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VITALINA DA SILVA SALES 1923 2014 1789

VITALINA DA SILVA SALES (1923 – 2014)Filha de Severino Mineiro, o fundador do Uiramutã

Vitalina da Silva Sales nasceu na comunidade da Vila Socó, localizada entre os rios Cotingo e Maú, no Uiramutã, na fronteira do Brasil com a Guiana.

Ainda pequena, perdeu a figura materna (a índia Semari). Mas, recebeu todo o apoio da sua irmã Mariinha que, a partir daquele momento, passaria a ser a nova mãe, e orientadora. Do pai, Severino Pereira da Silva (o “Severino Mineiro”) herdou a bravura e a coragem.    

Vitalina da Silva casou-se com Emílio Barroso Sales (Miló), e do casal nasceram 15 (quinze) filhos: Maria Emília Sales Vieira, Ivanilde Islan Sales de Souza, Iranita da Silva Sales, Francisca das Chagas Sales Vasconcelos, Janes de Melo, Míriam Sales Veras, José Iran Barroso Sales, Domingos Amsterdan (Míster), Manoel Dorleans Sales Vieira, Oderlan Sales Vieira, Ednoran Sales Vieira, Joterdan Sales Vieira, Pedro Gontran Sales Vieira, Eldoran Sales Vieira, e João Morandiel Sales Vieira.

A matriarca Vitalina da Silva Sales faleceu no dia 24/08/2014, aos 91 anos de idade.

A localidade de Uiramutã (hoje Município) foi fundada em 1911 por seu pai, o paraibano Severino Pereira da Silva.

Severino chegou a Boa Vista em 1908 e passou a trabalhar com a extração da balata, um vegetal de onde se extrai uma espécie de borracha. Pouco tempo depois passou a explorar ouro e diamante. Severino realizou a abertura dos primeiros garimpos em Roraima. A introdução da técnica de garimpagem do ouro por meio de galerias, no Igarapé Urucá, no Uiramutã, rendeu-lhe a substituição do sobrenome “Pereira da Silva”, por: “Severino Mineiro”, nome que ficou imortalizado em tantas histórias contadas sobre ele. O lendário Severino Mineiro expulsou vários “exploradores de garimpo e de balata” vindos da vizinha Guiana, que adentravam a região fronteiriça com o Uiramutã.

Em 1929, o Severino Mineiro hospedou em sua casa, na comunidade do Socó, a primeira equipe da “Comissão Federal de Limites” que fazia o levantamento topográfico para marcar a fronteira Norte do Brasil, com a Guiana e a Venezuela. Nesta visita, foi convidado (e, aceitou) acompanhar o chefe da Equipe, o próprio Marechal Rondon, que necessitava de uma pessoa que conhecesse bem a região. Ao fim da empreitada, recebeu diversos elogios do Marechal Rondon e de toda a equipe que o acompanhava.

Em 1930, Severino Mineiro foi ao Rio de Janeiro, atendendo um convite do Presidente da República Getúlio Vargas, e dele recebeu formalmente a autoridade para continuar fazendo a defesa da fronteira do Brasil com a Guiana. Fato este que encheu o Severino de orgulho e de muita responsabilidade.

A convivência pacífica com os indígenas também pontuou a vida de Severino Mineiro. Nas longas viagens que fazia a pé ou a cavalo, para Boa Vista, prá comprar mantimentos, ele se fazia acompanhar por grupos de até trinta índios. A maioria deles vivia nas fazendas do Severino, e muitos formaram suas próprias famílias, recebendo todo o apoio, gado e casas.

Severino teve duas esposas, ambas eram índias. A primeira, a senhora Samari Pereira da Silva, da etnia patamona, da comunidade do Flechal. Quando esta faleceu, o Severino casou com a índia Vitória, da etnia Macuxi.

Uma das filhas de Severino Mineiro (com a índia Semari) foi a Parteira Patrocínia Leite (casada com o Francisco Leite, o Chico Leite – hoje, vivo, com mais de 100 anos de idade). A parteira Patrocínia ajudou a vir ao mundo mais de mil crianças, numa época em que os únicos médicos em Boa Vista eram: Francisco Elesbão, Silvio Botelho e Reinaldo Neves. Uma outra filha, a Mariinha, foi casada com Cici Mota, pais do Zélio Mota.

O lendário Severino Mineiro faleceu em 1950, aos 75 anos de idade. Os índios choraram sua morte. E, quando uma das filhas de Vitalina Sales nasceu, as índias queriam levar para si a neta do “meu branco Severino”, como ele era carinhosamente chamado.