Cotidiano

‘Quebrando o Silêncio’ faz alerta para combate à violência doméstica e abusos

Sociedade é chamada a discutir a violência doméstica e a violência sexual contra crianças e adolescentes

Todos os dias, a mídia apresenta um quadro de violência assustador. Crianças, mulheres e idosos são as principais vítimas. Segundo a Organização Mundial em Saúde, a violência responde por aproximadamente 7% de todas as mortes de mulheres entre 15 e 44 anos no mundo. Em alguns países, até 69% das mulheres relatam terem sido agredidas fisicamente e até 47% declaram que sua primeira relação sexual foi forçada. Roraima aparece como um dos estados com maior índice de violência doméstica no país.

Para alertar sobre o problema, a Igreja Adventista promoveu, no sábado, 26, e domingo, 27, em Boa Vista, o evento “Quebrando o Silêncio” com o objetivo de debater todos os tipos de violência doméstica, dando destaque à violência sexual. Foi realizado um fórum de debate na Praça Germano Sampaio, localizada no bairro Pintolândia, na zona oeste. Uma carreata com nome “Mulher Mais” foi realizada, além de uma corrida com tema “Mexa-se pela vida”.

O principal tema debatido no fórum foi “Combate à violência sexual contra crianças e adolescentes”. Os idealizadores do evento cobraram constante mobilização da sociedade e argumentaram que a imprensa exerce um papel fundamental nesse contexto ao denunciar casos de violação de direitos e alertar a população sobre o problema, bem como cobrar o posicionamento das autoridades.

A titular do Juizado Especializado da Mulher, juíza Maria Aparecida Curi, disse que os números não correspondem à realidade. Segundo ela, os dados referem-se a um quantitativo populacional, e o Estado aparece como um dos primeiros nas estatísticas por ter uma população pequena comparada aos outros estados do Brasil, com apenas mais de quinhentos mil habitantes. Ela afirmou que a consciência das pessoas é o principal fator para o combate a esse tipo de violência e que é preciso que as autoridades tomem conhecimento para que a lei seja cumprida.

“Precisamos acima de tudo contar com a população. A participação das pessoas é importantíssima para combatermos esses crimes. A cabeça das pessoas tem que mudar, a consciência deve se estabelecer, e a denúncia têm que ser obrigação de todos”, enfatizou a magistrada.

Conforme a coordenadora do evento, Elciany Saraiva, essa é a décima quarta edição do “Quebrando o Silêncio”. Segundo ela, o alcance do projeto já é muito grande e tem abrangido todo Estado, onde escolas, igrejas e órgãos públicos têm apoiado e participado efetivamente. “Essa edição tem tomado uma grande dimensão. É a consolidação do nosso trabalho, unindo forças para essa causa tão urgente que é o combate a violência doméstica”, ressaltou. (E.S)

Mostra fotográfica será exposta no hall da Assembleia Legislativa

O Centro Humanitário de Apoio à Mulher (Chame) da Assembleia Legislativa do Estado (ALERR) participou, no sábado, 26, na Praça Germano Augusto Sampaio, do encerramento do projeto “Quebrando o Silêncio”, coordenado pela igreja Adventista do Sétimo Dia. A mostra fotográfica, que leva o mesmo nome dessa ação, estará sendo exposta nesta semana no Hall da ALE, na Praça do Centro Cívico.

O projeto tem como finalidade discutir as diversas formas de violência, principalmente a praticada contra a mulher, e orientar a sociedade a identificar os sinais da violência e os procedimentos a serem adotados para combater esse mal, que já destruiu inúmeras famílias e continua destruindo vidas.

A adjunta da Procuradoria Especial da Mulher, Sara Patrícia Farias, ressaltou que esse projeto, que pela primeira vez faz parceria com a Procuradoria, corrobora com todas as ações desenvolvidas pelo Chame. “Principalmente com o projeto Olhos de Maria, que realiza roda de conversa com as mulheres evangélicas, uma vez que 40% das mulheres atendidas pelo Chame são evangélicas. Então, as autoridades que estão neste encerramento vão debater e levantar soluções para erradicação da violência, especificamente do estupro contra mulheres e meninas do nosso Estado”, disse.

Ela enfatizou que a parceria da igreja é importante porque será através dos líderes religiosos que essa informação sobre a violência doméstica poderá chegar até as mulheres, para que possam se prevenir e enfrentar com sabedoria esse mal do século. “Por excelência, sabemos que a educação é transformadora, então a informação levada às escolas por meio do projeto Papo Reto e do Núcleo de Prevenção e Enfrentamento ao Tráfico de Mulheres tem surtido resultados positivos”, comentou Sara Patrícia, ao anunciar que a mostra fotográfica Quebrando o Silêncio será exposta nesta semana na ALE.

A coordenadora do Quebrando o Silêncio, Euciane Saraiva, disse que durante esses 14 anos do evento, mais de 25 mil crianças e adolescentes foram orientados sobre o abuso sexual. “Três delas, após conhecerem o projeto, denunciaram os agressores, o que nos deixa muito felizes. É preciso falar mais, quebrar alguns tabus que envolvem toda essa questão da violência contra a mulher, criança e adolescentes. Abordamos o tema de forma lúdica e dinâmica para que as crianças possam entender o papel delas na sociedade, que não precisam ser vítimas, mas pessoas de sucesso”, disse.

A evangélica Francilda Pereira da Silva, membro da Igreja Adventista do Sétimo Dia, conhece o projeto desde o início. Ela afirmou que considera a ação interessante, principalmente dentro das igrejas, onde a mulher costuma ter vergonha de falar que sofre algum tipo de violência por parte do companheiro. “A violência não é só um tapa, um empurrão, mas palavras que machucam e magoam. A mulher, em geral, ao ver uma amiga em um bom relacionamento, fica com vergonha de falar que seu relacionamento não está bem e prefere esconder as agressões. Mas não pode ser assim, tem que falar, botar para fora, pedir socorro e quebrar o silêncio”, disse.

Segundo ela, a cartilha em linguagem lúdica, feita para crianças, também contribui para a família educar os filhos. “Muitas crianças sofrem abuso dentro de casa e ficam acuadas só em lembrar que o agressor é amigo ou parente da família, tendo medo de contar aos pais. As mães evangélicas têm que conversar e ensinar aos filhos a não esconderem esses casos. E se notarem algum comportamento diferente na criança, tem que conversar com carinho para saber o que está acontecendo”, complementou.

Uma menina de sete anos leu e assimilou bem o recado dado pela cartilha. “Achei interessante porque a menina saiu do silêncio e falou para a professora que o pai só vivia gritando com ela. A professora conversou com a mãe e a família voltou a ser feliz. O filho não pode esconder da mãe as coisas, tem que falar tudo para voltar a ser feliz”, comentou a mãe da garota.