Opinião

Opiniao 30 12 2017 5412

Duas metades de mim – Vera Sábio*

Retrospectivas são os momentos pensados no fim do ano. Onde se recordam lembranças boas e ruins, retira-se uma média e faz-se uma avaliação do que valeu a pena e do que precisa ser descartado para o próximo ano.

Lógico que infelizmente de tudo que é pensado e planejado para o futuro melhor é normalmente esquecido logo nos primeiros meses do novo ano. E nisto se verifica tantas falhas repetidas e promessas descumpridas, até que mais rápido do que imaginamos o outro ano bate a porta e a vontade de renovação outra vez recomeça.

Não desanimar é a resposta para a continuação dos sonhos e novos propósitos de sermos melhores. Portanto prometer pouco é algo mais palpável, traz uma maior facilidade de conseguirmos realizar, fazendo assim o pouco, para que de pouco em pouco, possamos notar uma mudança agradável.

Com meus 44 anos, vejo duas metades de mim.

Até os 22, anos morei no interior do Paraná, era a menina que com 15 anos tornou-se cega e pouco podia fazer para ter uma independência, estudar, trabalhar e constituir a própria família. Sonhos foram só sonhos e muito distantes, sem se quer saber como transforma-los em realidade.

Vieram então os outros 22 anos, nos quais vim para Roraima, estudei, me formei, pós graduei, passei em concurso público, liderei associação de pessoas cegas, as quais ainda não realizaram os sonhos que já alcancei.

Tornei-me mãe, esposa e dona de casa, realizações básicas para muitos, mas importantíssimas para mim.

Fiz do tato, do olfato, do paladar e da audição, sentidos suficientes para ultrapassar preconceitos, criar conceitos e atingir metas.

Portanto nesta minha metade aguardo outra parte, cada vez voando mais alto em busca dos meus ideais, já que a vida não para e é necessário lutar sempre, independente do que se conquistou.

Afinal o grande sabor da vida está na ida, melhorando e conquistando a cada dia, sendo suficiente para sonhar e livre para tentar outra vez.

Que Jesus nos habite sempre e transforme os sonhos do próximo ano em força, coragem e determinação de fazermos tudo que nos é possível. Pois o impossível, Deus pode e ele faz.Próspero Ano Novo.

*Psicóloga, palestrante, servidora pública, esposa, mãe e cegaCRP: 20/[email protected]

MÍDIA-EDUCAÇÃO – Marcelo Uchôa Gomes*

A mídia-educação é parte essencial dos processos de socialização das novas gerações, mas não apenas, pois deve incluir também populações adultas, numa concepção de educação ao longo da vida. Trata-se de um elemento essencial dos processos de produção, reprodução e transmissão da cultura, pois as mídias fazem parte da cultura contemporânea e nela desempenham papéis cada vez mais importantes, sua apropriação crítica e criativa, sendo, pois, imprescindível para o exercício da cidadania.

Do ponto de vista conceitual, a questão mais importante é a integração destes dispositivos técnicos aos processos educacionais e comunicacionais. Nas sociedades contemporâneas, esta integração tende a ocorrer de modo bastante desigual: ela é alta e rápida nos processos de comunicação, onde os agentes (as “mídias”) se apropriam imediatamente das novas tecnologias e as utilizam numa lógica de mercado; e tende a ser muito baixa nos processos educacionais, cujas características estruturais e institucionais dificultam mudanças e inovações pedagógicas e organizacionais, que a integração de novos dispositivos técnicos acarreta. Além desta desigualdade estrutural, é preciso ressaltar outras, igualmente importantes: o acesso e a apropriação das TIC ocorrem também de modo muito desigual, segundo as classes sociais e as regiões do planeta.

Em sua fase pioneira, nos anos de 1950/1960, na Europa, nos Estados Unidos e no Canadá, o interesse pela mídia-educação aparece como uma preocupação com os aspectos políticos e ideológicos decorrentes da crescente importância das mídias na vida cotidiana e se refere mais à informação sobre a atualidade, principalmente política. À medida que esta importância vai crescendo, os outros aspectos dos conteúdos midiáticos (ficção, entretenimento) vão revelando sua eficácia comunicacional e passam a integrar aquela preocupação. No entanto, ainda hoje nota-se uma ênfase na informação, em muitas propostas e ações de mídia-educação. Os perigos de influência ideológica, o receio de uniformização estética e de empobrecimento cultural pela padronização de fórmulas de sucesso do cinema e do rádio, agora estandardizadas pela televisão, levou jornalistas e educadores a se preocuparem com a formação de crianças e jovens para uma “leitura crítica” dos meios de comunicação de massa.

A expressão “educação para as mídias” ou “mídia-educação” aparece em organismos internacionais, particularmente na UNESCO, nos anos de 1960 e, num primeiro momento, refere-se de modo um tanto confuso à capacidade destes novos meios de comunicação de alfabetizarem em grande escala populações privadas de estruturas de ensino e de equipes de pessoal qualificado, ou seja, às virtudes educacionais das mídias de massa como meios de educação à distância.

Nesta primeira definição vemos claramente a distinção das duas dimensões da mídia-educação e a ênfase exclusiva em sua dimensão de objeto de estudo, isto é, de leitura crítica das mensagens midiáticas, deixando a dimensão ferramenta pedagógica para outra área que irá conhecer, nos anos de 1970, significativo desenvolvimento, especialmente nos Estados Unidos e na América Latina: a tecnologia educacional, como ferramenta do planejamento de educação, vista como panaceia para melhorar qualitativa e quantitativamente os sistemas educacionais nos países do terceiro mundo (Belloni& Subtil, 2002).

