Cotidiano

Imigração contribui para aumento de doenças infecciosas

DSEI Leste já registrou mais de mil casos de malária e o DSEI Yanomami contabiliza sete casos de sarampo na região

As problemáticas da desenfreada imigração venezuelana tem começado a ultrapassar os limites das cidades roraimenses e adentrado nas comunidades indígenas do Estado. De acordo com instituições que prestam assistências sociais e de saúde dos índios, algumas doenças estão sendo transmitidas para a população indígena por conta da entrada de imigrantes nas regiões.

Segundo o coordenador do Distrito Sanitário Especial Indígena Leste (DSEI Leste), Joseilson Câmara, venezuelanos que passam pela fronteira acabam encontrando as comunidades e parando para pedir comida e assistência. Na comunidade de Três Corações, a situação tem se mostrado agravado por conta do aumento no número de casos confirmados de Malária. Em 2017, foram registrados 896 casos da doença. Já neste ano, o número subiu para 1.172 casos confirmados.

“A gente tem dados de venezuelanos não-indígenas em comunidade indígenas. Vão pra lá, passam pouco tempo e saem. Nossas equipes estão com monitoramento naquela linha de fronteira, de entrada em Sorocaima, Nova Esperança, Três Corações… O índice que temos ali naquela região é de Malária, que estão vindo muitas pessoas doentes da Venezuela, então nosso índice aumentou demais devido a isso, da imigração desordenada que está tendo”, explicou o coordenador.

Joseilton apontou ainda que a situação é mais preocupante porque, na comunidade de Sorocaima, que fica na região do Município de Pacaraima, os indígenas não aceitam a entrada de vacinas para prevenir as doenças. “Uma das comunidades de Sorocaima não permite a vacinação por conta da cultura. As nossas equipes ficam vigilantes, nós temos os polos que tem equipe fixa 24 horas”, afirmou.

O coordenador informou que o DSEI está atuando com a cobertura vacinal nas outras comunidades e monitorando toda atividade que envolva as doenças transmissíveis. Quando um venezuelano é identificado dentro de uma comunidade, fica a critério do povo decidir qual procedimento deve ocorrer. “Nós não podemos fazer isso [retirar da comunidade]. Nós estamos lá, se eles procuram assistência, nós damos assistência”, finalizou. 

SARAMPO – Nas comunidades indígenas Yanomami, a situação tem preocupado os representantes que defendem os direitos dos índios roraimenses. Conforme a Hutukara Associação Yanomami (HAY) em uma carta oficial, enviada pelo vice-presidente Dário Kopenawa, está ocorrendo uma epidemia de sarampo entre os Yanomami da Venezuela.

O documento cita que tomou conhecimento da causa após enviar um servidor para analisar a situação in loco, que “retornou informando que na comunidade de Irotha, possivelmente localizada na Venezuela, morreram 14 pessoas por doenças. Segundo ele [o servidor], os sobreviventes dessa comunidade teriam chegado ao Brasil em busca de atendimento de saúde, em um local denominado Xilipapiú”.

Ainda de acordo com a carta, após a informação, foi solicitado do coordenador do DSEI Yanomami, Rousicler Oliveira, informações sobre a situação e foi relatado que “há 67 casos de sarampo confirmado, 60 de Yanomami da Venezuela e sete de Yanomami do Brasil e a morte de uma criança brasileira com menos de um ano que não estava vacinada”. A Hutukara solicitou reforço da coordenação para realizar busca ativa para a vacinação e tratamento de doentes.

A Hutukara afirma que, “diante das informações relatando epidemia em várias comunidades do lado venezuelano na fronteira com o Brasil, e de um possível impacto epidemiológico catastrófico para a população Yanomami, solicitamos que sejam mantidas as medidas preventivas pelo DSEI Y para conter a contaminação e cuidar dos Yanomami que chegam da Venezuela”.

Por fim, a carta define a situação como “alarmante” e que a cobertura vacinal de 80% não está sendo suficiente, pedindo então reforços para que haja 100% da imunização. Além dessas medidas, a HAY solicita urgente diálogo com autoridades venezuelanas para entender melhor os locais com mais críticos e colaboração entre os dois países.

Na região, a cobertura vacinal é de 80% e, desde fevereiro, estão sendo realizadas vacinações pelas áreas atendidas pelo DSEI Yanomami. Rousicler afirmou que está fazendo acompanhamento dos casos. “A terra indígena Yanomami só tem acesso por avião, pela distância e floresta. Sempre teve da ida e vinda porque os Yanomami são nômades, aconteceram alguns casos de sarampo, a gente tem sete casos confirmados de sarampo de indígenas brasileiros. Teve quatro casos contaminados no Hospital da Criança e no HGR [Hospital Geral de Roraima]”, confirmou. (A.P.L)

Sarampo avança para outros oito estados brasileiros

Desde 2016, quando começou o fluxo migratório de venezuelanos para o Brasil, o Governo de Roraima alerta para a implantação de uma barreira sanitária e cobrança obrigatória de vacinação na fronteira com a Venezuela. Essas ações não foram implementadas pelo Governo Federal e doenças como o sarampo foram reintroduzidas no Brasil, atingindo principalmente Roraima.

A doença estava erradicada no país desde 2015, quando o Ceará registrou um surto. Porém houve a confirmação do primeiro caso em fevereiro deste ano em uma criança venezuelana. Desde então, conforme o boletim mais recente divulgado pela Coordenação Geral de Vigilância em Saúde (CGVS) da Secretaria Estadual de Saúde (Sesau), já foram confirmados 272 casos da doença somente em Roraima, de onde a doença já se espalhou por outros oito Estados: Amazonas, Rondônia, Pará, Mato Grosso, Paraíba, Rio de Janeiro, São Paulo e Rio Grande do Sul, todos esses com casos confirmados. Outros três Estados possuem casos ainda em investigação: Minas Gerais, Mato Grosso do Sul e Pernambuco.

Para Daniela Souza, coordenadora geral de Vigilância em Saúde, a vacina é a forma mais eficaz de evitar a doença. “O sarampo é uma doença altamente contagiosa e cada dia o número de casos confirmados aumenta e faz com que seja essencial que quem tem entre seis meses e 49 anos e ainda não se vacinou procure pelo posto de saúde mais próximo e receba a sua dose”, afirmou.

Até agora são 272 casos confirmados, 109 permanecem em investigação e 41 casos foram descartados. Entre os casos confirmados, houve quatro mortes confirmadas causadas pelo sarampo, três em venezuelanos e um indígena brasileiro da etnia Yanomami. Os testes foram confirmados pelo Laboratório Central de Roraima (Lacen-RR) e pela Fundação Oswaldo Cruz(Fiocruz).

Dentre os casos confirmados, 79 são em brasileiros, destes, 14 são indígenas. Entre os venezuelanos a ocorrência da doença é mais numerosa. São 191 casos, sendo 120 em indígenas do país vizinho.