Opinião

Opiniao 07 04 2018 5965

Economia e educação: algo está acontecendo!

Ronaldo Mota*

Vivenciamos grandes transformações, rápidas, profundas e em todos os setores. O motor principal que impõe tal velocidade e que define o nível de radicalidade das mudanças está associado à migração, ainda em curso, em direção a uma sociedade em que a informação se torna totalmente acessível, instantânea e basicamente gratuita.

Os hábitos e os costumes se moldam também a partir de novos pressupostos, despertando a necessidade de os interpretarmos sob diferentes ângulos. Em resumo, algo está acontecendo, é de grande monta e a todos afeta, permitindo ser visto sob qualquer ponto de vista.

Como referência ilustrativa, adota-se aqui um aspecto específico, a capitalização de mercado, que é somente uma das medidas do tamanho de uma empresa. Trata-se do valor de mercado total das ações em circulação de uma empresa, também conhecido como limite de mercado.

Durante o século passado, as maiores empresas do mercado acionário estiveram associadas à energia (basicamente petróleo), à indústria automobilística e ao setor bancário. Na virada do século, há apenas 17 anos, entre as cinco primeiras aparecia, de forma inédita, uma empresa do mundo da informática, a Microsoft. Neste caso, dividindo as primeiras colocações com duas de energia (Exxon e GE), um Banco (Citi) e uma empresa de varejo (Walmart). O quadro atual, conforme descrito no Relatório 2017 da respeitável Price water house Coopers, lembra pouco aquele anterior. A empresa que atualmente é, pelo sexto ano seguido, a número 1 do ranking (Apple) sequer constava entre as cinco maiores no começo deste século. Além disso, a única que ainda sobrevive nesse restrito clube é a Microsoft. Desnecessário chamar a atenção para o fato de que atualmente todas, sem exceção, estão diretamente associadas ao mundo das tecnologias digitais. Por outro lado, empresas como a GE já não constam entre as 100 maiores.

Atualmente, empresas baseadas em tecnologias digitais representam a maioria, acompanhadas, com certa distância, por aquelas do setor financeiro e, na sequência, companhias do setor de varejos. Os Estados Unidos, ao contrário do que possa parecer aos incautos, têm aumentado sua participação (hoje em 55%) entre as 100 maiores e é a sede das 10 principais empresas. É cada vez mais notável a presença crescente de empresas chinesas, como era de se esperar, e a Europa, que detinha 36% do mercado há 10 anos, agora detém somente 17%. A título de comparação, o Brasil em 2009 tinha 3 companhias listadas entre as 100 maiores, hoje resta somente uma.

As transformações na economia impactam, bem como são afetadas, pelos cenários educacionais vigentes. As tecnologias digitais invadem as escolas e impregnam o seu entorno, em especial no que diz respeito aos cidadãos e profissionais que nelas se formam. Elas transcendem os espaços de aprendizagem e também ocupam e definem as oportunidades de novos empregos e de negócios inovadores. Assim, as consequências educacionais são complexas, múltiplas e ilimitadas. Uma delas, a mais simples e direta, é que os modelos educacionais e as estratégias de ensino e aprendizagem fortemente influenciados pelos referenciais Fordistas/Tayloristas, dominantes no século XX, já não são mais suficientes. Ou seja, a escola tradicional, que desempenhou, com competência e pertinência, papel central em tempos recentes, está distante de atender plenamente às demandas do mundo contemporâneo.

Se no século passado a capacidade de memorizar conteúdo e a aprendizagem de técnicas e procedimentos eram o centro, atualmente o amadurecimento dos níveis de consciência do educando acerca de como ele aprende torna-se gradativamente mais relevante. Em termos mais simples, aprender a aprender passa a ser tão ou mais importante do que aquilo que foi aprendido.

Explorar esta nova realidade, onde todos aprendem, aprendem o tempo todo e cada um aprende de forma personalizada e única, é o maior de todos os desafios do mundo da educação.