Em janeiro de 1982, a UNESCO dá mais um passo na formação deste novo campo de ação educativa de âmbito internacional com a reunião, em Grünwald (Alemanha ocidental), de representantes de 19 países que adotaram uma Declaração comum sobre a importância das mídias e a obrigação dos sistemas educacionais de ajudarem os cidadãos a melhor compreenderem estes fenômenos. Nessa reunião de alto nível, o termo “mídia-educação” é consagrado e sua necessidade reafirmada (UNESCO, 1982).

As recomendações deste Colóquio chamam a atenção para as características específicas dos países “em via de desenvolvimento” e sugerem algumas medidas concretas, extremamente importantes, tais como ações de formação de professores e levantamento de experiências realizadas por associações e ONGs. Fica evidente, porém, nas recomendações sobre pesquisa, a ênfase no campo da comunicação e uma relativa ausência do campo da educação, cuja implicação parece ser considerada implícita, mais como campo de aplicação de práticas que como campo de pesquisa e produção de conhecimento. Cabe, no entanto, ressaltar e saudar, como um avanço significativo, a alusão, pela primeira vez em documentos deste tipo, à preocupação com a escuta e a participação efetiva de crianças e jovens, no “espírito da Convenção Internacional dos Direitos da Criança e do Adolescente”, em ações e programas de mídia-educação que lhes são destinados.

Ao final do século XX, observa-se uma verdadeira “revolução tecnológica”, decorrente do avanço técnico nos campos das telecomunicações e da informática, colocando à disposição da sociedade possibilidades novas de comunicar e de produzir e difundir informação. O conjunto das chamadas “indústrias culturais” (rádio, cinema, televisão, impressos) vive uma mutação tecnológica sem precedentes, com a digitalização que, embora longe de ter esgotado seus efeitos, já delineia uma nova paisagem comunicacional e informacional.

Do ponto de vista dos usuários, tal mutação leva um nome: internet, e se realiza em uma máquina ao mesmo tempo incrivelmente complexa e ao alcance de todos nós: o computador, à qual se acrescenta toda uma gama nova de pequenos dispositivos técnicos relacionados com as telecomunicações: telefones celulares multifuncionais, Ipod e MP3, jogos eletrônicos cada vez mais performáticos.

*Professor

Convivência – Afonso Rodrigues de Oliveira*

“Uma mulher foi o primeiro sacrário do Verbo de Deus”. (S. Bernardo).

Ontem tivemos um dia bonito e muito maroto. Fiz umas anotações, e me sentei aqui para iniciar o dia com uma mensagem dinâmica. Mas, antes de iniciar o trabalho, ela chegou. Falou comigo e logo saiu. Foi o suficiente pra eu mudar de rota. Aí resolvi falar sobre ela. Não vou dizer seu nome porque ela não iria gostar. É uma mulher extraordinária, em todos os sentidos. É casada com o cara mais chato que já tive o desprazer de conhecer. O cara tem tudo que uma mulher deveria rejeitar num homem: é pequeno, pequeno não, pequenininho, magro, feio, pobre, velho, chato e ainda por cima, daltônico. Eles estão casados há sessenta anos. E cada vez que ele olha pra ela admira-a mais. Fico imaginando que tipo de mulher é capaz de suportar um cara desses, numa convivência pacífica e harmoniosa, por mais de meio século. Ela parece mais, filha dele. E acho que é assim que ele a vê: como filha.

Curiosamente, ela nunca soubera que ele era daltônico. Ela, nem a família dele, nem os seus filhos. Logo que se casaram, ele nem esquentava quando ela lhe dava a bronca pelo desleixe dele, na combinação de cores no vestuário. Era mais ou menos assim:

– Ô bem… Como é que você é capaz de vestir essa camisa com essa calça? As cores não combinam. Têm nada a ver.

Certo dia ela quase desmaiou quando iam saindo de casa e ela notou que ele estava usando uma meia preta e outra azul. Mas ele segurou o leme e nunca lhe falou do seu daltonismo. Acho que inconscientemente ele tinha receio de ser visto como doente ou deficiente. Acho que era isso. Mas, depois do episódio das meias, ela passou a ser mais vigilante no vestir do cara. Mas só no vestuário. Daí para frente ela passou a dirigir os gostos do cara. Passou a dizer do que ele gosta ou não gosta, deve ou não deve fazer e por aí afora. Às vezes ele tirava até proveito disso.

Sábado ela lhe pediu:

– Ô bem… Aquela manga tá tão madurinha… Tire-a pra mim?…

O cara ficou um tempão preparando uma vara que alcançasse a manga na mangueira alta.

– Qual é?

– Aquela bem amarelinha.

– Qual?

– Ô Deus… Tá vendo não? Não sabe o que é uma manga amarela, pelo amor de Deus!!?

O cara teve que se virar na base do chute, até acertar, depois de derrubar uma dúzia.

O cara é vidrado num bife de fígado bem acebolado e bem passadinho. Lambe os beiços. Ontem ela resolveu arrumar a papelada. Já na hora do almoço, ela foi até ele e falou:

– Olha, lamento muito. Sei que você detesta fígado, mas é o que tenho de mais urgente. Não dá mais tempo de fazer outra coisa, tá? Lamento.

– Tá ótimo!!!

Pense nisso.

*[email protected]