Cotidiano

Caos na saúde em Roraima não é causado pela falta de profissionais

Conselho Regional de Medicina e o Sindicato de Médicos afirmaram que não se pode atribuir os problemas na saúde, tanto nacional, quanto estadual e municipal, ao número de profissionais

Entidades médicas de Roraima repudiaram a possibilidade da vinda de novos profissionais da saúde ao Estado, com a justificativa de que o efetivo não consegue mais suprir a demanda. A medida foi tomada após visita da Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares (EBSERH) na segunda-feira, 16, com objetivo de efetuar levantamento das áreas mais necessitadas de pessoal.

O Conselho Regional de Medicina de Roraima (CRM-RR) e o Sindicato dos Médicos do Estado de Roraima (Simed-RR) declararam que não se pode atribuir os problemas na saúde, tanto nacional, quanto estadual e municipal, ao número de profissionais.

Para o Conselho, o profissional “é tão vítima da atual condição da saúde pública no Brasil quanto qualquer cidadão que paga seus impostos” e dizer que o problema de saúde é falta de médicos seria no mínimo “alimentar soluções eleitoreiras e imediatistas”.

A presidente do CRM-RR, Blenda Avelino, informou que o que falta hoje na saúde pública de Roraima não é pessoal, mas, uma boa gestão que garanta as condições necessárias para o profissional trabalhar. No caso, a existência de material hospitalar, medicamentos, insumos, leitos, equipamentos e um plano de carreira para fixar o profissional no interior. 

MÉDIA DE PROFISSIONAIS – Blenda informou ainda que o Estado não está muito atrás da média nacional de profissionais por cada habitante. De acordo com a pesquisa de Demografia Médica divulgada em abril pelo Conselho Federal de Medicina, a média no país é de 2,18 médico por mil habitantes. 

Já um levantamento feito em junho deste ano detalha que Roraima consta com 872 profissionais para atender a população. Ou seja, 2,7 médico por cada mil habitantes, conforme a população da Capital. 

“Este número não prejudica o acesso à saúde, mas sim a falta de condições que hoje são inexistentes. Por isso, não aceitamos que a culpa seja colocada exclusivamente na quantidade de profissionais. Esta distorção ilude a população e não resolve o problema”, ressaltou.

Sindicato dos Médicos reclama de condições de trabalho

O Sindicato dos Médicos do Estado de Roraima (Simed-RR), por sua vez, considerou a visita da EBSERH como uma manobra “evasiva e despropositada” considerando ser de conhecimento geral a carência de equipamentos, materiais médico-hospitalares e medicamentos.

“Ainda que se queira, por qualquer razão mascarar a realidade, basta que se busque uma unidade de saúde para constatar que sequer exames básicos são realizados e procedimentos cirúrgicos são cancelados aos montes, não pela falta de profissionais médicos, mas sim pela falta de equipamentos, médico-hospitalares ou até mesmo das condições mínimas para que se promova um procedimento”, afirmou o Simed.

Quanto aos médicos, o Sindicato afirma que os profissionais “não têm medido esforços para prestar um serviço de qualidade”, mesmo com as condições de trabalho dentro das unidades, “associado ao fato de alguns estarem com salários atrasados há dois meses”.

O Simed sugeriu ainda que os técnicos da EBSERH fizessem um levantamento das redes de abastecimento de materiais médico-hospitalares e de medicamentos “para que o foco dos problemas na saúde do Estado fosse de fato combatido com eficiência e efetividade”.

EBSERH alega que visitou o Estado para realizar mutirões de saúde

Procurada pela Folha, a Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares, órgão vinculado ao Ministério da Educação (MEC), informou que sua visita a Roraima teve como objetivo avaliar se seria possível a realização de ações itinerantes de atendimento de saúde no Estado. A informação vai de encontro ao que foi declarado pelo coordenador-geral da Empresa, Waldir João Júnior, sobre a transferência de profissionais ao Estado. 

Na nota encaminhada à Folha na tarde de ontem, 19, à gestão da Rede EBSERH disse que decidiu enviar uma equipe técnica para avaliar a possibilidade de realizar um, ou mais, de seus mutirões de saúde considerando as dificuldades que Roraima atravessa com a entrada de milhares de imigrantes venezuelanos.

“A equipe se dividiu em três grupos e manteve reuniões com representantes do Exército, do Governo do Estado e do Governo Municipal, a fim de identificar as principais necessidades advindas da entrada desses imigrantes e avaliar, posteriormente, a possibilidade de realizar algum tipo de ação nos moldes dos que já faz no país”, afirmou.

A gestão informou que na próxima terça-feira, 24, irá se reunir para discutir o assunto junto com sua diretoria e superintendentes, com base no relatório apresentado pela equipe que esteve em Roraima. Só assim, a empresa “irá avaliar a possibilidade, ou não, de realizar um, ou mais, mutirões de saúde no Estado”.

Sesau declara estar com ‘diálogo aberto’ para identificar problemas

A Secretaria Estadual de Saúde (Sesau) disse que a gestão está aberta a diálogos com todas as classes do setor no sentido de identificar problemas a serem resolvidos, bem como prestar esclarecimentos sobre as ações tomadas em busca de melhorias para o setor.

Com relação ao atraso nos salários, a Sesau afirmou que todos os servidores efetivos, inclusive médicos, estão com salário em dia, “conforme o calendário de pagamento estabelecido pelo Governo do Estado para o ano de 2018”.

“A Sesau não mede esforços para buscar melhorias, principalmente em relação ao abastecimento das Unidades de Saúde e vem trabalhando para manter o abastecimento de forma que não faltem materiais para a realização de cirurgias, nem remédios para atender os pacientes”, diz trecho da nota.

A Folha também entrou em contato com o deputado Hiran Gonçalves (PP), que acompanhou a visita da EBSERH a Roraima, porém, não obteve retorno do parlamentar até o fechamentoda matéria. (P.C.)