Cotidiano

Condições da rodovia durante as chuvas prejudicam taxistas e caminhoneiros

Um dos motoristas de táxi entrevistados pela Folha contou que este é o pior período da estrada federal em 30 anos

“Faço a rota Boa Vista-Pacaraima há 30 anos e este é o pior período da BR-174”. Esta é a avaliação do taxista Ervin Miranda ao comentar as condições da rodovia que liga a capital de Roraima ao município que faz fronteira com a Venezuela, ao norte do Estado.

Ervin se refere a um trecho específico da BR-174 norte, que está em obras e, neste período de chuvas, está cheio de lama. “É o trecho próximo a Fazenda Diamante Verde, onde a água passava por cima da estrada. Passou todo o verão e não fizeram nada. Agora no inverno vieram arrumar e não vão conseguir por causa da chuva. Tá ali o grande problema que estamos passando”, relatou.

No trecho de aproximadamente três quilômetros, a equipe de reportagem da Folha não viu nenhum trabalhador na pista, apenas máquinas paradas. “Quando tá chovendo, eles não têm condições de trabalhar porque até o trator fica atolado na lama”, justificou o taxista. Para atravessar o local, é preciso ter cuidado para não derrapar nem atolar.

Para Ervin, assim como para os outros motoristas que trafegam diariamente pela BR-174 a trabalho, as condições da rodovia atrapalham os negócios. “Atrapalha muito porque, quando tá chovendo, a gente já vem preocupado, pensando que não vai passar. Hoje a estrada tá um pouco melhor, porque passaram algum tipo de recheio, que melhorou um pouco e dá pra passar com chuva. Três semanas atrás era só lama e o carro ficava atolado. Era preciso ser puxado pelo trator”, contou o motorista.

Todos os dias Ervin e os colegas de cooperativa transportam imigrantes venezuelanos da fronteira para a capital. A passagem custa R$ 50. “Tem muito venezuelano indo para Boa Vista. Eles dizem que depois vão para outros países, como Argentina, Uruguai, Peru. A nossa relação é tranquila. O pessoal que anda de táxi é gente boa”, disse. Se a demanda por táxi é grande no trecho Pacaraima-Boa Vista, a rota contrária é tranquila. “Temos poucos passageiros na volta, só quem mora em Pacaraima mesmo ou algum venezuelano que vem trazer rancho para a família e depois volta pra capital”, acrescentou.

Quanto à fiscalização na BR, o taxista afirmou que está normal. “Eles param, a gente desce, mostra as malas. Agora teve um reforço do Exército, da Polícia Rodoviária Federal. Melhorou muito. Nossa única reclamação mesmo é naquele trecho da estrada. Só queríamos que consertassem aquele pedaço para a gente trabalhar”, pediu.

Na avaliação do caminhoneiro Claudio Bombardelli, a estrada como um todo está boa, apenas o trecho próximo a ponte sobre o Rio Paricarana que está ruim. “Já tem uns meses que tá ruim, mas tão arrumando. A água vazava por cima da estrada e tão levantando. Mas eles começaram a fazer na época da chuva. Na época do sol, tava parado e agora que vão mexer. É tudo ao contrário. Vai fazer o que agora? Falta os governantes controlarem isso, saber a hora de fazer obra, senão gasta muito e não faz nada”, criticou.

DNIT diz que obra segue em ritmo moderado

 

Sobre o andamento da obra de manutenção da rodovia, a Superintendência Regional do Departamento Nacional de Infraestrutura de Transporte (DNIT) em Roraima informou que segue em ritmo moderado durante o período de chuvas e retomará o ritmo normal após o período de inverno. A previsão de conclusão é em 90 dias após o fim do período chuvoso.

As obras foram iniciadas, conforme o DNIT em outubro de 2016, após o inverno. “Nos períodos chuvosos, há a diminuição do ritmo das atividades, visando preservar o usuário e a boa execução dos serviços”, justificou.

 

Caminhoneiros formam fila a espera de diesel

 

Na fronteira com a Venezuela, dezenas de caminhoneiros esperam em uma fila por óleo diesel mais em conta, no posto do país vizinho. É o caso do caminhoneiro Claudio Bombardelli, natural do Rio Grande do Sul e morador de Roraima há 22 anos. Prestes a se aposentar, o motorista diz que faz bicos para manter a casa. “Pedi minha aposentadoria, mas tá demorando a sair. Enquanto isso, vou quebrando galho. Tem nada pra fazer mesmo, não tem emprego, não tem serviço”, contou.

Claudio compra combustível em Pacaraima e traz até Boa Vista. “Eu venho buscar diesel, que aí o motorista pega e vai pra Manaus. Se sai de Boa Vista com o óleo comprado na capital e, por exemplo, estoura um pneu indo pro Amazonas, é prejuízo”, justificou.

A relação entre ele e os outros caminhoneiros enquanto aguardam o combustível chegar é harmônica. “Agora, nessa época de Copa do Mundo, a gente sai, vai assistir ao jogo, volta. Mas ficar aqui danifica muito a mente da gente. A pessoa fica muito tensa o tempo todo”, lamentou.

A quantidade de combustível que chega quase nunca é suficiente para atender a todos. Quando foi entrevistado pela reportagem da Folha, Claudio e os colegas estavam na fila há quatro dias. “Estou parado desde segunda-feira esperando combustível no posto. Da última vez que chegou diesel, não deu pra quem quis. Tem que ter paciência, não adianta se alterar, brigar. A relação com o pessoal do posto é tranquila, mas eles são muito propineiros. Sempre foi assim. Não adianta reclamar”, disse. (V.V)