Cotidiano

Com início das chuvas produção de tijolos deve ser interrompida

Quem procurar a Olaria nestas últimas semanas pode comprar o milheiro de tijolo dois furos por até R$ 230,00

Quem vai construir ou reformar procura sempre pelos menores preços, tanto no material de construção, quanto na mão de obra. Há mais de 20 anos, tijolos artesanais produzidos nas olarias, na área conhecida como Vila Vintém, às margens do Rio Branco, município do Cantá, são das opções mais em conta. O preço chega a ser 50% menor que o praticado em cerâmicas industriais.

O autônomo Francisco Alves de Aquino, 46 anos, vive na Vila Vintém desde 1994, sempre trabalhando com a produção de tijolos. Ele conta que nos meses sem chuva, entre setembro a abril, a produção de tijolos é alta. “O verão é ótimo. Não temos do que reclamar. As vendas são excelentes neste período”, explicou.

Além de a estiagem facilitar a produção de tijolos, é neste período que as obras se intensificam. “As pessoas deixam para construir durante o verão, pois não tem a chuva para atrapalhar. Então além da produção ser maior, a procura também é. Nosso trabalho é de formiga, é neste período que juntamos dinheiro para nos manter nos meses de inverno, pois não temos outra fonte de renda”, pontuou.

Porém, quem optar por iniciar uma obra entre os meses de maio e agosto, só poderá comprar tijolos nas cerâmicas industriais. O motivo é o início das chuvas. Nesta época, a Olaria costuma ficar debaixo d’água e os moradores migram para outras localidades e retornam somente no verão. Além disso, as chuvas constantes impedem que os tijolos sequem antes de ir para as fornalhas.

O funcionário público Ricardo Oliveira, iniciou uma obra em sua casa no mês de março, ainda durante a estação seca, devido a contratempos financeiros teve que interromper, mas retomou no início de maio. Ele foi até a olaria comprar meio milheiro de tijolo para finalizar a reforma.

“Falta pouco pra acabar, estou aproveitando que o inverno ainda está no começo pra concluir logo. Na maioria das vezes eu prefiro o tijolo industrial, mas como faltava muito pouco, optei pelo mais barato. Corri pra conseguir comprar na Olaria, pois sei que daqui a algumas semanas não seria mais possível”, disse.

Cerâmicas industriais mantêm o mesmo preço há cinco anos

Para quem está construindo e prefere um material mais elaborado, há as cerâmicas industriais. Devido ao processo de fabricação, os tijolos produzidos nestas localidades podem custar até R$ 350 o milheiro. Segundo empresários do setor, o preço é o mesmo há pelo menos cinco anos. A inflação neste período acabou sendo absorvida pelos empresários que estão queimando gordura. 

O gerente de uma cerâmica local, que preferiu não se identificar, lembrou que em 2010, o milheiro do tijolo chegou a custar R$ 460,00. Afirmou que neste período, as empresas do setor prosperavam. “O custo de produção não era tão alto, e o preço era justo. Tínhamos condições de manter a empresa funcionando com uma margem de lucro”, disse.

No ano de 2013, quando a crise econômica no país começou a se intensificar, as cerâmicas industriais em Roraima se viram obrigadas a baixar o preço do milheiro do tijolo, que passou a ser vendido por R$ 350,00. “Neste ano, as obras pararam. Não tivemos como manter o mesmo preço. Tivemos que reduzir ou então não venderíamos mais nada e desde então estamos na mesma faixa de preço, não houve reajuste”, explicou.

O aumento no custo de produção com o passar dos anos foi absorvido pelo setor. Nos tempos áureos, em 2010, a carrada de lenha utilizada nas fornalhas para queimar o tijolo, custava R$ 600. Hoje está saindo a R$ 1,6 mil. Além disso, houve diversos reajustes no preço do combustível e da tarifa de energia elétrica. “Absorvendo todos esses custos, hoje estamos pagando pra trabalhar. Tem empresa com mais de cinco contas de energia em atraso”, relatou.

Outro custo citado pelo gerente foi o pagamento dos funcionários. “Não temos como funcionar sem trabalhadores. O salário mínimo a cada ano é reajustado. Um trabalhador não custa apenas um salário para o empregador. Você tem que pagar o FGTS e demais obrigações. Estamos fazendo isso mesmo sem ter lucro”, lamentou.

Ele frisou que a solução seria todas as cerâmicas concordarem em praticar um preço justo pelo custo de fabricação, porém adiantou que não há união para que isso se torne possível. “As empresas vão sempre vender mais barato que o concorrente para ter circulação. Não adianta eu subir o meu se o meu concorrente também não subir”, disse.

Uma solução encontrada para não fechar as portas é retirar dinheiro de outras atividades para manter a empresa em funcionamento. “A maioria dos donos de cerâmicas também trabalha com o campo, com a criação de gado e plantações. Tem uns que vendem gado para pagar as dívidas das empresas e assim vamos levando. Para manter esse preço e lucrar, seria necessário uma redução drástica no custo de produção, o que não vai ocorrer”, concluiu.