Cotidiano

Facção Criminosa usa fronteira da Venezuela para contrabandear fuzis AK-47

De origem russa, o fuzil AK-47 não faz parte do armamento utilizado pelas Forças Armadas e pelas polícias no Brasil

A fronteira entre o Brasil e a Venezuela vem sendo usada não apenas por refugiados que escapam da crise no país de Nicolás Maduro, mas também para negociações clandestinas que ligam a maior organização criminosa do país, o Primeiro Comando da Capital (PCC), a traficantes venezuelanos de armas e drogas.

Documentos de investigações sigilosas conduzidas pela Polícia Civil do estado e transcrições de interceptações telefônicas entre presidiários de São Paulo e de Roraima, mostram pela primeira vez, que a fronteira venezuelana tornou-se uma rota de negociação de armamentos pesados para o tráfico de drogas.

Os grampos telefônicos, feitos com autorização judicial em setembro do ano passado, captaram uma negociação entre um representante do PCC de São Paulo e um integrante da facção em Roraima. De um lado da linha telefônica estava o membro da organização criminosa identificado como “Jaçanã”, detido no sistema prisional paulista. Do outro, o traficante identificado como “Toni Caolho”, preso na Penitenciária Agrícola de Monte Cristo, na zona rural de Boa Vista. Sem bloqueadores de celulares, o presídio de Roraima é um escritório avançado do PCC em linha direta com a sede da facção.

Na conversa captada no dia 4 de setembro, às 21h, eles trataram da compra de fuzis e drogas vindos da Venezuela para serem revendidos na região de Santos, no litoral paulista. Em determinado momento, Jaçanã pergunta sobre armamentos de calibre mais grosso a Toni Caolho. O preso em Boa Vista responde: “Os mais grosso (sic), eu tô chegando lá, mano! Eu tô chegando já ali nas AK-47! O cara disse que vai tá mandando umas fotos pra mim essa semana aí. Tamo aqui pesquisando os preço (sic), mano”.

Armas do exército venezuelano

De origem russa, o fuzil AK-47 não faz parte do armamento utilizado pelas Forças Armadas e pelas polícias no Brasil, mas compõe o arsenal utilizado pelo exército venezuelano. Milícias e guerrilhas como as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc) também possuem a arma. Com o declínio do regime de Maduro, o fluxo de armas na região aumentou, segundo autoridades.

O diálogo interceptado surpreendeu pelo tipo de armamento negociado, nunca antes encontrado em Roraima. A informação do grampo poderia ser um elemento solto, uma vez que a conversa entre dois presidiários não se traduziu na compra efetiva. Mas confirmou as suspeitas que os investigadores levantaram três meses antes, quando prenderam um casal de venezuelanos que estava traficando drogas no Brasil em um carro de placa do país vizinho.

Ao ser detida, a taxista venezuelana Yudith del Carmen, de 41 anos, confessou que fazia viagens para trazer drogas ao Brasil a pedido de traficantes venezuelanos. Ela revelou algo a mais: que recebia muitos pedidos via WhatsApp de presos brasileiros em Roraima com fotos de armas que eles queriam que fossem trazidas do país vizinho. A rota fora descoberta, o que explicou o aumento de apreensões no estado.

Com informações de O Globo