Opinião

Opiniao 18 02 2017 3679

Trinta minutos para pensar em si – Flávio Melo Ribeiro*

Quando foi a última vez que você parou para pensar em si? Faço frequentemente essa pergunta aos meus pacientes e a resposta mais comum é: “não lembro quando parei e refleti sobre a minha vida”. Isso mostra o quanto as pessoas não param para refletir sobre suas relações, tarefas, objetivos e trabalhos. No máximo, lamentam determinado infortúnio.Então, faço o seguinte questionamento: você percebe que não pensar em sua própria vida é permitir ser comandada pelo outro, mas sem deixar de ser responsável? E geralmente aresposta é negativa. O interessante é que nos alimentamos, escovamos os dentes, nos lavamos, cuidamos dos bens, etc., mas pensamos muito pouco em nós mesmos. Falo isso porque a falta de tempo é a justificativa mais comum.

Se você não pensar no que está construindo, quem irá? Essa questão é mais séria do que muitos imaginam. Num primeiro momento, parece que a resposta mais coerente é “ninguém vai pensar por mim”. Mas não é isso que ocorre. Na maior parte das relações, sempre tem alguém para pensar sobre a sua vida. O problema é que ela geralmente não pensa para realizar os seus desejos, mas os dela próprio. Não o faz por mal, pois parte do próprio ponto de vista e considera que é o melhor para ela e para você. Se acertar, fica feliz, mas na maior parte das vezes reclama e, se realmente der errado, é você quem “paga”, financeiramente, com o tempo da sua vida, com retrabalho e quase sempre com sofrimento. E porque isso? Porque você não parou para pensar sobre si mesmo, sobre o que gosta, o que quer fazer, o que lhe realiza. Parece estranho, mas essas questões não são respondidas pela maioria das pessoas. Consequentemente, tantas pessoas tem dificuldade de escolher e, o pior, de aceitar o que não gostam.

Por isso é de suma importância parar, pelo menos, uns trinta minutos por dia para pensar em si. Não há necessidade de ser contínuo, mas no decorrer do dia disponibilizar esse tempo para si. Procure disponibilizar alguns minutos pela manhã para refletir sobre o que fará no dia e suas consequências.Aproveite esse tempo! Esse tempo é um investimento para sua vida.

*Psicólogo

A arte de governar –  Sérgio Mauro*

O processo é sempre o mesmo, entra governo, sai governo, ao menos nos países que adotam as várias formas de democracia. No entanto, o governo que sai diz ter procurado fazer o melhor possível, dentro dos limites a que teve de se sujeitar; o que entra culpa o anterior e afirma categoricamente que não repetirá os erros do antecessor. Nesse jogo de empurra-empurra, há sempre um lado que sofre: o dos governados. Evidentemente, há poucos “governados” privilegiados que sabem se aproveitar dos desmandos e deslizes dos maus governadores, mas constituem ínfima minoria, no Brasil e em outros países mundo afora.

Como evitar que este pernicioso processo de alternância de governos ineficientes se perpetue? No contexto brasileiro, os saudosistas da ditadura militar ou as novas gerações que se deixam fascinar pelo carisma de Hitler e Mussolini (figuras históricas que estão sempre em voga, na mídia e nas livrarias de muitos países) evocam governos fortes e duradouros, não sujeitos às pressões do voto popular ou ao controle exercido pela Câmara dos Deputados ou pelo Senado. Desejam, portanto, um “pai-herói” que vele por nós e decida o que nos caberia decidir, em quanto adultos e vacinados. Por outro lado, quando nos deixam decidir, qual é a nossa real capacidade de orientar o destino da nação? Pouco, muito pouco infelizmente, porque as pressões exercidas por forças muito mais poderosas que a do simples cidadão que deposita o seu voto nas urnas impedem e sempre impedirão que determinados fatores decisivos na estrutura socioeconômica efetivamente mudem.

Sinceramente, afirmar que aperfeiçoamos a nossa democracia e que chegamos a um estágio de maturidade, como querem alguns, parece-me um raciocínio tão otimista quanto ingênuo, não corroborado pelos tristes espetáculos  a que assistimos cotidianamente de intolerância e de retorno de forças retrógradas, no Brasil (vide a ascensão de Bolsonaro nas pesquisas de intenção de voto), nos Estados Unidos (com o triunfo de Trump) e na Europa (líderes populistas e xenófobos da França, Alemanha, Itália e Espanha). Na verdade, chegou-se, isto sim, ao fundo do poço da democracia representativa e ao desmantelamento do “welfare state” da democracia social. Tudo o que foi concedido às classes menos abastadas nos anos 60 e 70 será aos poucos retirado, pois não há mais dinheiro em caixa e quem concedeu tais “privilégios” ou já morreu ou está há muito longe da cena pública, não podendo mais ser responsabilizado pelos seus atos.

