Polícia

Caseiro confessa crime e ainda ajuda elucidar dois homicídios

Empresário Astrogildo havia matado o próprio irmão e passou a ameaçar o caseiro que se recusou a ocultar corpo, por isso ele foi assassinado

Na tarde desta quinta-feira, dia 1º, a Polícia Civil conseguiu elucidar o caso de desaparecimento do empresário Astrogildo Teixeira, de 44 anos, que foi morto na madrugada do dia 27, domingo, na Vicinal I da Confiança III, no Município do Cantá, a Centro-Leste do Estado, pelo caseiro Antônio de Souza Nascimento, 45 anos, que cuidava da fazenda ao lado da propriedade da vítima.

Durante as investigações descobriu-se que Astrogildo havia matado o próprio irmão, Raimundo Teixeira, 47 anos, no dia 12 de novembro deste ano. Brigas de família e uso de drogas foram a motivação do crime. A ossada do irmão estava a 400 metros do corpo de Astrogildo, já em avançado estado de decomposição. Participaram das investigações o Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP) em conjunto com o Departamento de Polícia Judiciária do Interior (DPJI), Núcleo de Inteligência (NI/PC) com o apoio da Delegacia Geral de Homicídios (DGH) e da Delegacia Geral de Polícia Civil.

Na manhã de ontem, dia 2, em coletiva de imprensa, o diretor do DHPP, delegado Emerson Luiz Freire, deu detalhes sobre a elucidação do desaparecimento do empresário, do duplo homicídio e da autoria. As investigações foram iniciadas na segunda-feira, 28, depois do recebimento da notícia de que o homem estava desaparecido e seu veículo abandonado de forma suspeita no bairro São Vicente, na zona Sul da Capital.

“Na terça-feira [29], fomos com uma equipe do Núcleo de Inteligência, disponibilizada pela Delegacia-Geral, com uma equipe da Delegacia do Cantá, disponibilizada pelo DPJI, mais a equipe do DHPP. Fomos até o local dos fatos [Fazenda Mendonça]. Inicialmente, estávamos tentando algumas informações sobre o desaparecimento do Astrogildo. No local, após algumas entrevistas e coleta de declarações, saímos de lá com a notícia de que o Astrogildo, no dia 12 de novembro, sábado, havia assassinado seu irmão Raimundo Teixeira”, declarou o delegado Emerson Luiz Freire.

A partir daí, a investigação foi intensificada pela descoberta de que não se tratava de um simples desaparecimento, quando uma testemunha ocular do primeiro homicídio confirmou os fatos. “Nós retornamos na quarta-feira, dia 30, para a fazenda a fim de localizar o corpo do Raimundo, suspeitando de outro homicídio, que seria do Astrogildo. Mas também poderia ser que ele estivesse em fuga porque algumas pessoas estavam sabendo que ele matou o irmão. Ele contou para o caseiro do sítio dele e falou para o Antônio [autor de seu homicídio] no dia dos fatos”, revelou Freire.

CORPOS – Na manhã da quinta-feira, o caso foi desvendado quando a ossada da primeira vítima, Raimundo, foi encontrada. Mas os restos mortais ainda passarão por exame de DNA para confirmar a identidade. Assim que os policiais faziam o recolhimento da ossada, outra equipe que realizava diligências na proximidade sentiu um forte odor de putrefação, quando todos os agentes iniciaram uma varredura e à distância de 400 metros da ossada localizaram o corpo de Astrogildo.

A partir daí, os agentes voltaram à fazenda, onde receberam a informação de que o caseiro da Fazenda Mendonça, o Antônio, foi deixado no local no dia 27, domingo pela manhã, pelo seu patrão. Porém, depois do almoço, o patrão encontrou o caseiro já no posto de gasolina do Cantá, o que o causou estranheza.  O caseiro foi deixado de volta à fazenda. A partir dessa informação, os policiais foram até Antônio, que já estava os aguardando para confessar o homicídio.

