Cotidiano

Eletrobras diz que apagão ocorreu por falha e falta de combustível

Em nota enviada à imprensa, empresa não deixa bem claros os motivos das “falhas técnicas” nem assume, de forma direta, a falta de combustível

A população de Boa Vista e dos municípios de Alto Alegre, Bonfim, Cantá, Caracaraí, Iracema, Mucajaí, Pacaraima, Rorainópolis e São Luiz do Anauá, que são abastecidos pelo Linhão de Guri, voltaram a sofrer com o apagão que iniciou na tarde de segunda-feira, dia 7, e estendeu-se até a madrugada desta terça-feira, dia 8. A Eletrobras Distribuidora Roraima alegou “falha de equipamentos” e “dificuldade para a compra de combustível”, o que significa que faltou óleo diesel para abastecer os geradores.

A Folha tentou agendar entrevista com a direção da Eletrobras Distribuição Roraima para saber os motivos do blecaute e principalmente se as usinas instaladas no ano passado suportariam a carga da demanda no Estado.

A assessoria de imprensa da empresa se limitou a enviar nota informando que “os desligamentos do sistema Roraima, no dia 07/03/2016, às 16h20 e às 19h30, ocorreram devido à falha de equipamentos na subestação de Las Claritas, na Venezuela”.

A nota informa ainda que as termelétricas da Eletrobras foram acionadas e atenderam parte da carga, priorizando as áreas com serviços essenciais, até que a interligação Brasil-Venezuela fosse normalizada. Após o retorno do fornecimento de energia pelo país vizinho, que ocorreu às 18h57, houve “problemas técnicos” na subestação Boa Vista, no Monte Cristo, que dificultaram a imediata recomposição total da carga, que se deu completamente às 4h54 da madrugada desta terça-feira.

A Eletrobras voltou a ressaltar que as termelétricas estariam aptas a atender toda a carga do sistema Roraima, porém, nesta segunda-feira, dia 07, as usinas estavam em processo de “reabastecimento programado durante toda a noite, o que limitou o atendimento pleno da carga no momento do ocorrido”. Em outras palavras, faltou combustível para alimentar os geradores.

A nota tenta justificar que a falta do reajuste da tarifa de energia de 40,3% para residências e de 43,65% para estabelecimentos comerciais, programada para novembro de 2015 e que foi suspensa por liminar da Justiça, acabou implicando problemas financeiros para a empresa.

“Como informado pela empresa em dezembro de 2015, a não aplicação do reajuste tarifário, impedido por liminar, está impondo enormes problemas à capacidade da empresa para honrar com suas obrigações financeiras, inclusive a aquisição de combustível, dificultando gravemente a disponibilidade plena do serviço de distribuição de energia elétrica”.

A Eletrobras se referiu às medidas judiciais que foram ajuizadas para suspender o reajuste autorizado pela Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel). A primeira decisão judicial foi dada pela Justiça Federal de Brasília, na ação popular ajuizada pela bancada parlamentar de Roraima. A segunda determinação judicial foi em resposta a uma ação cautelar do Procon da Assembleia Legislativa de Roraima. (R.R)

Foram mais de 12 horas de muito sufoco e transtornos

O desligamento no Complexo de Guri, na Venezuela, ocorreu por volta das 16h30 de segunda-feira e causou um apagão na Capital e na maioria dos municípios do Estado que são atendidos com a energia transmitida do país vizinho. Depois, no início da noite, a energia foi restabelecida, mas novamente vários bairros da Capital voltaram a ficar às escuras e a energização completa da rede só foi reestabelecida por volta das 5h da manhã de ontem.

Porém, um novo apagão foi registrado no fim da manhã desta terça-feira, por volta das 12h40 até as 13h30, e novamente causou transtornos à população. A assessoria de comunicação da Eletrobras Distribuição Roraima disse, por telefone, que a empresa ainda aguarda informações sobre o desligamento desta terça e reforçou que não se tratava de um cancelamento programado de energia e que não haveria previsão de novas quedas.

TRANSTORNOS – O apagão de mais de 12 horas provocou uma série de transtornos à população roraimense. Além da falta de luz, o serviço de abastecimento de água foi afetado, bem como o serviço de telefonia e internet. Alguns moradores decidiram dormir ao relento, fora de casa, para escapar do forte calor.

Aneel alerta sobre ressarcimento ao consumidor e silencia sobre problema

À Folha, a assessoria de imprensa da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) alertou sobre as interrupções de energia sofridas ultimamente pelos consumidores roraimenses e que a distribuidora de Roraima tem que cumprir limites de duração e frequência de interrupções impostos pela Aneel.

“A não a observância a esses limites gera pagamento de compensações aos consumidores em suas faturas. Em 2015, foi apurado, até agora, que a empresa pagou R$ 1,7 milhão aos consumidores por descumprir esses limites”, disse.

A assessoria afirmou que a compensação é feita de forma automática na fatura em forma de desconto em até dois meses após a ocorrência da interrupção. “Portanto, não precisa ser solicitada pelo consumidor”, frisou.

Quanto às compensações deste ano, a Aneel afirmou que ainda não tinha números de 2016.

Ainda segundo a Aneel, a previsão é que a interligação de Boa Vista ao Sistema Interligado Nacional (SIN), através do Linhão de Tucuruí de Manaus (AM) a Boa Vista, ocorra em maio de 2018. Questionado pela Folha, a agência não informou quanto foi investido nas usinas termelétricas de Roraima nem o que está sendo feito para melhorar o sistema.

ELETRONORTE – A equipe de reportagem manteve contato telefônico e por e-mail com a assessoria de Brasília da Eletronorte para saber quanto foi investido nas usinas termelétricas, por que o sistema não suporta a carga e sobre o que está sendo feito para melhorar o sistema, mas, até as 18h de ontem, não houve retorno. (R.R)