Mas quem vai nos conscientizar, se a educação pública (ou a oferecida por escolas particulares) não conscientiza, isto é, se não forma cidadãos conscientes de seus direitos e, principalmente, de seus deveres? Resposta: nós mesmos. Se, por exemplo, cada membro das pequenas elites com alto nível educacional dedicasse duas ou três horas do seu tempo livre para educar os que nada sabem e os que nada têm, num futuro não muito distante a situação mudaria, de modo definitivo e não sujeito ao empurra-empurra dos governos.

Evidentemente, até que se chegue paulatinamente à “substituição” de governos constituídos e centralizados por núcleos ou associações de simples cidadãos levará muito tempo, mas constituirá um processo de “reeducação” das sociedades que deixará marcas indeléveis. Evidentemente, assistiríamos a um “desmonte” progressivo de grandes centros habitacionais que precisariam passar por um processo de adequação bastante complexo.

Há os que argumentam que para pôr em prática atitudes corajosas (utópicas?) como as descritas brevemente acima, seria preciso um retorno à Idade Média, ou a um período “pré-cientifico” e, sobretudo, “pré-tecnológico”. Não creio, porém, que se deva perder e renegar as conquistas que a ciência obteve a partir de Galileu e Newton, mas tão somente que elas devam ser redimensionadas, deixando apenas de atender aos interesses de grandes grupos industriais que nos “obrigam” a usar computadores e smartphones.

Assim como os artesãos medievais eram também “artistas”, à medida que vagarosamente extraíam da matéria prima bruta verdadeiras “obras de arte”, assim também precisamos começar a colher os frutos de nossas decisões tomadas com consciência, exercendo a arte de governar, seja no que diz respeito à limpeza das ruas ou à segurança pública, seja no que concerne à educação dos nossos filhos, para que pouco a pouco fiquemos menos sujeitos a “pais heróis” ditadores ou a legítimos governos eleitos pelo povo que, na verdade, governam em causa própria, sempre realimentando sistemas opressivos, quer se apresentem como tiranos, quer se apresentem como “a voz do povo”.

*Professor da Faculdade de Ciências e Letras da Unesp de Araraquara

A modelo elegante – Afonso Rodrigues de Oliveira* “Em certo dia, quando ela entrou na festival capela,Eu vi a Virgem mergulhada em prantos,E o Cristo de marfim fitá-la tanto,Como se fosse apaixonado dela”. (Hermeto Lima)Nem precisa ser modelo. Basta ser elegante. A elegância é uma necessidade. E sua elegância está na sua postura, no seu comportamento, na sua maneira de se apresentar, mais do que na sua beleza física.  Os responsáveis pelas grandes modelos do mundo as estão descobrindo onde nem imaginávamos que estejam. Às vezes mulheres com certa distinção, mas que aos olhos desavisados não indicam o que realmente são. São descobertas por expertos que sabem ver. Têm olhos de lince, e competência para transformar uma mulher numa supermulher. Isso também é válido para os homens. Você não precisa ser um modelo da moda. Seja um modelo na espécie. É sua presença que vai determinar como você vai ser tratado ou considerado. Acredite nisso. Isso é muito importante. Não tenha medo de ser vaidoso. O que você não deve é ser relaxado. Ninguém gosta nem respeita uma pessoa relaxada no vestir e no comportamento. Só tem uma postura convincente quem tem auto-estima elevada. As mulheres estão, cada vez mais, mais exigentes na escolha do seu homem. E estes aspectos são de fundamental importância na escolha. Cuide-se. Só não se deixe embriagar pela vaidade vã e fútil.Deixe sua beleza interior explodir. Prepare-se de dentro para fora. Enriqueça seu espírito e você será uma pessoa rica. E isso não passará despercebido por muito tempo. Fortaleça-se. Nunca, em hipótese nenhuma, se curve pra ninguém. Nunca permita que ninguém pisoteie sua alma. Mas faça isso sem arrogância. É aí que está o segredo de ser grande.  Lembre-se de que é seu direito dar resposta a quem quer que o acuse. Mas faça isso com postura. É sua postura que dá o respeito que você merece. É sua postura e não o tom de sua voz, que diz quem você é. Quem grita se escondendo, por trás do grito. Aprenda a dizer não, sempre que necessário. Isso faz parte de uma personalidade marcante. Não raro, quando você diz sim, quando devia dizer não, está mostrando fragilidade. Não fique aborrecida nem decepcionada quando alguém lhe disser não. Procure analisar os motivos da recusa. Coloque-se na posição da outra pessoa e veja se você diria sim. Mas seja sincera no julgamento. Sua superioridade está no seu conhecimento de si mesma. Quando nos sentimos inferiores não somos capazes de ser o que realmente somos. E seja o que não é, mas sem deixar de ser o que é. Pense nisso.*[email protected]