Jessé Souza

Preocupacao em tempo de tragedia 6160

Preocupação em tempo de tragédia

Quando estive em São Paulo, há quase dois meses, fiquei em um hotel na área central da capital paulista. Da janela do apartamento, dava para ver aquele prédio que desabou ao pegar fogo. Cheguei a tirar uma foto que mostra a igreja onde hoje os desabrigados estão acampados e, em segundo plano, o edifício que ruiu, o qual era ocupado pelas famílias sem-teto.

Como fiquei lá por uma semana, passei a pé pela calçada daquele prédio algumas vezes, que era tomado por pichações e visivelmente degradado. Observei que outros prédios naquela região também são ocupados pessoas pobres. Quem não consegue uma vaga nesses edifícios abandonados acaba morando na rua, onde fazem suas necessidades onde podem.

Ao retornar a Boa Vista, caminhando pelo Centro, logo percebi uma realidade muito semelhante à que vi e senti em SP: calçadas dos comércios tomadas por dejetos e uma fedentina devido a pessoas que fazem suas necessidades atrás das árvores, em locais escuros, prédios abandonados ou áreas não habitadas.

Aqui, os responsáveis por essa situação são os venezuelanos que ocupam as praças públicas e prédios abandonados na área central da cidade. Embora os que viviam acampados na Praça Capitão Clóvis tenham sido rematados para um abrigo, outros estão vivendo em casas abandonadas e praças próximas, ocultos pela correria do dia a dia do comércio e dos órgãos públicos daquela região.

Também invisível é a realidade de vários imóveis abandonadas na área central de Boa Vista, que antes da chegada dos venezuelanos serviam para abrigar viciados em droga, andarilhos com deficiência mental ou para esconder delinquentes que agem por ali. Esses imóveis não são poucos e revelam a especulação imobiliária, enquanto muitas famílias de roraimenses de baixa renda não conseguem uma moradia financiada pelo governo.

Enquanto famílias mais abastadas largam imóveis que não lhes fazem falta ao abandono, os programas habitacionais beneficiam quem não precisa, apontando que há algo que cheira muito ruim nesses processos de seleção de contemplados. Basta dar uma olhada nos classificados das redes sociais para logo se perceber gente vendendo casas do programa Minha Casa Minha Vida.

Em tempos de êxodo em massa de venezuelanos, a tendência é só piorar, pois se antes haviam somente os roraimenses buscando uma casa própria, agora temos os sem-tetos imigrantes na disputa por moradia ou um abrigo qualquer. E se não houver uma atenção sobre essas casas e prédios abandonados que estão sendo ocupados pelos estrangeiros, não só no Centro como em outros bairros, não tardará para ocorrer uma tragédia. Afinal, essas pessoas vivem em locais precários, propícios a ocorrer um incêndio, por exemplo. O alerta está dado.

* [email protected]: http://roraimadefato.com/main/