Cotidiano

7 em cada dez estupros são contra crianças

Delegada analisa dados e afirma que é preciso criar rede de conscientização sobre violência contra a mulher

A violência contra a mulher está enraizada na sociedade brasileira. Os crimes são vivenciados diariamente pelas mulheres, que vão dos assédios nas ruas até os atos mais graves, como agressão física, estupros e o feminicídio. Uma pesquisa feita pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública em (FBPS), em 2016, mostrou que uma mulher é estuprada a cada 11 minutos no Brasil.

Em Roraima, os dados de crimes de estupro estão aumentando a cada ano. Em 2016, foram 72 crimes registrados, desse número, 35 eram de estupro de vulnerável (menores de 14 anos). No ano seguinte, os dados subiram 173 casos, sendo 119 contra crianças e 54 contra adultos. Em 2018, até julho, já são 138 registros, sendo 94 de crianças e adolescentes. 

Para a delegada geral da Polícia Civil, Giuliana Castro Lima, o estupro está acima da questão sexual, pois é um crime relacionado à necessidade do agressor em mostrar poder. Ela defende a ideia que a castração química não é punição para evitar que o abuso aconteça, pois em muitos casos, objetos também são utilizados para consumar o crime. As mudanças na Constituição Federal com a aprovação da Lei da Maria da Penha dão suporte para que as mulheres consigam denunciar e saírem da condição de vítima.

No entanto, a delegada afirmou que os dados registrados não refletem a realidade justamente porque muitos casos não são denunciados, então existe a possibilidade dos números serem maiores. No caso de estupro de vulnerável, muitos acontecem dentro de casa e o agressor é geralmente alguém próximo da vítima, o que cria uma espécie de pacto de silêncio e dificulta que o crime seja levado à Polícia.

“Quando o abuso acontece dentro da casa, existe um nefasto pacto de sigilo entre a vítima e o agressor. A vítima tem medo de denunciar e o agressor se sobrepõe porque ele exerce autoridade sob a vida daquela criança e a criança faz esse pacto de silêncio. É muito difícil romper essa agressão”, ressaltou.

Giuliana disse que, nesses casos, é preciso perceber mudanças de comportamento das crianças, que podem apresentar pequenas alterações que indicam que sofreu algum abuso sexual, seja com tiques nervosos ou evitar estar na presença de uma determinada pessoa.

Outro ponto levantado pela delegada, foi casos de estupro dentro dos casamentos. Ainda existe a mentalidade que a esposa tem, independente da vontade dela, o dever de praticar o ato sexual com o marido, porém, a prática já é considerada crime atualmente.

COMBATE – De acordo com a delegada, a Polícia Civil tem realizado ações de conscientização sobre a violência contra a mulher por meio de palestras em conjunto com a Secretaria Estadual do Trabalho e Bem-Estar Social (Setrabes) nos bairros onde a incidência do crime é maior. “A violência contra a mulher não depende de classe social, mas devido a maior concentração de pessoas naquelas localidades, então a gente trabalha com essas palestras como trabalho de prevenção e também de punição. Uma das funções da pena é que as pessoas inibam o seu comportamento do crime que ela ia praticar”, apontou.

A delegada entende que existe uma necessidade de mudança também no efetivo de policiais tanto na Delegacia Especializada no Atendimento à Mulher (DEAM), como na Delegacia de Defesa da Infância e Juventude (DDIJ) e relação à especialização nos atendimentos e designação de mais servidores que estejam capacitados para receberem as vítimas em situação vulnerável. Giuliana informou ainda que a Polícia Civil pretende reativar o plantão 24 horas nas delegacias, já que atualmente só funciona em horário de expediente de segunda a sexta-feira.

Falta de antecedentes criminais de imigrantes é preocupante, diz delegada

Com o aumento populacional causado pela migração venezuelana, a delegada geral da Polícia Civil, Giuliana Castro, admitiu que houve também mais registros de crimes cometidos contra mulheres e crianças. Segundo informou, a violência sexual está entre os casos investigados pela polícia, que já flagrou ocorrências dentro dos abrigos.

“Ao mesmo tempo que a gente tem crimes de pessoas de nacionalidade venezuelana sendo autores de crimes, temos também pessoas sendo vítimas desses crimes. Não há nenhum controle de antecedentes, então dentre todas essas centenas de milhares de pessoas que estão entrando no nosso estado inevitavelmente vai ter gente de má índole e, como não existe esse controle pode ter estuprador, homicida, gente de tudo quanto é tipo. A maioria é do bem, mas também existe os criminosos”, informou.

A delegada garantiu que,para combater a violência contra a mulher, o primeiro passo é a conscientização das pessoas sobre o tema, em seguida romper o julgamento para com as vítimas, para que dessa forma seja possível acolher e mostrar os caminhos necessários para a denúncia e punição do agressor. “A diferença é o olhar atento e não aceitar a violência. Muitas vezes as vítimas se submetem a situação de violência não apenas pelo medo, mas também dependência financeira. A partir do momento que ela se sente empoderada, que ela percebe que tem o poder dentro de si, ela começa a se libertar daquela situação de violência”, finalizou. (A.P.L)