Parabólica

Parabolica 08 02 2018 5628

Bom dia,

Vamos contar um pouco da história. Noutro dia, quatro deputados federais de Roraima (Remídio Monai, Shéridan, Carlos Andrade e Hiran Gonçalves) estiveram com o presidente da República, Michel Temer (PMDB), para reclamar da falta de iniciativa do Governo Federal para enfrentar o grave problema da migração de milhares de venezuelanos tangidos pelo desastre econômico e social provocado pelo governo de Nicolás Maduro. Ao final da reunião, Temer prometeu aos parlamentares roraimenses que mandaria uma comitiva de ministros – na época chegou-se a falar em seis ministros –, que viriam ao estado para avaliar “in loco” a gravidade da situação para que fossem tomadas medidas atenuadoras da tragédia enfrentada pela gente venezuelana, e de grande desconforto para a população.

Logo depois do anúncio, o Palácio do Planalto marcou para o dia 08/02, hoje, a chegada da tal comitiva, agora com a anunciada presença de quatro ministros (Defesa, Justiça, Gabinete de Segurança Institucional e de Desenvolvimento Social). Tudo foi detalhadamente acertado, com reunião dos componentes da comitiva com a governadora Suely Campos (PP) e os técnicos do governo estadual, no Palácio Senador Hélio Campos para que fosse realizado um diagnóstico completo da situação. Para esclarecer todos os detalhes, equipes do governo estadual levantaram estatísticas, fizeram audiovisual e relatório fotográfico, tudo na crença de que os ministros viriam para tratar com seriedade o problema trazido pela chegada em massa dos venezuelanos.

Ontem, quarta-feira (7), por volta das 9h da manhã, a governadora Suely Campos foi informada pelo Palácio do Planalto de que a reunião dos ministros no Palácio Senador Hélio Campos fora suspensa sem que fosse dada qualquer justificativa para seu cancelamento. Para minorar as consequências da trapalhada, o Palácio do Planalto (Gabinete de Segurança Institucional) avisou a governadora que ela poderia ir conversar com os ministros na Base Aérea, onde a comitiva ficaria em terra, por algum tempo, esperando o reabastecimento do avião da Força Aérea Brasileira (FAB), num pouso técnico de um voo cujo destino final é o Suriname.

Ainda durante o dia de ontem, o Gabinete de Segurança Institucional, do Palácio do Planalto, divulgou nota informando que a comitiva teria apenas três ministros (Defesa, Justiça e Gabinete Institucional), que chegaria a Boa Vista na companhia de alguns deputados e do senador Romero Jucá (PMDB), que fez circular a notícia, numa clara intenção de induzir a crença da população de que fora, como sempre, o protagonista em mais essa patuscada do governo federal. Insatisfeitos com a aparente manobra política para transformar a curta presença desses ministros no estado, todos os deputados federais que iniciaram a tratativa para fazer o governo federal assumir as suas responsabilidades decidiram recusar o convite para integrar a tal comitiva.

Assim, mais uma vez, a estrutura do governo federal, com enorme dispêndio de dinheiro público, está sendo utilizada para buscar atingir objetivos politiqueiros, sem respeitar sequer o sofrimento de milhares de pessoas que vieram para Roraima, e aqui estão jogadas ao relento, dormindo em praças públicas e pedindo esmolas em todas as esquinas de Boa Vista. Um absurdo inaceitável, que fosse num país minimamente sério haveria consequência para os autores dessa patuscada.

Ontem, no final da tarde, a governadora Suely Campos convocou uma coletiva de imprensa para anunciar que não irá, hoje, ao encontro com os ministros na Base Aérea de Boa Vista, como resposta à manobra política que ela atribuiu ao notório senador Romero Jucá e sua intimidade com o Palácio do Planalto. Mesmo que tenha decidido não aceitar a manobra de um governo que deveria ter conduta republicana, e não de politicagem, o Governo do Estado mandará entregar aos ministros – que de resto, não vieram para tratar da migração dos venezuelanos, e apenas fizeram uma escala técnica na Base Aérea – todo o levantamento previamente preparado para a discussão que estava marcada para o Palácio Senador Hélio Campos.

De concreto, o que restou dessa coisa toda, decididamente desrespeitosa para com o povo de Roraima, é que esses três ministros chegam acompanhados apenas de Romero Jucá e da deputada federal Maria Helena Veronese (PSB), sua fiel escudeira, e que deixa marcado o caráter desse Governo Federal, que anda cada dia mais desacreditado, por essas e outras manobras políticas.

Ah! Sim. Depois de espalhar a notícia de que não fora convidada para nada e nem ser notificada da presença dos ministros no estado, a prefeita de Boa Vista, Teresa Surita (PMDB), anunciou que vai estar presente junto aos ministros levando um diagnóstico feito pelos técnicos do município sobre a situação dos migrantes venezuelanos. O milagre da mudança de conduta da prefeita ocorreu depois do estranho cancelamento da reunião prevista da governadora com os ministros, que seria realizada no Palácio Senador Hélio Campos.

Decididamente, as eleições já começaram em Roraima e pelo viés vergonhoso das manobras de gente que faz deste estado apenas uma plataforma para o alcance de objetivos, que estão longe das aspirações da população. Pena que nos falte amor próprio para dizer um sonoro não aos autores dessa forma de fazer política.