Opinião

Opiniao 20 05 2017 4061

Quem realmente comanda o Brasil? – Sérgio Mauro*Desde que os primeiros hominídeos desceram das árvores e começaram a cozinhar a carne dos animais que eles caçavam, marcando, de acordo com alguns cientistas, o início do que chamamos de vida em sociedade e do desenvolvimento da lógica humana que, com a sua ação devastadora, transforma o meio natural que nos cerca, uma questão delicada nunca deixou de ser colocada: quem deve comandar?

Naturalmente, como acontece com outros animais, o mais forte geralmente detém o poder, sendo substituído quando morre naturalmente ou quando é morto por outro mais forte do que ele. Com o desenvolvimento da vida em sociedade, porém, deixou de ser tão simples a associação entre a força física e o poder. Com a ampliação da técnica de fabricação de armas ao longo dos séculos, passou-se a atribuir o poder, grosso modo, ao detentor do maior número de armas ou aos que sabiam comandar e subjugar grupos de homens armados.

A lógica humana, porém, veio ao mundo para complicar as leis que regem as relações naturais. Matar ou ser morto, portanto, deixou de ser o único fator a determinar quem detinha o poder. A nossa razão nos leva continuamente a querer conhecer sempre mais e a especular continuamente. Entre outras coisas, passou-se a especular sobre o destino tanto da alma do fiel, nosso amigo, que por nós combateu, como do “infiel”, que tentou subverter a nossa ordem, espalhando outras verdades, somente suas, contrárias às que julgávamos verdades únicas e sacrossantas. É aí que entra o elemento religioso para complicar ainda mais.

Só para ter uma ideia, na Idade Média especulava-se sobre o destino da alma do mítico Carlos Magno, isto é, se ela deveria ir para o inferno, pelos povos que ele subjugou e pelos inocentes que mandou matar, ou para o paraíso, pela grandeza das suas ações. Convencionou-se, enfim, que ela poderia ir para um destino intermediário, isto é, para o purgatório.

Não é difícil, porém, imaginar, o quanto é relativo o poder que emana das urnas. Os próprios candidatos a serem escolhidos nem sempre são os que poderiam representar a vontade popular. Além do mais, a escolha dos futuros governantes cada vez mais ficou sujeita, com o desenvolvimento do capitalismo, aos detentores do capital, outrora banqueiros e industriais, hoje principalmente investidores e especuladores financeiros, sem contar a ingerência e a influência direta da mídia, sobretudo a partir do século XX.

Enfim, trazendo o discurso para o contexto atual brasileiro, quem realmente detém o poder? Quais forças regem a economia e as finanças que nos afetam diretamente? Pelo que se tem visto, considerando verdadeiras as denúncias cotidianamente apresentadas pela mídia, o Brasil foi governado nos últimos quinze ou vinte anos por poderosas empreiteiras que tencionaram realizar os sonhos de grandeza e de progresso de grupos ligados a um partido caracterizado por atitudes populistas, endividando o Estado e concedendo subsídios e auxílios aos mais desfavorecidos que, inicialmente, podem até ter amenizado o quadro de miséria de muitas regiões brasileiras, mas que não constituíram ações de efetiva e duradoura mudança.

O poder no Brasil atual, portanto, não emana de governantes escolhidos diretamente pela graça divina que ilumina os eleitores, tampouco da vontade popular que é constantemente obrigada a escolher entre duas facetas, só aparentemente opostas, de representantes das elites que se perpetuam no comando, sempre sujeitos à corrupção que a tudo envolve, sufocando as poucas iniciativas realmente inovadoras. Enfim, no atual governo-tampão, como nos governos anteriores, quem realmente exerce o poder no Brasil está invariavelmente ligada ao empreendedorismo amarrado ao Estado, sem o qual não sobrevive, tendo como conseqüência uma inevitável relação de compra e venda, em que o vil metal aniquila facilmente consciências, ideologias e fé de todos os gêneros. As eleições não são realizadas para corroborar a vontade popular, mas para dar uma roupagem legítima a uma forma de organização que não existe sem a corrupção, dentro da qual é indiferente a concessão ou de não de auxílios-esmolas aos mais desfavorecidos.

