Opinião

Opiniao 29 09 2017 4868

O desafio de ser mulher no Século XXI – Joelma Fernandes de Oliveira*

Há muito tempo, tenho vontade de escrever sobre ser mulher neste século. Muitas vezes iniciei e parei a escrita: MEDO, medo principalmente de acabar por produzir desabafos agressivos e não reflexões oportunas à sociedade. Por esses dias, foi a partir de uma conversa com uma mulher bastante inspiradora – minha Mãe – que a ânsia de expressar-me voltou ferozmente.

Quando numa roda de conversa, minha mãe me expõe uma fala sobre acontecimentos do seu local de trabalho (a feira do produtor Rural) no qual um conhecido, de forma um tanto amigável e, segundo o discurso dele, numa tentativa de elogiá-la, passou a tecer comentários, tais como: “Você é muito trabalhadora, era para ter nascido homem!”; “Ah, deve ter alguém por trás dos negócios dessa mulher, muita coisa para gerenciar, uma mulher sozinha não conseguiria”.

Embora não tenha graça nenhuma, são questionamentos um tanto bizarros. Não estou aqui para fazer julgamento de ninguém, o que eu quero é colocar o assunto para reflexão. Vamos pensar: quanto esses discursos são comuns; quanto eles se prestam a ir construindo estereótipos em torno das mulheres; e quanto isso nos machuca e dificulta nossa vida diariamente, pois, a partir disso, e de muitas outras situações, somos colocadas à prova em diversos âmbitos da sociedade, havendo uma exigência de provação de competência, de habilidades, de inteligência, que nem sempre é exercida e exigida na mesma intensidade para o gênero oposto.

Ah, se aquele senhor soubesse da metade da história da mulher que ele acha que deveria ter nascido homem, a mulher que foi mãe aos 15 anos, na década de 80 – frente a todas as dificuldades sócio-históricas daquele momento –, e que, na maior parte do tempo, sozinha cuidou, alimentou e, atualmente, formou filhos médicos, professores e engenheiros, talvez ele entendesse. Ela nasceu e se construiu mulher, edificou-se frente às batalhas da vida, é uma PESSOA lutadora, resiliente, perseverante. Exerce atividades e tem capacidades que independem de sexo. Minha mãe é apenas um dos tantos e bravos modelos de mulheres pelo Brasil afora: todas igualmente lutadoras, sobreviventes, inspiradoras – também como o são muitos homens por aí, ganhando o pão de cada dia, envolvendo-se com suas batalhas. PESSOAS inspiradoras. Repito: pessoas.

Muitos fecham os olhos para o ser humano, preferindo repercutir preconceito. Ainda enxergamos pessoas públicas – aspirantes à administração do país – falarem em rede nacional que a mulher merece ter salário inferior, pois sua produtividade profissional é inferior a do homem, visto que engravida e desfruta de tempo de licença maternidade “bastante prolongado”.

Esses posicionamentos são úteis apenas para nos mostrar o quanto precisamos questionar colocações dessa natureza em torno do sexo feminino, o quanto precisamos questionar os discursos midiáticos e próprios do nosso cotidiano sobre o lugar da mulher na sociedade, assim como precisamos questionar o perfil imposto do que é uma mulher ideal neste século. A escritora nigeriana Chimanda Ngozi Adichie, em uma de suas obras, mostra-nos que “a linguagem é o repositório de nossos preconceitos, de nossas crenças e pressupostos”, portanto, é necessário questioná-la sempre. Isso porque nenhum discurso é apenas discurso, eles são carregados de significados e de práticas também. Discursos que inicialmente são meras opiniões que diminuem o valor ou as qualidades do sexo feminino, mas, que vez ou outra, na verdade numa constante, contribuem para o nascimento de práticas efetivas de sexismo, misoginia e de todo tipo de violência contra a mulher.

Nesse sentido, o que sinto, ao contrário do que muitos homens se propõem a propagar – refiro-me à ideia de que “as mulheres atualmente não tem muito por que se revoltarem ou reivindicarem direitos” –, é que hoje a luta é tão intensa quanto foi aquela que as mulheres de décadas passadas viveram. Gratas pelas conquistas históricas da luta de mulheres que nos antecederam, seguimos gritando ao mundo nossa indignação. Seguimos na luta para mostrar que os estereótipos existem e, ao estarem presentes na sociedade, continuam propagando a ideia de comparação, de valor, como em uma disputa de quem é o melhor.

