Cotidiano

Engenheiro roraimense cria gerador de energia que utiliza o gás metano

Invento provoca uma combustão interna utilizando apenas óleo vegetal e gás metano, reduzindo custos e a emissão de poluentes

Investir em fontes alternativas de geração de energia com baixo custo financeiro tem sido cada vez mais uma necessidade para as grandes cidades do mundo. Com uma crise hídrica cada vez mais acentuada, potencializadas por efeitos do gás estufa, a preocupação ambiental também tem pesado nessa busca por matrizes energéticas mais seguras.

Pensando isso, o engenheiro roraimense Jamil Lima, de 58 anos, desenvolveu um invento capaz de produzir energia limpa, eficiente e com baixo teor de poluição. Uma invenção inédita, que utiliza óleo vegetal e gás metano como combustível.

Professor de Ciências Exatas do Centro de Formação de Professores do Estado de Roraima (Ceforr), ele disse que o experimento foi a base para a formulação de seu doutorado em ciências mecânicas pela Universidade de Brasília (UnB). O projeto consumiu nove anos para virar uma realidade.

“Por esse trabalho ter sido muito relevante, inclusive a própria Petrobras passou a utilizar o equipamento para teste em motores e utilização de combustíveis da sua rede petrolífera, a UnB me convidou para retornar para o doutorado e, nisso, a minha missão foi desenvolver uma máquina térmica capaz de produzir energia, utilizando outro tipo de fonte que não fosse o diesel”, afirmou.

Para que os resultados fossem satisfatórios, o especialista realizou um estudo aprofundado sobre atomização do combustível. O desafio do projeto era verificar a possibilidade da execução de uma combustão interna por meio da adoção de óleo vegetal e de gases metano, material comumente encontrado no gás de esgoto.

“Como em Brasília nós temos as lagoas de resíduos de esgoto e há mecanismo de coleta desse tipo de material, que são transferidos para cilindros, decidimos utilizar esse gás para criar essa combustão. Fizemos algumas alterações no motor desse experimento e nisso realizamos a penetração de uma pequena porção de óleo vegetal, que provoca o que chamamos de ‘chama piloto’. A partir do momento em que você tem uma compressão do motor para o ciclo diesel, atinge-se uma temperatura de até 800°. Em um motor convencional, o bico injetor adiciona o óleo diesel, fazendo com que ocorra a combustão, que dá o prosseguimento da transformação da energia térmica em energia mecânica. Só que, ao invés de utilizar o diesel, leva-se a adesão de uma pequena quantidade de óleo vegetal combinado com esse gás metano”, explicou.

Para obter melhor resultado do experimento, o pesquisador utilizou também um equipamento chamado autocad, o que permitiu filmar todas as etapas da atividade, da injeção do combustível até a produção da energia.

Isso ajudou o profissional a ter a exata noção das falhas na emissão da combustão, além de controlar a concentração de poluentes presentes no processo.

“Com todo esse detalhamento em autocad, que permite ver o processamento em imagem dessa combustão, foi possível controlar a quantidade de poluentes desta combustão. Só para se ter uma ideia, com esse detalhamento foi possível diminuir a toxidade de poluentes em 15%, se compararmos o mesmo processamento utilizando o óleo diesel como combustível. Ou seja, é uma redução bastante relevante”, frisou.

Para o pesquisador, a ideia poderá ser a solução para muitas cidades, principalmente para a região Norte, que carece de matrizes energéticas. “Com isso, nós obtivemos resultados bem satisfatórios, em que cai a necessidade de utilizar 100% de óleo diesel para criar energia mecânica graças à adesão do gás metano. Simplificando isso ainda mais, esse mecanismo utiliza apenas 18% de óleo vegetal e outros 82% são acrescidos pelo uso de gás metano. Além de ser uma matriz energética acessível, principalmente para regiões de difícil acesso como a nossa, o material utilizado tem baixo teor de poluição, e isso contribui para o meio ambiente”, destacou. (M.L)