Cotidiano

Professores do CSE afirmam que aulas não foram interrompidas

Docentes informaram que não houve nenhum acordo de suspensão de aulas antes da rebelião de segunda-feira, 13

Professores que atuam no Centro Socioeducativo Homero de Souza Cruz Filho (CSE) procuraram a Folha para afirmar que as atividades da escola que funciona na unidade de internação para adolescentes em conflito com a lei não foram paralisadas em momento algum. 

Segundo os professores, na sexta-feira da semana passada, o Sindicato dos Trabalhadores Civis Efetivos do Poder Executivo de Roraima (Sintraima) se reuniu com os agentes socioeducadores e anunciou uma paralisação das atividades coletivas, mas que não visavam encerrar as aulas por entenderem que são necessárias para o processo de ressocialização dos adolescentes.

Conforme trecho de uma carta feita pelos professores encaminhada à Folha, desde agosto de 2017, após uma rebelião, as atividades passaram a acontecer com número reduzido de internos com a finalidade de manter a integridade física dos adolescentes. A carta segue dizendo que os grupos de facções criminosas passaram a entrar em conflitos e surgiram ameaças de morte.

Para evitar brigas entre os internos, as aulas estão sendo ministradas diariamente nos turnos matutino e vespertino em grupos separados para que todos realizem devidamente as atividades. Dentro do CSE, são realizadas aulas de todas as disciplinas e também atividades esportivas.

De acordo com a professora de educação física, Márcia Utsch, as aulas estavam acontecendo normalmente até que na madrugada de segunda-feira, 13, houve uma nova rebelião e as aulas estão suspensas até que sejam finalizadas as obras de reestruturação no local.“A capela, a cozinha e a escola estão preservadas. De certa forma, a gente entende isso como um respeito que eles [adolescentes] têm pelo nosso trabalho. Eu digo que tenho uma tensão em trabalhar no CSE, mas eu não olho pelos crimes e infrações que eles cometeram. Olho para eles como alunos, acho que por isso que temos o respeito deles. Toda a equipe [de professores] é assim”, disse.

Os professores garantiram ainda que, com a nova direção da unidade, não houve nenhum momento de paralisação e que estão aguardando somente um local seguro para a retomada das aulas normalmente. “Teve uma rebelião no mês passado e, até que eles consigam se organizar, as atividades ficam suspensas, mas isso não dura o mês inteiro”, disse Márcia.

A professora completou ainda dizendo que no momento não existe nenhum socioeducador paralisado, que apenas estão evitando realizar atividades em grandes grupos por falta de agentes para atender o número de internos. 

Os professores informaram que, depois da rebelião de segunda-feira, 13, a situação dentro da unidade é caótica, com o cheio de fumaça causada pelo incêndio nos colchões e das alas que foram destruídas. Ao serem questionados sobre como está o andamento das obras e se seriam suficientes para atender a unidade, os professores preferiram não se manifestar. “Estamos de sobreaviso, o diretor pode entrar em contato conosco para que possamos retornar ao trabalho, conversando e ver a questão de segurança, isso vai ser colocado para a gente como ele [diretor] sempre priorizou”, apontou a coordenadora da escola, Édina Silva.

Os docentes esclareceram ainda que, durante todo o ano, não houve nenhum momento de paralisação por parte deles. “Todas as vezes que tivemos problemas com rebelião, sempre que alguma coisa acontece, tem sempre um período para que as coisas se organizem, fica sem atividade escolar, mas fica também fica sem outras atividades”, completou a professora Márcia.

RESPEITO – De acordo com os professores, mesmo com a mudança de perfil dos internos nos últimos meses, que ficaram mais agressivos, os professores garantem que são respeitados pelos adolescentes e que não têm medo de trabalhar na unidade.

“Já aconteceu de ter briga e, na hora, os meninos ficarem na frente do professor para que não aconteça nada, então eles protegem. Às vezes eles nos buscam e conversam muito mais conosco do que com os psicólogos. Tem essa afinidade com os professores”, garantiu a professora de alfabetização Zélia Rêgo.

A professora Márcia ressaltou que os internos passam por um processo de educação em que a prioridade é a ressocialização, portanto, incentivam a se inscreverem em concursos de redação e pré-vestibulares. Isso garante que os adolescentes tenham mais afinidade com os docentes do que os contatos que possuem com os agentes socioeducadores. (A.P.L)

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