Opinião

Opiniao 27 03 2018 5891

Aborto é assassinato – Marlene de Andrade*

Os teus olhos viram o meu embrião… (Salmos 139:16).

De fato o assassinato de Marielle é um atentado à democracia. Mas não podemos colocá-la no patamar dos que respeitam a vida por excelência. E tanto isso é verdade que esta afiliada no PSOL defendia os ditos direitos da mulher como sendo sempre a única vítima em contexto de violência doméstica. Todavia, o homem também tem sido vítima da mulher, e como médica já ouvi inúmeras narrativas cuja vilã é a mulher e não o homem. Quem não se lembra, por exemplo, de Elize Matsunaga que assassinou brutalmente e esquartejou o marido? Então por que ficar defendendo o tempo todo somente a mulher, se para cada uma violentada, três homens sofrem também violência? Dá um pulinho nos hospitais públicos para ver quantos homens estão morrendo abandonados por seus familiares. Além de abandonados à própria sorte, têm suas aposentadorias furtadas pela própria prole. Nesse viés, é preciso que um defensor dos direitos humanos coloque todo e qualquer ser humano no mesmo patamar. Mas o que mais me causa estranheza é saber que Marielle, segundo Fernanda Odilla da BBC Brasil em Londres em 15 março 2018, após um mês e meio assumir o cargo de vereadora, ela comemorou o primeiro projeto de lei que apresentou na Câmara de Vereadores do Rio, quando segundo Fernanda, ela queria tratamento humanizado para as mulheres que conquistam na Justiça o direito de praticar o aborto legal, do qual sou frontalmente contra. Para mim o aborto é uma violação aos direitos humanos sem explicação. Que democracia é essa que é favorável ao aborto legal? Matar um embrião ou um feto é um atentado aos direitos humanos. A Assembleia Geral da ONU em 10/12/1948 adotou e proclamou a Declaração Universal dos Direitos Humanos para todos, então por que cobrar esse direito para uns e se esquecer de outros? Além do mais, a Constituição Federal afirma no seu Artigo 5º que todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza e, ainda afirma que é inviolável o direito à vida. Esse Artigo também deixa explícito que a lei considerará crimes inafiançáveis e insuscetíveis de graça ou anistia a prática da tortura. E o que é o aborto senão uma tortura a um inocente que não tem como se defender dentro do útero de sua mãe? Devido ao fato, é impossível afirmar que alguém seja democrático quando se posiciona a favor do aborto. Temos que entender que o embrião ou o feto é gente igual aos bebês que nascem e para mim aborto é politicamente incorreto, pois a vida começa na concepção e por isso sou a favor da vida e ponto final.

* Médica Especialista em Medicina do Trabalho/ANAMT

Canção da alegria – Walber Aguiar*

Ser feliz sem motivo é a mais autêntica forma de felicidade. (Drummond)

Eram dias de Monteiro Lobato. Frank, o cara que tinha mais volume que os outros, Charles Caganeira, o monkey louro, Jairo, o menino que conversava com as paredes, Paulo apache, o cuinha, Odlan, o velho gavião, Parimé, Joãozinho, Dalício e o imprescindível Luiz Carlos Pereira, o jabuti.

Ora, Luiz viveu como bem entendeu viver, de astral alto e alegria contagiante. Aquele tipo de alegria que não se torna ridícula, mas que acena para os outros e faz com que as pessoas se procurem e se entendam um pouco mais. Isso porque, a vida não pode conter apenas sujeitos macambúzios, tristes, sorumbáticos, casmurros. A vida tem que carregar consigo as mais belas cores e canções, a fim de que celebremos o existir com graça e grandeza. A fim de que contemplemos as estrelas mal contempladas e façamos uma espécie de farra existencial que nos torne seres humanos mais leves e completos.

No Monteiro Lobato, Luiz era uma espécie de líder, um cara que sempre chegava animando, sempre falante e com alguma novidade para contar. Por ter um sinal no braço e ser um pouco mais amadurecido que os demais, nós o chamávamos de macumbeiro. Isso porque, o velho Luiz “jabuti” carregava em sua aura uma espécie de magnetismo, uma coisa que atraía, que cativava, que parecia juntar as pessoas em torno de si.

