Cotidiano

EPE faz reunião pública sobre implantação de usina, mas sociedade civil protesta

A Empresa de Pesquisa Energética (EPE) promoveu diversas reuniões públicas entre os dias 23 e 28 de julho

A Empresa de Pesquisa Energética (EPE), vinculada ao Ministério de Minas e Energia, encerrou no sábado, dia 28 de julho, no Palácio da Cultura, uma série de reuniões públicas para divulgar o início dos estudos socioambientais da Hidrelétrica de Bem Querer. O objetivo dos encontros é apresentar as principais atividades previstas na execução do projeto. O encontro contou com a participação da sociedade, onde diversas entidades protestaram contra a construção do empreendimento e clamaram por outras alternativas.

O diretor de Estudos Econômico-Energéticos e Ambientais da EPE, Thiago Barral, afirmou que as reuniões são para informar a população de que forma os estudos serão desenvolvidos, os cronogramas e a maneira como a empresa irá atuar na região. “O estudo está previsto para durar dois anos. São dois anos para fazer o diagnóstico dos impactos ambientais e também de proposição de medidas, programas, ações para reduzir os impactos, controlar os impactos, para eliminar esses impactos ou até compensar esses impactos”, explicou.

O estudo ainda não está elaborado, mas a capacidade esperada pela Hidrelétrica de Bem Querer é algo em torno de 650 megawatts. “Para entender melhor, em Roraima, a potência consumida em todo o Estado é de aproximadamente 200 megawatts. É uma usina que atenderá todo o Estado, com capacidade de trocar energia com o Sistema Interligado Nacional [SIN], por meio de uma linha de transmissão”, detalhou Barral.

Apesar dos dados apresentados pela EPE, a sociedade civil presente no encontro, representada por algumas entidades, se manifestaram contra o empreendimento. O diretor da Colônia de Pescadores Z1, Rafael Pinheiro, afirmou que, referente à questão da sociedade em si, a Usina seria uma boa alternativa devido à segurança energética que ela proporcionaria, porém ressaltou que os impactos não compensam.

“Somos contra a construção dessa hidrelétrica, pois não deixa o pescador desenvolver a sua atividade profissional no recurso hídrico onde ela será feita. Nós que representamos os pescadores, achamos negativo, serão uma série de impactos para a classe. Existe um estudo que afirma que a primeira espécie a sumir seria o peixe de pele, que tem um valor comercial estupendo no comércio. O pescador sai perdendo muito com a construção da hidrelétrica”, pontuou. 

O pescador afirmou que como entidade representativa, além de reivindicar, a Colônia de Pescadores Z1, tem que mostrar que existem outras alternativas para substituir a hidrelétrica, como a energia eólica e solar. “Se a EPE estudar essas possibilidades, existe capacidade de substituir a usina sem prejudicar os pescadores”, declarou.

Para o professor de turismo e coordenador do laboratório de turismo ecologia e meio ambiente da Universidade Estadual de Roraima (UERR), Thiago José Costa Alves, a hidrelétrica é inviável. “Em 2007, quando começaram os estudos ela podia ser uma possibilidade, mas para os dias atuais existem outras alternativas de trazer energia elétrica para o Estado, a principal delas é a energia solar. Você tem um impacto muito menor em área e estudos socioambientais comprovam que esta alternativa afeta bem menos as comunidades”, disse. 

Quanto aos efeitos negativos do empreendimento, ele destacou que muda todo o contexto do curso das águas. “Muda a vida das pessoas que dependem desse curso, os pescadores, não só a pesca, mas também o extrativismo. É um impacto muito grande para a eficiência energética que ela vai proporcionar. Não justifica a existência de uma hidrelétrica em Roraima. Hoje existem tecnologias que possibilitaria a autossuficiência energética do Estado, é a energia solar, tranquilamente. Seriam espaços muito menores, além de reparos mais baratos”, esclareceu. 

Para um dos coordenadores do movimento Puraqué, Bruno Sousa, que tem como objetivo difundir informações que afetem o meio ambiente, a hidrelétrica é a menos eficiente do século. “Esse projeto é considerado em função da eficiência energética, ou seja, a área inundada por energia gerada, a pior usina hidrelétrica do século, mesmo tendo um reservatório similar ou do mesmo tamanho de Belo Monte, no Pará, que gera 11.233 megawatts. A do Bem Querer geraria 650, ou seja, 20 vezes menos, tendo que inundar uma área maior”, disse. 

Um problema apontado por Sousa, é que cerca de 90% do Estado é drenado pelo Rio Branco. “Teremos impactos na pesca comercial, de subsistência e de lazer, o próprio lazer, as praias todas iriam sumir. Também teríamos um problema seríssimo com o PIB do Estado. Em Roraima se produz arroz às margens do Rio Branco, Uraricoera e Tacutu, essas atividades produtivas serão prejudicadas, assim como a pecuária. Além disso, o turismo, um estado que cresce com potencial turístico para o mundo, para o Brasil, está ameaçado por esse projeto hidrelétrico”. 

O movimento defende outras alternativas. “Queremos energia, mas podemos revitalizar Jatapu, ampliar a possibilidade de gerar energia por biomassa utilizando acácia mangium, podemos usar o sol e o vento, bastava que se fizesse um ano de teste em nossos lavrados próximo às rodovias federais. Essa usina é um erro e convidamos a sociedade para debater isso, rechaçamos essa ideia”, pontuou o coordenador.

ESTUDOS – Os estudos já começam em agosto. O contrato já está assinado, o Consórcio Walm-Biota, já está a postos, as equipes já estão mobilizadas para iniciar esses estudos. A EPE já tem uma base instalada em Boa Vista, localizado na Rua Manoel Aires, 152, Mecejana. Para mais informações a população pode acessar o site www.uhebemquerer.com.br.