Cotidiano

Com mais de mil venezuelanos, segurança é o desafio em abrigos

Polícia Militar é chamada constantemente para atender ocorrências de conflitos entre os abrigados, principalmente no Tancredo Neves

Em Boa Vista, os três abrigos existentes somam mais de mil imigrantes venezuelanos. Segundo a Defesa Civil Estadual, o que apresenta mais problemas com os abrigados é o que foi criado recentemente no ginásio esportivo do bairro Tancredo Neves, na zona oeste. A segurança é o item mais preocupante, pois todas as semanas são registradas ocorrências policiais no local.

Cerca de 500 imigrantes venezuelanos vivem no local, segundo a Defesa Civil, e a convivência entre eles é extremamente difícil, conturbada. Geralmente, os desentendimentos acontecem por conta da diferença da idade entre as pessoas, de classe social, gênero, entre outros. Não há indígenas abrigados nesse local.

O tenente Fernando Troster, da Defesa Civil, destacou que é um grande desafio para eles e os órgãos e entidades parceiras contornarem os conflitos vivenciados no cotidiano dos abrigados. “Infelizmente, é sempre necessária a presença da Polícia Militar para resolver os desafetos e muitas vezes venezuelanos são conduzidos até as delegacias”, disse. “Para nós não é fácil. Temos que estar sempre atentos para que não aconteça uma tragédia. É muita confusão, aí sempre temos que estar acionando os policiais por questão de segurança mesmo. São 500 pessoas de idades diferentes, classe social entre outras muitas diferenças”, destacou o tenente.

O assistente de proteção da Agência da ONU para Refugiados (Acnur), Rafael Levi, comentou a respeito do esforço feito através de articulação entre o governo estadual e várias entidades para tentar diminuir os problemas vivenciados pelos imigrantes venezuelanos nos três abrigos da Capital, tendo a segurança como um ponto de maior preocupação.

“Atuamos de maneira articulada na busca das soluções dos problemas nos abrigos. Temos visto uma necessidade de atenção para a questão da segurança. Há muitas brigas, conflitos entre eles, e muitas vezes são desafetos sérios em que é preciso a intervenção da polícia”, confirmou.

O abrigado Luiz Ruiz, de 30 anos, relatou que as pessoas brigam por tudo, roubam, perturbam e, para evitar confusão, é preciso muita paciência. “Viver aqui é um teste de fogo. As pessoas estão sempre nos afrontando, roubando nossas coisas, perturbando quando precisamos dormir. Eu sempre procuro ficar calmo para evitar briga, mas os outros não, eles brigam mesmo”, afirmou.

Abrigo do Tancredo Neves é o 1º a receber donativos do RJ

O Governo do Estado, por meio de ação articulada entre a Secretaria do Trabalho e Bem-Estar Social (Setrabes) e a Defesa Civil, já entregou cerca de 200 quilos de alimentos não perecíveis, que integram as duas toneladas arrecadadas por meio de uma ação realizada pela Secretaria de Direitos Humanos do Rio de Janeiro, em parceria com a comunidade venezuelana daquele Estado e a empresa aérea Azul. O primeiro a ser beneficiado foi o abrigo instalado no ginásio esportivo do bairro Tancredo Neves, na zona oeste.

Foram arrecadadas duas toneladas de donativos, entre alimentos não perecíveis, produtos de higiene pessoal, roupas e medicamentos. Os alimentos chegaram em quatro lotes a Roraima, por via aérea, entre os dias 10 e 14 de novembro, sendo armazenados na Rede Cidadania Melhor Idade, no bairro Caranã, zona oeste, e entregues oficialmente ao Governo do Estado nesta sexta-feira, 17.

“Agora será realizada a triagem dos donativos e distribuídos aos dois abrigos de Boa Vista e de Pacaraima [Município ao norte do Estado, na fronteira com a Venezuela] de acordo com a necessidade de cada um. Foram entregues alimentos ao abrigo do Tancredo Neves, que é a unidade mais vulnerável e necessita dessas doações”, explicou a secretária adjunta da Setrabes, Edilânia Mangueira. (E.S)