Nessa situação crítica, para que haja uma verdadeira mudança há duas possibilidades: uma sublevação popular com a vitória dos grupos realmente dispostos a mudar o país ou uma intervenção divina, supostamente iluminando as mentes dos eleitores e fazendo surgir o predestinado por Deus para um bom e duradouro governo. Que me desculpem os que ainda acreditam em revoluções ou os que possuem fé religiosa, mas não acredito em nenhuma das duas possibilidades. Não vejo como e não acho necessário indicar possíveis caminhos para o Brasil no atual momento. Só nos resta, portanto, acompanhar o andamento da carruagem e confiar na aplicação implacável das leis e numa melhora urgente das instituições educacionais e culturais em geral, sem as quais nunca haverá verdadeiro progresso.

*Professor da Faculdade de Ciências e Letras da Unesp de Araraquara

Será tsunami? – Afonso Rodrigues de Oliveira*“Se há um idiota no poder, é porque os que o elegeram estão bem representados”. (Barão de Itararé)O vendaval que está acontecendo na nossa política só é surpresa para os despreparados. Nada de surpresa. Quem viveu os momentos anteriores à revolução de 64 sabe do que estou falando. Eu vivi cada momento daqueles momentos já esperados pelos ativos. E a única diferença dos daqueles dias para os de hoje é, única e exclusivamente as mudanças políticas. Nos e-mails e celulares estamos vendo e lendo mensagens exatamente iguais às dadas pelo Marechal Juarez Távora, em mil novecentos e sessenta e um. Já falei dela, aqui, várias vezes. Então, vamos ficar de olhos abertos para aprendermos com nossos erros.

A diferença entre os protestos de hoje e os daquela época quase não se percebe. Cinquenta anos já se passaram, e nada mudou. Alguém já nos disse que a cada quinze anos nós nos esquecemos do que aconteceu nos últimos quinze anos. Cinco décadas já se foram e continuamos elegendo desonestos, desleais, ladrões, e coisa mais, sem nos mancarmos. Há trinta anos vivemos, vivendo o descontrole político alimentado pela nossa ignorância política. Vimos lutando contra um fantasma que não conseguimos ver porque vivemos uma justiça de olhos vendados.

Mas tudo bem, vamos, nós mesmos, retirar nossas vendas e abrir os olhos para as mudanças que o mundo nos oferece, e não as entendemos. Não somos mais uma colônia portuguesa. Não podemos viver mais detrás da porta esperando que os outros nos digam ou nos ensinem o que devemos fazer, e como fazer. E só nos libertaremos dos grilhões da ignorância através da Educação. Ou nos educamos ou continuaremos com uma política desonesta e vergonhosa. E pra encerrar esse assunto nauseante: quem você indicaria para substituir o Presidente, caso ele venha a ser cassado? Eu não encontro ninguém no mercado em que se tornaram nossos órgãos públicos.

Agora só nos resta esperar, mas com calma e sabedoria. Afinal, somos, todos nós, eleitores, os responsáveis pelos desmandos, queiramos ou não. Vamos nos educar politicamente. Comecemos pela luta pelo voto facultativo. Sem nos esqueçamos que primeiro devemos nos preparar educadamente, como cidadãos, para poder merecer o voto facultativo. Então vamos nos educar. E iniciemos nos conscientizando do valor do nosso voto. Que todos os desonestos que estão nos envergonhando, hoje, foram eleitos por nós. Eles não fizeram concurso nem foram nomeados, mais eleitos por nós. E fim de papo. Agora só nos resta esperar o resultado da nossa ignorância política. Mas, fiquemos de olhos abertos. Pense nisso.

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