendo o serviço”, criticou.

ATENDIMENTO – Outra reclamação de Luciana são os serviços oferecidos por médicos, enfermeiros e técnicos de saúde que atendem no HGR. “Eles não trocam os curativos como tem que fazer, passam do horário. Foram dar o remédio da pressão duas horas depois do recomendado. Outra vez uma profissional gritou bem alto lá na sala: ‘A sua avó está em estado terminal, ela não vai melhorar daí não’. É uma falta de humanização e responsabilidade”, criticou.

“Os profissionais são mal-educados, grosseiros, tratam a gente mal. Às vezes, a gente tem até que falar mais alto. Chegou a ter situações de discutir com o profissional porque a gente estava pedindo um auxílio e eles estavam conversando. Ficam apontando um para o outro ir, mas não vão. Quando vão, é de cara feia, de mau humor. Isso não é só da enfermagem, os médicos às vezes entram lá e não olham nem na cara da gente”, protestou Luciana.

ATRIBUIÇÕES – Uma das situações relatadas pela acompanhante foi o repasse de atribuições dos profissionais para os familiares dos pacientes. “Eles designam ações para o acompanhante, como desligar o soro, ajustar o oxigênio, sendo que eles não têm a técnica para fazer. Até o banho no leito. Lógico que tem acompanhante que prefere realizar, mas no caso da minha avó, ela é bem pesada e não dá. Pedem que a gente dê banho nela sozinha. Quando eles pedem para a gente colaborar, a gente faz e, quando a gente pede para eles irem lá com a gente, eles não vão”, reclamou.

A estudante explicou que, por conta dos acontecimentos e reclamações, chegou a procurar a direção do hospital e foi atendida, porém a situação só piorou. “A diretoria foi lá no setor, conversaram e tudo. Depois eles largaram o posto de enfermagem, foram embora. Foi tipo: ‘reclamou, agora vai ficar sozinha’. É cansativo. Se não houver uma melhora na assistência, uma intervenção, a gente vai ser obrigada a entrar com uma medida judicial”, frisou.

“Eu sei que tem muita gente que está fadigada, por tirar plantão, mas isso não justifica o fato de fazer um atendimento ruim. A gente não está pedindo que façam um milagre para que a minha avó fique boa logo, mas que pelo menos proporcione um conforto maior para ela nesse momento em que ela está, tão delicado. Se acontecer de ela não resistir, isso é Deus quem decide, mas o profissional tem que proporcionar o máximo de bem estar para o paciente”, complementou.

Sesau diz que vai apurar denúncia

A Sesau informou que a direção do HGR já está em contato com a família da paciente para colher informações a fim de apurar os fatos apresentados. “Nem a direção da unidade nem a Sesau compactuam com quaisquer desvios de conduta, ocorridos no hospital, por isso irá investigar cautelosamente as reclamações da família e irá responsabilizar os envolvidos, se for constatada negligência no atendimento”, informou.

Com relação à participação da família nos cuidados com o paciente, a Sesau informou que isso faz parte do tratamento de pacientes crônicos. “Como estes cuidados terão de ser realizados em casa após a alta hospitalar, a equipe assistencial já inclui os familiares nestes cuidados ainda no período de internação”.

Sobre o medicamento utilizado pela paciente, a Sesau esclareceu que uma empresa já está sendo contratada para o fornecimento, que deve começar a ser regularizado “nos próximos dias”. Quanto à demanda de pacientes, a Sesau informou que tem dado atenção especial para o HGR, que para muitos casos mais complexos, é a única unidade de referência no Estado. “Ao todo, já foram investidos mais de R$ 10 milhões só em equipamentos para unidade, além de diversos reparos na estrutura física”, destacou.

O Governo do Estado reforçou que tem trabalhado na valorização dos profissionais de saúde, tendo colocado enquadramentos e progressões em dia, ampliado a Gratificação de Assistência Específica para os profissionais que atuam nos blocos, os quais que passaram a contar com um acréscimo de 12% nos salários, e incorporando a Gratificação Permanente de Atividade Médica aos salários dos médicos.

“Os profissionais também têm participado de capacitações que visam tornar o atendimento mais humano, melhorando o atendimento para a população”, acrescentou. “A tendência é melhorar ainda mais com a conclusão do anexo do HGR, que deverá reduzir a quase zero as filas de espera. A unidade também será beneficiada com a inauguração do Hospital das Clínicas, que deverá desafogar a demanda e acabar com os leitos nos corredores”.

Por fim, afirmou que os pacientes que sentirem prejudicados durante atendimentos nas unidades de saúde do Estado podem procurar a Ouvidoria da unidade ou a direção das unidades para que os profissionais responsáveis possam providenciar as soluções mais rápidas possíveis para garantir uma solução para os problemas apresentados, para tornar o acolhimento à população cada vez melhor. (P.C.)