Opinião

Opiniao 10 10 2017 4935

Saudade do grande amigo – Walber Aguiar*

A amizade é um amor que nunca morre Mário Quintana

Eu não quero ser normal. Aliás, a normalidade é estática, mórbida, exígua, sem graça. Ela não rima com a dinâmica do humano inquieto, criativo, voraz e desejoso de viver. A normalidade vive dentro de casa, escondida. Encarnava esse papel um tal João de Deus, que mais tarde passou a se chamar “Deus João”.

Ora. João de Deus era simples, à semelhança de João Batista da Silva Neto, o nosso João Coxó, da Mecejana… Era, por assim dizer, um menino. Um cara que ria das desgraças, que era meio seu Lunga, que sabia responder de forma estúpida com a mesma obviedade da pergunta. Pergunta idiota, tolerância zero. Um dia ele estava capinando no sol quente de uma da tarde, rachando a moleira. Lá vem o César, com sua cara de gaiato, dizendo: ― Ei, João. Tá capinando? Não, tô enterrando, cavou um buraco e enterrou o mato.

Assim era João, mais grosso que pau de porteira. Um menino homem, que soube preservar até o último dia a inocência que a maioria vai perdendo pelo caminho, a sadia ingenuidade, que nos preserva da loucura e da maldade humanas. Por essas e outras qualidades é que João Batista se parecia com o João de Deus de Machado de Assis, que mais tarde se chamaria de Deus João, pois, dizia que se apontasse para o céu uma estrela se arremessaria na direção do oceano. Assim, era João de Deus, que virou Deus João.

Ora, o Deus João virou as costas para a normalidade. Não quis viver atolado à rotina dos dias, à tediosa mesmice, ao absurdo cotidiano sem aventura. Talvez não tenha morrido como quis morrer, mas viveu intensamente, como quis viver.

João Batista, o “Coxó”, confessou-me que após a morte de sua mãe, virou um órfão existencial, uma pessoa solta no mundo; sem graça, sem companhia, sem amor. João não vivia socado dentro de igrejas com “i” minúsculo, não participou da hipocrisia e da insensibilidade, da falta de amor de tantos que dizem amar um Deus invisível e não amam o ser humano em sua visibilidade e concreção histórica.

O outro João, o Bosco, vivia sozinho, à semelhança do João de Deus que virou Deus João. O oráculo do Jóquei, como se intitulava, também não se conformava com a normalidade. Queria mexer com as estruturas viciadas do poder, por isso escrevia textos que serviam para desinstalar os indivíduos, fazer com que eles enxergassem a vida além da mesmice, do ódio e da mera contemplação de dias e noites.

Os dois Joões foram plantados dentro da terra no mesmo horário, às 17 horas. As lágrimas dos que ficaram vão continuar regando a lembrança de duas criaturas que fizeram do mundo um lugar menos árido e mais feliz…

*Advogado, poeta, historiador, professor de Filosofia, Conselheiro de Cultura e membro da Academia Roraimense de [email protected]

O mundo está perdido – Marlene de Andrade*

“Ai, nação pecadora, povo carregado de iniquidade, descendência de malfeitores, filhos corruptores; deixaram ao Senhor, blasfemaram o Santo de Israel, voltaram para trás.” (Isaías 1:4).

O sociólogo Zygmunt Bauman afirmou para a ISTOÉ que nada é feito para durar, ou para ser “sólido”, pois tudo é líquido, ou seja, nada neste mundo se consolida e aí pensei: levamos o que para o cemitério? Não seguramos nada de concreto e tudo passa rapidamente.

Zygmunt afirmou ainda que a obsessão pelo corpo ideal, perfeito e o culto às celebridades se dá, assim entendi, devido à ausência de autoridades éticas e asseverou que o fato de tudo ser líquido, resulta em dívidas públicas altíssimas. Esse autor sabia que vivemos num mundo de incertezas, onde cada um é por si e egoísta. Ele ainda assegurou que o ser humano está assustado com o ‘progresso’, o qual significa uma constante ameaça, haja vista a Coreia do Norte estar ameaçando bombardear os Estados Unidos.

