Cotidiano

Em Manaus, índios venezuelanos dizem que 'Venezuela acabou'

"Crise econômica está destruído as famílias", relata a população indígena

Sem comida e sem esperança no futuro da Venezuela, centenas de índios venezuelanos encontraram em acampamentos precários nas ruas de Manaus ao menos uma oportunidade de se alimentar e a expectativa de obter ajuda, após deixarem o seu país em meio a uma grave crise econômica e política.

“Viemos aqui para Manaus por necessidade, pela crise econômica, por medicamento… tudo acabou na Venezuela”, disse à Reuters o indígena Abel Calderón, de 32 anos, que viajou com a família para Manaus há cerca de uma semana.

Desde o fim do ano passado ao menos 355 indígenas da etnia warao passaram a morar em diversos pontos da Capital amazonense, como no entorno da rodoviária e no centro da cidade, sobrevivendo de doações e contando com atendimento médico gratuito. Muitos trouxeram artesanatos da Venezuela para vender e trabalham como ambulantes.

A viagem para o Brasil foi a saída encontrada pelos índios waraos, do Delta do Orinoco, diante da grave crise atravessada pela Venezuela, que vive uma escassez severa de produtos básicos e hiperinflação, além de uma crise política que resultou em dezenas de mortos em protestos contra o governo de esquerda de Nicolás Maduro nas últimas semanas.

“A Venezuela acabou, já não contamos mais com a Venezuela”, acrescentou Abel, que vive ao lado de outras dezenas de índios em um acampamento formado por barracas e lonas embaixo de um viaduto na capital amazonense.

A Prefeitura de Manaus decretou estado de emergência social para facilitar o atendimento às famílias de indígenas venezuelanos, entre eles muitas crianças, adolescentes e idosos. Há uma preocupação das autoridades com a possibilidade de disseminação de doenças que podem causar sérios riscos à saúde.

Diante da situação na Venezuela, alguns indígenas sinalizaram a vontade de fixar moradia em Manaus e estariam procurando emprego na cidade, mas a falta de documentação básica tem sido a principal barreira, de acordo com a prefeitura.

Foi feito um pedido à Polícia Federal para auxiliar na emissão de documentos, segundo o secretario municipal da Mulher, Assistência Social e Direitos Humanos, Elias Emanuel. Quando estiverem documentados, os índios poderão inclusive ser inseridos em programas sociais do governo federal, acrescentou.

“A Prefeitura de Manaus está acompanhando o drama dos venezuelanos indígenas waraos desde o dia 5 de dezembro do ano passado… começou aqui com 36 pessoas e hoje Manaus tem 355 indígenas venezuelanos”, disse o secretário à Reuters.

Segundo o secretário, nem todos os venezuelanos pretendem permanecer na cidade, alguns estão em “missão humanitária” em Manaus. “O que eles querem na verdade é conseguir ‘la plata’ (dinheiro) e roupa para socorrer quem está do outro lado da fronteira mergulhado na crise política e financeira da Venezuela”, disse Emanuel. Abel Calderón, no entanto, quer ficar. 

“Somos tristes na Venezuela, lá acabou tudo de tudo, as pessoas estão morrendo de fome. Aqui em Manaus, obrigado ao governo e aos médicos, estão nos atendendo, obrigado”, disse.

“Queremos ajuda para trabalhar e um local para morar. As mulheres querem descansar, e os homens querem trabalhar aqui em Manaus, queremos continuar aqui. Somos pessoas, somos humanos também”.

Com informações do Extra