Cotidiano

Crimes contra mulher indígena tendem a aumentar, diz especialista

Pesquisa apontou que Roraima lidera o ranking de casos de homicídios contra mulheres, inclusive as indígenas

Considerando os dados apresentados pelo Atlas da Violência 2018, Roraima apresenta altos índices de violência contra a mulher, especialmente, as indígenas. Para especialista em Segurança Pública, a presença da população indígena como vítima dos crimes tende somente a piorar.

De acordo com Carlos Borges, professor e pesquisador da Universidade Estadual de Roraima (Uerr) no mestrado em Segurança Pública, Direitos Humanos e Cidadania, os dados apresentados pelo Atlas aparentam estar ‘inflados’, mas ainda assim representam uma realidade vivida no Estado.

Segundo o professor, uma das explicações para o fenômeno é a presença dos indígenas no perímetro urbano do Estado. Ele ressaltou que é de conhecimento geral que Roraima possui a maior parcela de população indígena do país. O pesquisador afirmou ainda que a população indígena está crescendo em Boa Vista, segundo os próprios dados das organizações e associações. Além disso, ainda há a grande migração de indígenas de países vizinhos, como da Guiana e da Venezuela.

De acordo com o especialista, no caso de Boa Vista, os indígenas se estabelecem nas regiões mais distantes e mais periféricas da cidade, principalmente, na zona oeste da cidade. “Esses locais são os mais acessíveis para quem chega à cidade. Eles começam a viver nesses locais, desassistidos de políticas públicas de educação, saúde e segurança”, afirmou.

Neste processo, segundo Borges, o indígena acaba sendo inserido nas complexidades da vida urbana. A seu ver, os indígenas iniciam os trabalhos com mão de obra barata e passam a fazer parte da ‘cultura’ local, com a presença de alcoolismo, tráfico de drogas, prostituição e onde ocorrem os principais crimes de violência.

“Quando ele vem para a cidade, a mulher tem emprego, trabalha como doméstica, tem salário. O marido muitas vezes não tem emprego fixo e começa a intriga de casal. Geralmente, unindo o alcoolismo, o marido comete violência contra a esposa. Parte dessa violência culmina em homicídio”, afirmou Carlos Borges. “De um lado temos a quebra da estruturação social e cultural indígena em função da assimilação da experiência urbana e, do outro, essa dispersão espacial que levam os indígenas a viver em um lugar de tensão e de violência”, completou o pesquisador.

Para Borges, a tendência é só piorar, caso o poder público não interceda. Para o professor, a economia local estará em expansão constante nos anos vindouros e, com isso, aumentará a riqueza, mas também a desigualdade, a pobreza, a violência. “Um fato que se apresentará é a participação de jovens indígenas no tráfico de drogas e nas facções criminosas”, avaliou. “Vamos começar a perceber isso em um tempo curto, pelo menos uns dez anos, em que a violência será mais evidente entre os indígenas”, explicou.

DADOS MAIS TÉCNICOS – Quanto à possível inflação dos dados, o pesquisador esclareceu que muitas vezes ainda acontece de um homicídio ser registrado mais de uma vez, na contagem de informações da Polícia Militar que atende o caso, o registro nas delegacias e em casos de vítimas fatais, o registro do Instituto Médico Legal (IML).

Uma das soluções, para o especialista, seriam as iniciativas locais, ou seja, repassar autonomias para as secretarias estaduais no sentido de executarem políticas de segurança pública na região e estender essa descentralização aos municípios.

Para o professor, a atuação dos municípios seria até exercida com maior facilidade por conta da proximidade com a população. “Essas secretarias municipais informariam às secretarias estaduais, que remeteriam esses dados às secretarias federais e os dados seriam mais coesos”, afirma.

GOVERNO – A Folha também entrou em contato com os órgãos do Governo do Estado para saber quais medidas estavam sendo tomadas para redução dos índices de violência, porém, não recebeu retorno até o fechamento da matéria. (P.C.)