*Chanceler da Estácio

 

ELES PASSARÃO E EU PASSARINHO

Vera Sábio*

“Todos estes que aí estão atravancando o meu caminho; eles passarão e eu passarinho” (Mario Quintana)

Mario Quintana, em sua maneira poética de pensar, brincou e enfeitou a questão tão difícil, que é a do ser humano aceitar suas perdas e entender que nem tudo deve passar, nem tudo pode passar e ser atropelado por quem se considera acima da lei e quer permanecer livre mesmo diante todos os fatos e provas. Afinal não existe ninguém como um inocente passarinho.A justiça só é justa quando acontece para todos, independente de sua situação social, política, cultural e educacional. Portanto não adianta cantar de galo, ou de passarinho; não adianta querer comprar a liberdade a qualquer preço. Precisamos ter fé e acreditar que a justiça tarda, mas não falha.

Nosso Brasil já está atolado de corrupções em todas as esferas, para que alguém porque teve um cargo político ou mesmo porque tem um cargo político, consiga manobrar a justiça e não deixar que ela ocorra em sua plenitude.

Qual o exemplo que deixaremos para nossos filhos, nossos netos, se tudo for permitido sem moral, sem ética, sem respeito, onde o dinheiro sujo for capaz de comprar qualquer liberdade?Os ensinamentos de Cristo precisam ser retomados e todos terem consciência de que tudo que for plantado, será colhido. Ensinando e aprendendo a plantar desde cedo, em prol de um futuro melhor.

*Psicóloga, palestrante, servidora pública, escritora, esposa, mãe e cega com grande visão interna.CRP: 20/04509www.enxergandocomosdedos.blogspot.com.br

 

Redescobrindo a pólvora

Afonso Rodrigues de Oliveira*

“No Brasil só há um problema nacional: a educação do povo”. (Miguel Couto)

Assistimos esta semana, pela televisão, a uma tremenda reportagem sobre a falta de qualificação nos candidatos ao primeiro emprego. Se formos ver o problema pelo ângulo da racionalidade, veremos que não há nada de novo nele. As soluções apresentadas pelos especialistas são tão velhas quanto o problema. Nada de novo no que vimos e no que nos foi sugerido como solução. Comecei a lidar com
esse problema há precisamente cinquenta anos. Na época em que São Paulo já começava a encarar essa dificuldade; quando começamos a pôr em prática as Relações Humanas no Trabalho, no início da década dos sessentas. Na época em que a empresa de ônibus interurbanos “Cometa” punha em prática tais testes para os candidatos motoristas. Era verdadeiro espanto para quem não estava entrosado no assunto. Hoje o método já está marchando para a obsolescência e continuamos sem praticá-lo porque achamos que é tolice. Mesmo porque os que apresentam o problema como problema, atualmente, concentram-se na indústria como se as demais atividades não sofressem com o problema. O comércio, por exemplo, caminha de muletas pensando que está correndo. O serviço público, então, ainda não se tocou para a importância do treinamento nas relações humanas, em vez de enganar, sem saber que está enganando, com palestras fantasiosas.

As relações humanas hoje já não são só no trabalho, mas também na família. Porque é daí que sai a educação necessária para o desenvolvimento profissional. E sem essa educação não chegaremos a lugar nenhum nem seremos um povo civilizado. Ainda não conseguimos entender que crescemos vivendo na democracia, mas sem viver a democracia. Relações humanas no trabalho são como a cultura, porque são cultura: é a raiz do saber. E a dificuldade em fazer os empresários entenderem isso é que ainda não entenderam que a raiz fica debaixo da árvore. Que não exercitaremos nas relações humanas sem iniciar pelo início; no básico do ensino. Que nunca seremos bons em relações humanas enquanto não nos conhecermos como humanos. Enquanto não entendermos que somos todos iguais nas diferenças. E é aí que mora a diferença. E enquanto não formos um povo realmente civilizado, não seremos humanos na essência do termo.

Temos muito que fazer para suprir a deficiência da nossa educação que caminha no frangalho da ignorância. Mas temos que trabalhar para nosso sustento. E não nos sustentaremos a contento enquanto não formos competentes e eficazes no que fazemos. Pense nisso.

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