Parabólica

Parabolica 15 08 2018 6750

Boa noite,

A narrativa da imprensa – escrita, televisada e falada – brasileira está diariamente recheada de notícias sobre o envolvimento de parlamentares -municipais, estaduais e federais- em todo tipo de conduta criminosa. Uns apresentam emendas ao orçamento da União para receberem propina (varia de 5% a 20%) das empreiteiras que executam as obras. Outros simplesmente exigem dinheiro na mão para votarem matérias de interesse dos respectivos governos; outros alteram Medidas Provisórias para beneficiar grupos empresariais, e tantas outras diabrites que neste espaço não caberiam se fosse nosso desejo citar todas elas.

Apesar de todo o destaque dado pela imprensa para essas condutas criminosas -e algumas dessas notícias são baseadas em denunciantes que pagaram os canalhas-, parece que os sobejos indícios de verdade não parecem capazes de provocar indignação e revolta de uma boa parte da população tupiniquim. Eles, os criminosos travestidos de parlamentares, continuam livres e soltos, sendo até aplaudidos por muita gente, a ponto de disputarem reeleição, mesmo sob o peso de vários processos contra eles tramitando na justiça. Não há qualquer movimento popular expressivo para bani-los da vida pública.

E parece haver no inconsciente coletivo uma aceitação tácita de que todo esse comportamento criminoso dos políticos é um traço natural naqueles que fazem política e disputam o poder. Nesse sentido, política e exercício do poder seriam atividades humanas aéticas e amorais. Vender votos, receber propinas, beneficiar grupos econômicos e tudo o mais seriam da essência da atividade dos políticos. É assim, que alguns definem a razão de continuar votando nesse tipo de políticos: “eles são um mal necessário”.

Pois bem, a mesma condescendência ou conivência com os malfeitos dos políticos em matéria de ética e moralidade no uso da coisa pública, parece não se estender para outras condutas desses mesmos políticos. Ontem, por exemplo, as redes sociais de Roraima restaram inundadas de imagens gravadas no interior da Assembleia Legislativa do Estado (ALE), onde apareciam dois deputados estaduais (Masamy Eda e Jânio Xingu) trocando socos no início da sessão plenária daquela Casa Legislativa. O fato viralizou -para usar o termo da moda- nas redes sociais.

Milhares de pessoas -que se diziam indignadas com a atitude dos dois parlamentares- compartilharam a exaustão a cena de pugilato. Em pouco tempo, um dos envolvidos no episódio, o deputado Jânio Xingu, publicou nota, também nas redes sociais, dando sua versão, e pedindo desculpas à população e ao colega de parlamento. E, a princípio, o motivo do desentendimento entre ambos seria de cunho pessoal e particular. Nada de desavença política, doutrinária ou ideológica.

O que se pode extrair desse episódio? Existem várias hipóteses, entre as quais, a de que muita gente aceita a roubalheira como normal, e acha muito mais condenável, do ponto de vista ético e moral, a agressão física entre dois parlamentares num ambiente público, mesmo que as causas sejam de natureza pessoal e particular. Outra hipótese, é que na falta de crença na punição dos corruptos, qualquer pretexto com provas materiais, serve de argumento para que parte da população exteriorize sua indignação represada. Tomara que neste caso, a hipótese verdadeira seja a última.

TRANSFERÊNCIA No início da tarde de ontem, terça-feira (14.08), um morador do Bairro 31 de Março -que decidimos não revelar a identidade, embora ele tenha se identificado- entrou em contato com a redação da Folha para dizer que tinha acabado de receber a informação de que os internos do Centro Socioeducativo (CSE) Homero de Souza Cruz Filho seriam transferidos para o prédio onde está funcionando o Centro de Ensino e Instrução do Corpo de Bombeiros, antiga escola 31 de Março.

VISITA “Ficamos sabendo que o juiz fará uma vista na manhã desta quarta-feira (hoje) e decidirá pelas transferências, mas nós moradores somos contra. O bairro é pacato e não queremos ficar à mercê desses adolescentes”, disse o morador. Ele informou também à redação da Folha que está mobilizando a vizinhança para conversar com o juiz. A transferência desses menores infratores seria necessária depois que as facções que dominam o CSE brigaram entre si e destruíram boa parte daquele estabelecimento prisional especializado. É mole?

ATENÇÕES Termina hoje à meia-noite o prazo para que os candidatos façam o pedido de registro de suas candidaturas na Justiça Eleitoral. Embora muitos já tenham tomado essa providência, as atenções dos brasileiros estarão voltadas para Brasília, em particular para o Tribunal Superior Eleitoral (TSE), onde da executiva nacional do PT irá protocolar o pedido de registro da candidatura do ex-presidente Lula da Silva, que está preso numa sala especial da Polícia Federal em Curitiba. Uma grande concentração de populares mobilizados por sindicatos e organizações sociais deve se postar a frente do TSE.

CULPA Todo esse questionamento sobre a inelegibilidade do ex-presidente Lula da Silva (PT) encontra ressonância num segmento importante dos brasileiros e das brasileiras por culpa da própria justiça brasileira. Tem muita gente que roubou muito mais que Lula -ele está preso sob a acusação de que teria acertado receber um apartamento de classe média no litoral paulista-, que está solto e lépido, com registro assegurado suas candidaturas. Tudo porque o Supremo Tribunal Federal está segurando a tramitação dos processos a que respondem. Desse ponto de vista, a prisão do ex-presidente é injusta, e parece de natureza política.