Cotidiano

Ataques de piranhas chegam a 24 em balneários, 11 apenas na Praia Grande

Somente no feriado do meio da semana passada, dia 15, foram seis registros de ataques a banhistas na Praia Grande

Um levantamento feito pelo Corpo de Bombeiros Militar de Roraima (CMBRR) aponta que, dos 24 atendimentos realizados no mês passado por guarnições de guarda-vidas a vítimas de ataque de piranhas, nos balneários públicos da Capital, 11 ocorreram na Praia Grande, do outro lado do Rio Branco. O local costuma receber grande número de pessoas, principalmente no período do verão roraimense.

Os números por si só preocupam as autoridades, já que as ocorrências passaram a se tornar cada vez mais frequentes. “Apesar de o serviço de orientação permanecer efetivamente aos domingos, o Corpo de Bombeiros esclarece que não há registros de ocorrências envolvendo ataque de piranhas em anos anteriores e que os dados estatísticos apontam os serviços de orientação e prevenção realizados pelas equipes de guarda-vidas”, destacou o órgão.

Somente no dia 15, feriado da Proclamação da República, estima-se que seis pessoas foram vítimas de ataques na Praia Grande, que fica na jurisdição do Município do Cantá e onde os banhistas chegam de barco partidos dos portos na área central de Boa Vista. Os números ainda não foram oficializados nos dados do Corpo de Bombeiros, no entanto, banhistas afirmaram para a Folha que ficaram mais receosos com a possibilidade de mais ataques.

“Nunca havia passado por uma situação dessas. Estava na água e de repente senti uma fisgada no pé. Fui para a areia e notei que meu pé estava sangrando”, relatou o professor Bezaleel Guimarães, a mais recente vítima do ataque no feriado do meio da semana. Ele estava na praia com um grupo de amigos na tarde quinta-feira.

Ele relatou ter ficado surpreso, já que afirma ser um frequentador assíduo da Praia Grande. Também se queixou do atendimento prestado pelos guarda-vidas que estavam naquele dia. “Não era uma dor forte, mas incomodava e parecia que nunca ia parar de sangrar. Recebi atendimento dos guarda-vidas, mas parecia-me que eles não tinham afinidade com aquele tipo de ocorrência, e isso é muito complicado. A gente acaba se apavorando com isso”, comentou.

Em relação à reclamação do banhista, o Corpo de Bombeiros ressaltou que mantêm equipes de guarda-vidas de prontidão na Praia Grande e também outros balneários situados às margens do Rio Cauamé. “Tendo em vista que a corporação mantém duas equipes de guarda-vidas, aos domingos, no Rio Branco e Rio Cauamé, em apoio à Defesa Civil Municipal, percorrendo os balneários concentrados na parte urbana da Capital, destinado ao trabalho de prevenção a acidentes aquáticos nessas localidades e com o serviço de orientação e alerta aos frequentadores dos balneários sobre ocorrências com ataques de piranhas”, complementou.

ORIENTAÇÃO – O CBMRR ressaltou que os banhistas devem evitar o despejo de alimentos ou objetos na água, o que, segundo eles, tem contribuído para a incidência de ataques. “As orientações para quem frequenta esses ambientes é que evitem descartar restos de alimentos nos locais destinados às atividades de balneabilidade, evitem entrar nas águas com ferimento no corpo ou qualquer tipo de objeto que possa despertar atenção ou curiosidade dessa espécie, pois são atraídas também pelos movimentos”, destacou. (M.L)

Ação do homem no ecossistema pode influenciar nos ataques, avalia biólogo

O crescimento de ataques de piranhas nos balneários da Capital tem provocado vários questionamentos não só na população, mas também entre as autoridades. Muitas são as perguntas sobre o que estaria provocando esse fenômeno, mas poucas são as respostas para uma compreensão maior sobre a questão. 

Para o biólogo do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), Romério Bríglia, a ação do homem no ecossistema da espécies aquáticas locais pode ser uma das explicações mais prováveis para justificar o crescimento de tantas ocorrências dessa natureza.

“Antigamente, eram poucas pessoas que frequentavam balneários na nossa cidade e hoje você percebe que cresceu a procura por esse tipo de local, principalmente nos finais de semanas e feriados. Aumentando a concentração de pessoas, consequentemente os espaços diminuem, e isso acaba influenciando no ecossistema de algumas espécies. Não que isso não ocorresse, mas esse fenômeno era menos sentido do que é agora”, disse.

Conforme Bríglia, diferente de outras espécies de peixes, aa piranhas não são peixes que costumam seguir fluxos migratórios, independe do período do ano e sua desova ocorre de forma parcelada, podendo ela fixar seus ninhos em qualquer ambiente que ache cômodo.

“Diferente de outras espécies, o período reprodutivo da piranha depende muito mais de pulsos de inundação, do rio encher ou secar, e do ambiente propiciar condições mais favoráveis do que uma época específica. Provavelmente, elas continuam fazendo pequenos ninhos nas partes rasas da praia, áreas essas que acabam sendo pisoteadas pelos banhistas, resultando nesses ataques, já que são espécies com comportamento instintivo de defesa. Elas são onívoras, ou seja, comem de tudo e se beneficiam de qualquer recurso que lhe sirvam de alimento”, ressaltou.

Ainda segundo o biólogo do ICMBio, algumas localidades do Amazonas também estão passando pelos mesmos problemas enfrentados em Boa Vista, fazendo com que especialistas desenvolvam técnicas que permitam minimizar a ocorrência de ataques. “Recentemente, em Manaus, um flutuante chamado Abaré também passou a registrar ocorrências simulares e, por conta disso, passaram a desenvolver alguns mecanismos de defesa para reduz esses taques. Por lá, eles colocaram uma rede de proteção nas áreas onde as pessoas usam para tomar banho, e isso já tem trazido resultados bem positivos. Então, acho uma boa solução para alguns balneários da Capital, principalmente naqueles locais que costumam atrair mais gente”, frisou. (M.L)