Cultura

Exercício físico como adjuvante no tratamento da dependência de álcool

A prática mostra-se imprescindível com evidências concretas no contexto do processo de recuperação do dependente

O uso e o abuso constante de bebidas alcoólicas e a falta de controle pode se tornar um caso de doença e é um problema de saúde pública. O consumo excessivo do álcool conduz a altos índices de morbidade, e mortalidade, em diversos países. Nessas situações, é preciso buscar ajuda profissional o mais rápido possível.

A Semana Nacional Contra o Alcoolismo, que acontece de 18 a 22 de fevereiro, surgiu com o intuito de alertar a população sobre a doença. A semana traz diversas ações e discussões de como prevenir e diminuir o seu consumo abusivo, pois esta é uma forma simples de prevenir doenças graves e mostrar quais são as implicações físicas e mentais que o álcool faz e traz ao organismo da pessoa com esta dependência.

Já é de amplo conhecimento que os exercícios físicos liberam na corrente sanguínea substâncias durante e depois de sua prática (as endorfinas e os opioides endógenos) que proporcionam a sensação de bem-estar, euforia e relaxamento.

Deste modo, a sua prática como adjuvante no tratamento do alcoolismo mostra-se imprescindível com evidências concretas no contexto do processo de recuperação, visto que o abuso do álcool vem aumentando a cada ano e as pessoas têm iniciado o seu consumo cada vez mais cedo. Segundo o educador físico e especialista em saúde mental, Eduardo Rocha, da Movimente Reabilita, a prática de exercício físico pode ser vista como uma ferramenta para reabilitar e promover saúde integralmente em contrapartida dos efeitos nocivos causados pelo abuso/dependência do álcool.

“A prática de exercícios físicos como adjuvante no tratamento do alcoolismo é uma ótima maneira de complementar e potencializar o tratamento das dependências químicas e dentre elas, a dependência do álcool”, afirma.

O especialista explica que durante o processo de desintoxicação o paciente entra em contato com diversas alterações no âmbito físico e mental, como por exemplo, fraqueza muscular, perda e/ou aumento de apetite, alterações do sono e do humor.

Portanto, os benefícios que os exercícios físicos sistematizados e supervisionados trazem fazem toda a diferença. “Além de melhorar o condicionamento físico, a auto eficácia e de elevar a autoestima, aprática de exercícios sistematizados diminui a ansiedade, e a irritabilidade, que são sensações frequentes neste processo muitas vezes difícil, porém não impossível para aqueles pacientes que conseguem perceber que o seu tratamento passa pela esfera do controle dos impulsos (mente) e reabilitação corpórea”, observa.

Eduardo Rocha enfatiza também que qualquer tipo de atividade física alivia o estresse, diminui a ansiedade e proporciona a sensação de bem-estar. “Os exercícios aeróbios são os mais indicados para a maioria dos transtornos psiquiátricos dentre eles o uso de álcool e drogas, uma boa indicação de exercício aeróbio seria iniciar com a caminhada acima de 40 minutos e chegando até a 1 hora de atividade contínua, logo após um período de adaptações fisiológicas que podem durar de 4 a 8 semanas – é muito interessante começar a fazer caminhadas intercaladas com breves corridas de leve a moderada intensidade. Um treino de corrida de 30 minutos, por exemplo, melhora o humor, o entusiasmo, a energia e o engajamento nas atividades cotidianas. A natação, a dança, as lutas e outras modalidades também são alternativas positivas”, destaca.

Como identificar um dependente em álcool

A dependência alcoólica é considerada uma doença, em que o paciente sofre de um transtorno mental e perde o controle do uso do álcool, o indivíduo tem sua vida psíquica, emocional e física gravemente prejudicadas.

Por isso, no caso de obsessão por qualquer tipo de droga, a pessoa precisa de tratamento e de ajuda competente e adequada. “Geralmente, a família e outras pessoas que convivem com o dependente de álcool percebem mudanças no comportamento da pessoa. Além disso, o uso de bebidas alcoólicas causa alterações no metabolismo orgânico, manifestando quadros de ansiedade, irritação, incapacidade de dormir normalmente, isolamento e consumo constante e sem controle”, diz.

Para o especialista, o exercício físico faz a pessoa se sentir melhor, mas ela nem imagina o porquê. “A verdadeira razão da sensação de bem-estar é que faz o sangue bombear e isso faz o cérebro funcionar ao máximo.

Digo rotineiramente a meus pacientes que o mais importante no exercício físico é desenvolver e condicionar o cérebro. O benefício do exercício físico como adjuvante no tratamento do dependente de álcool é bem mais importante e fascinante do que o que ele faz pelo corpo.

“O cérebro reage como os músculos: ele cresce com o uso e atrofia com a inatividade. Os neurônios no cérebro se conectam uns aos outros por meio de ‘folhas’ em ramos semelhantes aos das árvores, e o exercício físico faz com que esses ramos cresçam e floresçam, aumentando assim, a função cerebral num nível fundamental”, conclui.