Opinião

Opiniao 27 10 2017 5050

 1987 – 2017: Trinta anos do massacre da Terra Indígena Santa Cruz (Xununu Tamu)

Jaci Guilherme Vieira e Zelandes Alberto Oliveira As organizações indígenas de Roraima como o Conselho Indígena de Roraima (CIR) e suas lideranças das serras e do lavrado, a Organização do Professores Indígenas de Roraima (OPIR), e a Igreja Católica, com o apoio da Seção Sindical dos Docentes da UFRR (SESDUF), aproveitando do feriado prolongado de Nossa Senhora Aparecida, organizaram na Comunidade de Santa Cruz, a 160 Km de Boa Vista, no Município de Normandia, muito próximo ao lago Caracaraná, hoje terra indígena Raposa Serra do Sol, um encontro de memória que os índios chamaram de “SANTA CRUZ 30 ANOS DA OPRESSÃO E LIBERTAÇÃO”.

Nesse encontro os índios relataram que a comunidade Santa Cruz foi ocupada pelos brancos usando das mesmas estratégias do compadrio e da promessa do fazendeiro de dividir a buchada, as patas, o leite do gado com os índios. Essa convivência dita harmoniosa, como sempre fizeram questão de relatar fazendeiros e seus apoiadores como juízes, delegados, militares, governadores, a mídia, essa lista poderia ser interminável, teve sua explosão, especialmente, quando o gado do fazendeiro procurava mais espaço ao pé da serra, ou nos leitos dos rios, local privilegiado, já ocupado por índios Macuxi. Momento esse dos grandes conflitos. Como o índio não tinha voz nem vez, suas terras eram invadidas pelo gado do fazendeiro que contratava jagunços armados para retirar comunidades inteiras de seu território original. Esse foi o caso da comunidade Santa Cruz, também conhecida como Xununu Tamu. Os jagunços, a mando do dono da fazenda Guanabara, empatavam o trabalho dos indígenas proibindo-os de colocar roça, de construir casas, retiros e até de beber água quando o gado estivesse próximo. Viviam presos dentro de sua própria comunidade. O Fazendeiro chegou ao cúmulo de construir um muro com portão de ferro e uma guarita com vigilância 24 horas para impedir os índios de saírem ou entrarem na sua própria terra. Mas não para por aí. No outro acesso da comunidade foi cavado um fosso com máquinas cujo objetivo era isolar completamente a comunidade Xununu Tamu. Os índios para irem a Normandia se abastecerem de produtos básicos, gêneros de primeiras necessidades, tinham que sair à noite por caminhos alternativos, subindo serras na escuridão, longe dos olhos dos jagunços. Não foram poucas as vezes que o fazendeiro mandava queimar as novas casas que surgiam com o crescimento da comunidade. Esse sofrimento durou anos, pois o fazendeiro tinha a certeza da impunidade. As instituições públicas, como Polícia Militar, Civil, Funai e o próprio Exército estavam a serviço dos fazendeiros, pois era muito comum em Roraima prender índios, e colocá-los em trabalhos forçados, em fazendas particulares, por três a quatro dias, sob a vigilância dessa própria polícia do ex-Território Federal.

Essa violência sofrida pelos índios de Santa Cruz foi relatada na assembleia dos tuxauas de 1987, realizada no Cantagalo pelo tuxaua da Comunidade “Vocês dizem aqui que estamos juntos, então venho aqui pedir ajuda. Minha comunidade está cercada, isolada pelo fazendeiro que impede de botar roça, fazer criações”.

