Jessé Souza

Pirulin com LSD 6408

Pirulin com LSD Na minha infância, as lendas urbanas se espalhavam rapidamente graças à ingenuidade das pessoas, que se alarmavam com o que não fosse habitual, e devido à desinformação de uma geração que não tinha as ferramentas necessárias para checar a veracidade do que era propagado. Mas a “rádio cipó” era eficiente no boca a boca naquele tempo.

Bastava que uma mãe inventasse – para que o filho não aceitasse nada de estranhos ou para que não comesse porcaria por aí – que o vendedor estava oferecendo bombom com droga na porta da escola para que aquilo se propagasse rapidamente por todo o bairro. E havia quem contasse que viu alguém desmaiar por mascar um chiclete com droga.

Assim surgiram as lendas da “velha da mala” e do “homem do saco”, criadas pelos pais para meter medo nas crianças para que elas não fossem para a rua ou não ficassem perambulando quando saíssem da escola. E havia meninos e meninas que saíam correndo quando viam qualquer andarilho ou estranho no meio da rua.

Atualmente, com tanta informação na palma da mão e várias formas de checar as informações imediatamente, as lendas se transformam em “verdade” devido à velocidade com que as mentiras circulam na internet. A mais recente é a do “Pirulin batizado com LSD”, com direito até a entrevista na TV, o que deu realidade a essa invencionice.

A estória já é estranha só pelo fato de o LSD não ser uma droga comum, produzida em laboratório, e custar mais caro que as demais, o que seria ilógico vender Pirulin com LSD aleatoriamente, no meio da rua, sem intenção de aplicar um golpe ou somente como suposta estratégia para viciar suas vítimas. E não há como afirmar se foi LSD sem que houvesse um exame laboratorial, que não é feito em hospital, só na boca de um médico.

Tudo cheira a uma invenção maldosa com o propósito de prejudicar imigrantes haitianos e venezuelanos que vendem esse produto oriundo da Venezuela bastante apreciado por brasileiros. E se for realmente isso, é mais um caso sério na tentativa de jogar a população contra os estrangeiros, que chegam ao Estado em busca de sobrevivência. E tudo reforçado por uma ironia, na internet, alegando que Pirulin seria a “droga” que os venezuelanos usavam para manter Hugo Chávez e, agora, Maduro no poder.

O caso assemelha-se ao que ocorreu, no final da década de 80, em Boa Vista, quando espelharam que o diabo teria aparecido na danceteria Senzala’s. E havia quem contasse detalhes: que ele tinha rabo, usava chapéu, que tinha capa, chifre e olhos vermelhos; houve até quem dissesse que viu ele saindo do meio da fumaça. No caso do “Pirulin batizado”, vai surgir até quem diga que viu alguém alucinado por ter comido a iguaria vendida no semáforo.

*Colaborador [email protected] Acesse: www.roraimadefato.com/main