Cotidiano

Catadores entram em aterro às escondidas para coletar lixo

Depois de retiradas do aterro sanitário, famílias que vivem da coleta seletiva ainda esperam por promessas da Prefeitura de Boa Vista

Separar o lixo orgânico de materiais recicláveis é uma atividade que gerava renda para 200 famílias que trabalhavam no aterro sanitário de Boa Vista, mas a exposição delas aos resíduos sólidos no aterro sanitário, o lixão, as colocavam em situação de riscos de contaminação, o que motivou o Ministério Público do Trabalho em Roraima (MPT 11ª Região), por meio da procuradora chefe Alzira Melo Costa e dos procuradores do Trabalho André Magalhães Pessoa e Safira Nila Rodrigues, cobrar da Prefeitura de Boa Vista, o cumprimento da Notificação Recomendatória Nº 1092/2015 expedida com o objetivo de assegurar condições adequadas de trabalho aos catadores de materiais recicláveis.

A Prefeitura de Boa Vista retirou os catadores do lixão e agora a maioria deles não consegue sobreviver. Muitos estão com o aluguel, a água e a energia em atraso. Falta até dinheiro para alimentação. Por conta das dificuldades financeiras, muitos deles resistem à ordem judicial e, mesmo com a presença da Guarda Civil Municipal (GCM) no local, se arriscam e continuam catando o lixo no aterro.

Segundo um catador, que pediu para não ser identificado, ele vai ao lixão à noite, quando está tudo escuro e os guardas municipais estão dormindo. Dessa maneira, correndo o risco de ser preso, ele consegue alimentar os três filhos e manter a água e a luz da casa em dia. “Eu continuei indo sim catar no aterro, simplesmente porque eu não tenho outra renda para manter minha família e não vou deixar eles passarem fome. É uma vergonha a gente, profissional da área, ter de ir à noite roubar lixo para sobreviver”, desabafou. (E.S)

MPT realizou reunião com catadores e prefeitura para solucionar situação

Em meados de novembro de 2017, os procuradores do trabalho mediaram uma solução para a situação dos catadores de recicláveis. No momento, se fizeram presente as duzentas famílias que viviam da atividade e representantes da Prefeitura de Boa Vista.

Conforme a presidente da Associação de Catadores Recicláveis Terra Viva, Evandra Pereira, durante a reunião, a prefeita se comprometeu em auxiliar as famílias com uma ajuda mensal e uma cesta básica até que as cooperativas obtivessem uma estrutura própria para dar condições de trabalho para os associados, mas passados aproximadamente dois meses, nada ainda foi feito pelo executivo.

“Na reunião, a promessa foi ótima, bonita demais, ficamos supersatisfeitos, mas os dias estão passando e ainda não vimos nada. Parece que o tchau que a prefeita deu naquele dia para nós foi para sempre. Estamos aqui ainda a ver navios”, afirmou a presidente da associação.

OUTRO LADO – A Prefeitura de Boa Vista informou que a empresa responsável pela administração do aterro sanitário já vem tomando todas as providências necessárias para evitar a entrada de pessoas não autorizadas, “mas infelizmente algumas pessoas insistem em voltar”. Já está sendo feita a vigilância para reforçar a segurança do local e coibir o acesso de pessoas não autorizadas, além de outras medidas, para solucionar o problema vivido pelas famílias que sobreviviam do local. (E.S)