Mas o tempo, companheiro da alegria e das frustrações, se encarregou de arrastar cada um de nós para ângulos e pontos de vista diferentes. Nesse meio termo, em que as definições apareciam e os mosaicos passavam a ser montados com mais consistência, em que vivíamos, no entender de Drummond, a fase das misérias, Luiz optou pela vida militar, apagando fogo e salvando gente, sempre com dignidade, Laulimã assumiu o magistério, fez amigos nas escolas por onde passou, desenvolveu projetos. Chamou Luiz para ser compadre, padrinho do menino Raimundo Neto. Tal relação entre Luiz e Laulimã seria uma espécie de coisa de irmão, de alma gêmea, conforme as amizades mais fraternas e mais lindas e significativas que alguém já conheceu.

Ele carregava tanta alegria dentro de si que passou a tocar um instrumento e cantar, pois quem canta geralmente encanta, ainda mais quando a canção passa de alma pra alma, de coração pra coração, como no caso de Luiz. Sempre curtindo a casa do Neuber, apreciava ritmos regionais e uma boa comida. Um dia me disse que não gostava de poemas tristes, mas disse a ele que, embora tristes os versos, os poetas fingiam a dor que sentiam, na ânsia de elaborar algo que fizesse cócegas na alma, ou seja, de contar as histórias de um mundo mais alegre e feliz.

Descanse em paz, irmão. Um dia nos encontraremos debaixo das enormes ingaranas do infinito. Aí teremos descoberto a mais intensa, louca e verdadeira alegria…

*Poeta, professor de filosofia, historiador, membro do Conselho de Cultura, advogado e membro da Academia Roraimense de Letras. E-mail: [email protected]

Crianças fazendo arte – Afonso Rodrigues de Oliveira*

“De todas as coisas humanas, a única que tem o seu fim em si mesma é a arte”. (Machado de Assis)

Como vemos a arte? Tenho a impressão que a maioria ainda a vê como viam os pais nordestinos de antigamente. Sempre que os filhos faziam alguma travessura, eles gritavam: “Pare de fazer arte”. Infelizmente ainda há uma grande parte da sociedade que ainda vê a arte como travessura de quem não tem ou não sabe o que fazer. Já estávamos entrando na década dos cinquentas quando os artistas do rádio e da televisão ainda eram discriminados. Artistas famosos fizeram muitos shows em casas de ricos famosos, entrando pela porta dos fundos. Uma realidade que já esquecemos, porque somos um povo sem memória. Nos &uac
ute;ltimos sessenta anos as coisas mudaram muito, mas nem tanto quanto não percebemos. Não é a arte que faz o artista televisivo, por exemplo, famoso, mas a televisão de mãos dadas com a mídia. Tanto é que temos muitos famosos que deixam muito a desejar à arte.

Mas não viemos aqui para ranzinzice. Há uma preocupação muito grande, no meio artístico, com o descaso que estamos percebendo, sobre tudo das autoridades, para com a arte. E se ela está no contexto da cultura, esta também é vista como coisa superficial, secundária. Poucas são as autoridades que se atentam para o fato de que a cultura é uma fonte de renda como qualquer outro negócio. Que o negócio é saber desenvolver. Roraima, se se fizesse um levantamento preciso e responsável, veríamos que o estado está no último pódio do desenvolvimento cultural. Vem daí as pendengas, as arengas e o descontrole. Se eu for mencionar as carências e necessidades da cultura em Roraima, você se extasiaria.

O que temos ouvido de políticos atuantes é de estarrecer. Já ouvimos coisas que nos desanimariam se não tivéssemos a consciência da importância do trabalho e da batalha que estamos travando para tirar o estado dessa letargia cultural. Mas vamos vencer sem picuinhas nem aborrecimentos. Apenas levando em consideração os motivos do descaso. Mas esperamos, e necessitamos da colaboração da sociedade civil e empresarial, para vencer mais esse obstáculo que vem se arrastando por décadas, na pantomima. Você, cidadão roraimense, tem, como eu e todos os que vestimos a camisa desse time, a responsabilidade nesse desenvolvimento. Os louros virão através da vida que terão nossos descendentes. Façamos isso por eles. São eles que vão dizer, no futuro, o que fomos hoje. Tudo o que construirmos hoje, deve ser com o pensamento neles. Eles nos agradecerão. Pense nisso.

*[email protected]