Jessé Souza

Vestibular da vida 4482

Vestibular da vidaA cada foto de jovens presos, moças e rapazes, que desfilam na imprensa e nos grupos de WhatsApp, acusados de tráfico de drogas e de pertencerem ao crime organizado, significa que estas  pessoas passam  à condição de “debutantes do crime”, como se fosse uma nova fase na vida deles.

A partir da prisão, esses jovens deverão ser recolhidos ao sistema prisional, o que significa juntar-se aos criminosos experientes e onde o crime organizado mantém seus líderes. É como entrar para a “universidade do crime” e muito provavelmente sairão de lá formados na bandidagem, que é a próxima fase de suas vidas.

Nos bairros mais afastados do Centro, onde as decisões políticas são tomadas, esses jovens provavelmente já abandonaram os estudos e não tinham nenhuma ocupação. O tráfico de drogas passou a ser a forma de ganhar dinheiro e de terem acesso a aquilo que eles querem, mas não podem, já que pertencem a famílias sem condições financeiras.

Entrar para uma facção criminosa é consequência e representa não apenas essa simbologia de pertencimento a um grupo, de estar abrigado entre aqueles que pensam de forma igual e sentem-se fortalecidos, defendendo o mesmo pensamento, mas também de sobrevivência no submundo da ilegalidade.

O potencial de empreendedorismo (vender drogas), o ideal de ser um transformador de mundo e de luta contra o sistema (integrar a uma facção que enfrenta a polícia), além do espírito aventureiro (adrenalina por viver na ilegalidade) acabam sendo aproveitados pelo crime.

Esse bolo de realidade está crescendo nos bairros de Boa Vista, principalmente naqueles mais populosos, fomentado pela falta de perspectiva das famílias mais pobres e de políticas públicas que abracem os ideais dos jovens e adolescentes, os quais já enfrentam uma realidade de exclusão, a começar pela família desestruturada.

Esse é o grande desafio do Estado de Roraima, que é impedir que a infância e a juventude sejam lançadas ao desalento e desesperança, sem oportunidades para aproveitar todas as suas potencialidades para o caminho do bem. É aqui que se deve começar a combater o avanço da criminalidade, impedindo que os adolescentes fiquem ociosos e sejam cooptados para o crime, a partir das drogas.

Essa não é uma luta só dos governantes, do poder público. Deve ser de todos nós, da família, da escola, da iniciativa privada, das entidades custeadas com verbas públicas, enfim, da sociedade de uma forma geral. Se assim não for, quem se organiza é o crime.  *[email protected]: www.roraimadefato.com.br