Saúde e Bem-estar

Transtorno de puxar pelos do corpo é causado por ansiedade

Somos o país mais ansioso do mundo de acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS), com 23,9% dos brasileiros com algum tipo de transtorno de ansiedade e 5,8% com quadro depressivo. Dentre os fatores que determinam esses números, estão questões socioeconômicas, desemprego e mudanças sociais nas últimas décadas que caracterizam os motivos que levam mais crianças e adolescentes a entrarem nesse quadro.

Com a ansiedade, diversos outros transtornos mentais podem ser apresentados oriundos da doença, visíveis ou não para o indivíduo e para as pessoas que o cercam. Dentre eles, está o transtorno de tricotilomania, definido com a vontade irresistível de arrancar pelos do corpo como uma forma de aliviar o estresse.

 De acordo com a psicóloga Andrelina Gonçalves, a tricotilomania pode se manifestar também pela genética, mas que é um conjunto de fatores que pode agravar ou melhorar o transtorno. A maior dificuldade para quem apresenta sinais da doença é a negação em aceitar que precisa de ajuda, por não conseguir perceber que perdeu o controle das próprias ações, o que resulta em um tratamento tardio.

“O transtorno é um ato compulsivo da retirada de pelos, pode ser do couro cabeludo, sobrancelhas, cílios e outras partes do corpo. Se tem a intenção de retirar constantemente quando passa por uma situação de estresse ou ansiedade, já demonstra o vício. Geralmente quem retira o cabelo passa a cobrir, pois de tanto puxar, não nasce um cabelo novo”, explicou.

A psicóloga disse ainda que a pessoa com tricotilomania pode manifestar diversas formas de evitar o contato em público ou se expor com medo que seja perceptível para outras pessoas, o que agrava ainda mais a ansiedade. “A gente passa a considerar qualquer tipo de problemas mentais como transtorno quando isso passa a afetar a vida pessoal, profissional e acadêmica. Se faz e não incomoda, então não pode dizer que é transtorno e sim apenas um problema”, completou.

Andrelina ressaltou que além de fatores biológicos, as relações interpessoais também influenciam para a piora da ansiedade, como problemas de autoestima e isolamento social por introversão, o que arrebata também crianças e adolescentes.

“Hoje o desenvolvimento humano é muito mais acelerado. A criança já é estimulada na barriga da mãe, o que não era antigamente. Além disso, a pouca interação social dentro das cidades está se tornando frequente, a maioria não tem mais interesse em diálogo. Hoje, nós temos nos isolado mais no mundo da internet, o que causa baixa tolerância à frustração e mais falta de paciência”, garantiu.

Sem o devido tratamento, o desenvolvimento da doença pode gerar outros transtornos psicológicos oriundos da retirada do cabelo, como ingerir os fios arrancados. Essa outra prática é chamada tricofagia e causa problemas físicos como o aumento do estômago.

TRATAMENTO – A tricotilomania tem cura e quanto mais cedo o diagnóstico, mais rápido os resultados positivos. Porém, a psicóloga apontou que para que haja o devido tratamento, o indivíduo precisa reconhecer que está com um transtorno mental. “Se essa pessoa se dá conta que ela tem algo que tá incomodando a vida dela e ela está deixando de fazer as coisas por causa daquilo e quer ajuda, pode ser que ela não vá pedir, alguém da família precisa observar porque essa pessoa pode ter mais dificuldade em tratar já que ela não acredita que está doente”, apontou.

O acompanhamento para a cura do transtorno é feito com o médico psiquiatra, quanto ao tratamento por meio da terapia, associada com uso de medicamentos indicados para melhora da ansiedade. Além do tratamento psicológico, para a recuperação da autoestima, é preciso também o auxílio de um dermatologista, mas o mais importante é o suporte da família e dos amigos, conforme disse a psicóloga.

Por fim, a profissional manifestou a importância de conversar sobre os transtornos mentais para quebrar as barreiras impostas às doenças mentais, que muitas vezes gera preconceito e agrava os sintomas para quem sofre com elas. “Precisamos ter mais espaço sobre isso porque nossas crianças e adolescentes já estão ficando doentes”, encerrou.