Esse apelo foi ouvido pela assembleia dos tuxauas. Em sete de julho de 1987, várias lideranças, entre eles os tuxaus Alcides, Dionito, João, Jaci, tendo à frente o Tuxaua Orlando do Uiramutã, com três dias de caminhada, enfrentando chuva e lama, chegaram à comunidade para iniciar um trabalho de reocupação das suas terras. A primeira coisa que fizeram foi retirar a cerca do fazendeiro e a segunda foi emboscar os jagunços. Na ocasião prenderam três, o objetivo era trocar os jagunços pela saída do fazendeiro. A prisão dos jagunços acabou por desencadear uma operação de guerra jamais vista em Roraima. No dia seguinte, bem cedo, a comunidade foi ocupada pelo Exército, pelas Polícias Militar e Civil, com ajuda de helicópteros, metralhadoras e armamentos pesados, sob o comando do Coronel Nema Barreto. Os índios que estavam reunidos fazendo a limpeza do terreno para botar roça foram pegos de surpresa e espancados, incluindo indígenas grávidas. E foram obrigados, inclusive, a ficar de bruços na lama. Realizaram 19 prisões, sem qualquer tipo de justificativa, a revelia da lei. Como resultado dessa operação 8 crianças foram a óbito em poucos dias. Meses depois dois indígenas da comunidade também foram mortos a tiros pelas mãos dos jagunços da fazenda.

Toda essa violência do dono da fazenda Guanabara acabou por ser a rocha firme dos índios da comunidade Santa Cruz para resistirem, para expulsarem jagunços e lutarem juntos a outras comunidades pela homologação da terra indígena Raposa Serra do Sol em área continua, pois para os índios é impossível viver sem terra, como o peixe viver fora d’água. Hoje a antiga fazenda Guanabara chama-se Cueiro, nome que os indígenas já conheciam antes da invasão dos brancos à comunidade Xununu Tamu.

*Professores

Nadando no subdesenvolvimento – Afonso Rodrigues de Oliveira*

“Reconhece-se um país subdesenvolvido pelo fato de nele ser a política a maior fonte de riqueza.” (Gaston Bouthoul)

No subdesenvolvimento ninguém deu atenção ao aviso do Napoleão Bonaparte. Ele disse que devemos construir mais escolas para não termos que construir mais presídios. Mas vamos mudar o rumo da prosa. Vamos aprender com os erros que vimos praticando durante todos esses anos. Anos em que deveríamos ter nos educado para vivermos um mundo civilizado num país civilizado. E a tarefa é nossa, enquanto cidadãos. Vamos fazer nossa parte. Não permitamos mais, que os mandatários nos julguem como bestas presas ao cabresto. Libertemo-nos.

No Brasil estamos vivendo a política que a Itália viveu nos anos do “Mãos Limpas”. Foi o mesmo engodo que vivemos atualmente. E o importante é que aprendamos a aprender que devemos aprender com os erros nossos e dos outros. Já ouvimos, infelizmente, numa campanha política, em anos passados, um candidato ao governo dizer: “Eu trago essas garotas do interior do Nordeste para ensinar as crianças no interior, porque para ensinar a essas crianças o professor basta saber ler e escrever”. E infelizmente, esse pensamento chulo está em todo o Brasil. E não poderíamos esperar melhor resultado no nosso ensino.

O número alarmante de crianças e jovens que saem das escolas com os certificados e não sabem ler nem escrever é mais antigo do que andar pra frente. E por isso é bom que nós, simples cidadãos e eleitores, nos conscientizemos da nossa responsabilidade para corrigir esse erro homérico. Não fique cuspindo, enojado com o lamaçal que os “políticos” estão fazendo da nossa política. Apenas seja maduro e analise o papel que você está fazendo, servindo de marionete e títere dos titeriteiros que veem a política como um meio de enriquecimento pessoal. Eles estão enriquecendo com o nosso dinheiro, ou roubado ou lhes passado legal, mas imoralmente.

Você, nem ninguém, vai resolver esse problema gritando e esperneando nas ruas como um tolo. Porque é isso que os políticos não políticos querem. Que você dê uma de tolo para eles darem uma de esperto. E você cai na deles. Que é o que vem acontecendo conosco, e nem nos tocamos, porque não nos educaram politicamente. E comece por não pôr a culpa na política pelos desmandos que estamos vivendo. A culpa é nossa, por não sabermos desempenhar nosso papel, porque não saibamos disso. Vamos passar a vassoura nessa sujeira. Queiramos ou não, somos os garis da civilidade. Então vamos nos preparar para nossa função com civilidade, respeitando-nos, nas próximas eleições. Pense nisso.

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