Polícia

Casal e criança de 4 anos sofrem queimaduras graves em atentado

Equipe de peritos e investigadores foi à residência para coletar provas da ocorrência do crime. O quarto foi totalmente consumido pelas chamas

Um casal e a filha, uma criança de apenas quatro anos, foram vítimas de um atentado criminoso na madrugada de ontem, dia 8, enquanto dormiam numa residência do bairro Mecejana. A família é de origem venezuelana e dormia quando garrafas de coquetel molotov foram jogadas para dentro do imóvel, provocando o incêndio no quarto e causando queimaduras graves nos três.

Conforme a Polícia Civil, que investiga o caso, a criança está internada no Hospital da Criança Santo Antônio, com queimaduras de 2º grau, sob os cuidados da equipe médica e acompanhada pela mãe, que tem queimaduras no pescoço, peito e no ombro direito. O pai está internado no Grande Trauma do Hospital Geral de Roraima (HGR), com queimaduras em 25% do corpo. Seu quadro de saúde é estável, sem risco de morte.

No imóvel vivem 13 pessoas, sendo sete adultos e seis menores, no entanto, o incêndio ocorreu somente no segundo quarto, ambiente onde a família estava dormindo. O fogo se alastrou rapidamente, queimando móveis e roupas.

A criança foi levada às pressas ao Hospital, chorando bastante por conta dos ferimentos que estão espalhados pelo corpo, principalmente na cabeça. Mesmo com todos os indícios de que tenha sido um crime, inclusive as vítimas acreditam nesta possibilidade, a Polícia Civil explicou que ainda não há informações e detalhes sobre as circunstâncias e nem mesmo se o incêndio foi criminoso, que os fatos estão sendo apurados.

“Neste momento, a DPPINE [Delegacia de Proteção ao Idoso e Pessoa Portadora de Necessidades Especiais], o DHPP [Departamento de Homicídio e Proteção a Pessoa] e o DPJC [Departamento de Polícia Judiciária da Capital] estão realizando as oitivas das testemunhas para elucidação dos fatos. O inquérito já foi instaurado para investigar as circunstâncias e pessoas envolvidas no crime”, ressaltou a Delegacia-Geral de Polícia Civil.

Até o momento em que a reportagem da Folha esteve na casa, o local não tinha sido isolado. Somente no começo da tarde de ontem, uma equipe de peritos foi até a residência para coletar qualquer pista que sirva como prova do crime. O Núcleo de Proteção à Criança e ao Adolescente (NPCA) também está participando das investigações do caso. (J.B)

“Acordamos com os gritos”, diz vítima de bomba caseira

Os 13 venezuelanos, sendo sete adultos e seis crianças, moradores da casa do bairro Mecejana, alvo de coquetel molotov na madrugada de ontem, estavam dormindo no momento do crime. “Acordamos com os gritos de desespero, com o barulho da explosão e do teto pegando fogo”, relatou o venezuelano Carlos Sanchez, de 44 anos, que vive em Boa Vista há oito meses.

Ele e a família oriunda de Maturi, na Venezuela, moram na casa cedida por um brasileiro. “Era um galpão abandonado. Vivemos sem energia elétrica aqui, chegamos e fizemos uma limpeza e o dono disse que nos cobraria um aluguel simbólico. Transformamos esse local na nossa casa e achávamos que estávamos seguros aqui”, disse.

Os móveis e os brinquedos das crianças, incluindo uma pequena bicicleta, foram destruídos pelo fogo, que atingiu o forro de PVC, que derreteu e caiu sobre as vítimas. A família suspeita que os criminosos tenham jogado a bomba pela janela.

“Não temos para onde ir e estamos com medo de que essas pessoas que jogaram essa bomba voltem para nos atingir. Não temos ideia de quem sejam, não temos problema com ninguém. Vivemos a nossa vida, acordamos, saímos para o trabalho e voltamos para cuidar de nossas crianças”, contou Jankely Vasquez, de 29 anos.

Jankely cursava o oitavo semestre de Gestão Ambiental, quando precisou abandonar os estudos, vender a casa e objetos pessoais para juntar dinheiro e mudar de país. Hoje ela vende bananinhas no semáforo para sobreviver. “Antes da crise, a vida era maravilhosa. Nós não tínhamos luxo, mas tínhamos hospital, educação e comida. Mas acabou tudo e, por isso, viemos para o Brasil. A partir de agora não sabemos o que será do nosso futuro”, disse. (R.S)