Nessa competição todos perdem. Olhemos o atuar das pessoas. Reconheçamos suas feituras como seres sociais livres para enfrentar a batalha de cada dia, e não cerceados por imagens sociais distorcidas do que podem ou não podem fazer. A luta é de todos, mas faz-se importante lembrar que o que estamos vivendo hoje, apesar de ainda ter muito que melhorar quanto à igualdade de oportunidades, é fruto de conquistas das mulheres das gerações anteriores, e precisamos dar continuidade a essa luta, justamente porque ainda há discursos discriminatórios. Se nós, as atuais, ficarmos deitadas em berço esplêndido, não excluo a possibilidade de uma retroativa era de negação de direitos e intensificação aos mais diversos tipos de violência contra as mulheres.

Ser mulher neste século, ao contrário do que muitos divulgam, não é uma facilidade, exige provação de competência, desconstrução cultural simbólica da mulher perfeita em amplo sentido, além de uma luta diária de sobrevivência devido a um escopo amplo de violência.

Repitamos todos juntos: as mulheres – as PESSOAS – podem ser o que quiserem. Muitas são as faces e muitas são as lutas.

*Professora do Instituto Federal de Roraima-Campus Amajari*

Educar para ser feliz – Afonso Rodrigues de Oliveira*

“A educação é como a plaina: aperfeiçoa a obra, mas não melhora a madeira.”

E é precisamente por isso que devemos aprimorar a Educação. E cá pra nós, a nossa está num nível bem aquém do que necessitamos. Mas devemos prestar mais atenção à horizontalidade na universal. Estão todas na mesma gangorra se a analisarmos pela racionalidade. Tenho uma amiga que fica tiririca comigo, quando cito o Barão de Itararé, quando ele diz que a televisão é a maior invenção da ciência para imbecilizar as pessoas. O Barão foi um dos jornalistas mais credenciados do Brasil. Entendo que ele não teve a intenção de ridicularizar a televisão. Mas tinha que ser sincero.

Ouvindo ontem pela manhã, as falas sobre transexuais, no programa da Fátima Bernardes. Aí pensei no Barão. E o assunto focava o alarde que a novela está fazendo sobre o caso. E aí quem fica tiririca sou leu. Não dá pra acreditar que a humanidade do século vinte e um, da era cristã, ainda viva esse problema. Como é que o homossexualismo ainda pode ser visto como um problema, numa humanidade que se considera civilizada? Como é que um casal ainda pode ficar transtornado porque descobriu que a filha era trans? E como é que a televisão espraia o pavor, Brasil afora, martirizando mentalmente, famílias despreparadas cultural e mentalmente? Perguntem ao Barão.

Não faz muito tempo, peguei um livro na minha estante e li um pouco. Era um livro sobre o espiritismo. E ele falava exatamente sobre o mesmo problema, mas de uma maneira puramente racional. O livro explica exatamente porque e como isso acontece com o ser humano. Um processo absolutamente natural. E porque não nos educamos o suficiente para entender o que não nos ensinam, e sei lá por quê? Está faltando Educação. E só quando formos uma humanidade realmente educada, culta e civilizada, nos livraremos das limitações impostas pelas religiões e crenças destorcidas.

E não fique aborrecido comigo. A única coisa que me faz falar assim, é o descaso que continuamos a dar à nossa Educação universal. O ser humano não se faz trans, ele nasce assim. E não nos educam para sabermos por que ele nasce assim. O despreparo do casal é que faz com que ele não seja capaz de entender o problema que nem mesmo é um problema. Ele, o casal é que está criando um problema e não a garota-garoto. Um problema que só traduz o despreparo da humanidade para viver como ser humano em evolução. A Cultura Racional deixa você consciente desses considerados problemas pelos racionalmente despreparados. Nós vivemos num eterno ir e vir. Tudo depende da embalagem que usarmos na volta. Pense nisso.

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