MOTIVAÇÃO – Astrogildo matou o irmão a golpes de arma branca, motivado, segundo a polícia, por uma intriga que eles mantinham há muitos anos. O empresário era o único dos irmãos que tinha um relacionamento mais estreito com Raimundo, que era foragido do sistema prisional.

A delegada Miriam Di Manso relatou que as brigas também eram motivadas por um assalto praticado contra a família que adotou Astrogildo há alguns anos. Além disso, todas às vezes que Astrogildo chegava sem cocaína ao sítio onde o irmão estava, os dois brigavam. “No dia em que Astrogildo matou o irmão, ambos fizeram uso de cocaína. Eles eram usuários de cocaína”, ressaltou o delegado Emerson Luiz Freire, do DHPP.

O caseiro Antônio, por sua vez, matou Astrogildo por se sentir ameaçado desde a recusa em ajudar a ocultar o corpo de Raimundo. “Depois de matar o irmão, o Astrogildo fez um telefonema para o celular da fazenda.

Ele falou com Antônio e pediu que ele retirasse o corpo de Raimundo que foi morto no final da tarde de sábado, para enterrar, jogar em outro lugar distante, fazer qualquer coisa com o corpo. Antônio negou-se veementemente a fazer o que Astrogildo pediu e disse que não participaria daquilo em hipótese alguma. A partir daquele momento, Astrogildo começou a ameaçar Antônio de morte por ser uma das testemunhas, além de outra testemunha ocular que também foi ameaçada”, esclareceu o diretor do DHPP.

Antônio passou a sentir medo do empresário que, segundo a polícia, sempre andava armado e possuía em sua casa várias armas de fogo e, talvez por isso, o caseiro não denunciou o fato ao patrão e às autoridades policiais.

MORTE DE ASTROGILDO – No sábado, dia 26, Astrogildo foi até sua propriedade para levar a esposa do caseiro que estava com o filho de 1 ano. Chegando ao local, foi com o caseiro até a casa de Antônio para convidá-lo para caçar. Antônio aceitou o convite, mas antes de saírem combinaram a hora exata em que entraria na mata. Mas quando o empresário retornou para a casa de Antônio, encontrou outras pessoas que faziam uma visita e acabou voltando para seu sítio em uma moto.

“Quando chegou ao sítio, começou a beber e a cheirar cocaína com o caseiro e a esposa do caseiro. Ele tinha uma quantidade razoável de cocaína. Na madrugada, por volta das 03h de domingo, 27, já bastante alterados, o caseiro começou a discutir com a esposa, quando Astrogildo resolveu sair do local, recolheu a rede dele, uma arma, pôs no carro e disse que iria passar no vizinho e dormir no mato. Caso não voltasse para o sítio, que ninguém devia estranhar”, enfatizou o delegado.

De acordo com a investigação, Astrogildo saiu em direção à casa onde estava o caseiro Antônio, já no intuito de matá-lo. Estacionou o carro em frente ao sítio. Antônio já estava bastante amedrontado com toda a situação e, por não conseguir dormir, percebeu a chegada do veículo. Ele viu que era o carro de Astrogildo. Ao sair da camionete, o empresário portava uma arma longa. Naquele instante, Antônio também se armou com uma espingarda, saiu pela porta dos fundos ou por uma janela, deu a volta pela casa e, quando Astrogildo bateu na porta da frente, recebeu um único tiro, morrendo na hora.

O corpo e a arma do empresário foram colocados dentro do veículo. O corpo foi jogado na mata. Assim
que amanheceu, o caseiro autor do crime conversou com o patrão que havia acabado de chegar da Capital e disse que não estaria bem, por isso não trabalharia naquele dia, indo para sua casa. Às 11h, ele pegou o veículo do empresário e seguiu em direção a Boa Vista. No caminho, o caseiro se desfez da arma, deixou a picape de Astrogildo no bairro São Vicente, foi até a Rodoviária, onde pegou um táxi e acabou encontrando o patrão no posto de combustível do Cantá. (J.B)