Vejamos o que nos diz a Bíblia a esse respeito: “E tu, Daniel, encerra estas palavras e sela este livro, até ao fim do tempo; muitos correrão de uma parte para outra, e o conhecimento se multiplicará” (Daniel 12: 4). E aí? Adianta tantas invenções se tudo é líquido e muda de forma rápida? O problema nosso, disse Zygmunt, não é a falta de conhecimento e sim a falta de agentes capacitados para nos dirigir. Ora, todo mundo sabe, por exemplo, do aquecimento do planeta, mas as autoridades estão fazendo o que para acabar com esse problema? Nada! E o pior, disse Zygmunt, é que os recursos naturais estão se esgotando.

Ele ainda falou do medo quanto à segurança e da instabilidade dos relacionamentos amorosos e afirmou que quando o amor líquido não dá certo, pode ser substituído, não pela qualidade e sim pela quantidade de outros ‘amores’ e que por isso os contatos on-line têm uma ‘vantagem’ sobre os off-line, pois são mais fáceis de se conectar e de se desconectar e que quando ficam “quentes” demais, é só apertar o botão do off. Quanto às favelas, ele ponderou, infelizmente, que elas servem de lixeira para um número enorme de pessoas tornadas ‘desnecessárias’ na sociedade. Que constatação triste!

“… quando avaliei tudo o que as minhas mãos haviam feito e o trabalho que eu tanto me esforçara para realizar, percebi que tudo foi inútil, foi correr atrás do vento; não há qualquer proveito no que se faz debaixo do sol.” (Eclesiastes 2:11). Mas caro leitor, não podemos nos desanimar, pois a Bíblia nos assegura que “os justos florescerão como a palmeira e crescerão como o cedro do Líbano…” (Salmos 92:12). Que consolo!

*Médica Especialista em Medicina do Trabalho/ANAMT

Vamos mudar – Afonso Rodrigues de Oliveira*

“Um político pensa na próxima eleição. Um estadista, na próxima geração.” (James Clarke)

O brasileiro responsável e consciente está sufocado. Afogando-se no lamaçal político. Mas é bom que comecemos a ver o problema com outra visão. Pelo menos uma visão mais ampla, mais clara. Não iremos mudar o cenário enquanto ficarmos botando a culpa na política. A bagunça fica por conta dos maus políticos que nem sempre são políticos. Enquanto continuarmos elegendo candidatos despreparados e malformados moralmente, continuaremos com a política que não merecemos.

Sem crítica, tá? Vamos nos ater apenas ao que pensamos em relação ao que acontece. O Jarbas Passarinho certa vez disse: “No Brasil ainda temos bons políticos, mas não temos mais estadistas”. O que significa que a importância do estadista para o desenvolvimento do País é fundamental. E enquanto não formos capazes de eleger bons políticos, não teremos estadistas. E completemos esse pensamento com o do Og Mandino: “Ninguém pode viver a sua vida por você. Ninguém pode conseguir o seu sucesso pra você. É sua vez”.

É sua vez. Faça o que você deve fazer, nas próximas eleições. Mantenha sua mente sadia, lembrando-se de que a responsabilidade pelos desmandos na política é de quem elege os maus políticos. Se você ainda é dos que dizem que vão votar no candidato porque ele rouba, mas faz, varra isso da sua mente. Você tem o poder, o direito e o dever, de escolher o candidato que seja capaz de zelar pela sua honra, uma vez que ele será seu representante no poder para o qual você o elegeu. É na sua escolha que você vai mostrar sua dignidade. Nem sempre podemos evitar o erro, mas é com ele que aprendemos. E já erramos o suficiente para aprendermos a respeitar nosso Município, nosso Estado e nosso País.

Se não nos valorizarmos nunca seremos dignos nem merecedores de respeito, como cidadãos. Nunca venda seu voto; nunca vote no candidato que estiver envolvido com o crime, por mais leve que o crime possa lhe parecer. Analise a qualidade do seu candidato, analisando sua competência para o cargo que ele estiver se candidatando. Já apanhamos e sofremos demais. Já é tempo de aprendermos que somos os donos dos nossos destinos. E que estamos elegendo nossos políticos para que eles façam, por nós e para nós, o que realmente merecemos.

Procuremos nos educar politicamente para que possamos ser respeitados pelos políticos que elegermos. Converse com seu candidato, ou com seu representante, para ver o que ele pensa sobre o voto facultativo. Porque sem o voto facultativo não seremos cidadãos. E vamos nos preparar para ele. Pense nisso.

*[email protected]