Opinião

Opiniao 06 01 2018 5443

Primeiro, a reforma ética. – Alexandre Schwartsman*

Há três anos se falava e nem se comentava a urgência dessas reformas, mesmo período em que estávamos em período de campanha eleitoral. Ocorre uma enfatização de riscos e medo da inflação para justificar o rentismo. A causa de nossos problemas está no contracionismo de base monetária forçado pelo Banco Central a 6% de juro real, quando no mercado internacional pagaríamos 1%. Há muita falácia em relação à inflação, déficit primário, crise política.

A brutal recessão é a responsável pela queda da inflação e não uma tangencial reforma trabalhista ou da previdência. A necessidade antes de uma reforma seja ela trabalhista ou previdenciária não teria de partir do campo ético? O sociólogo A. Giddens afirma que as instituições, por definição, são as peças mais duradoras da vida social. Por outro lado, existe um consenso de que as diferenças entre os países ricos e os demais estão na qualidade das instituições. Enquanto os ricos são obcecados pelas suas instituições, os pobres são obcecados pelos indivíduos. A qualidade das instituições sociais tem impacto direto na ética dos indivíduos. Se queremos ética dos indivíduos, temos antes que consertar o sistema. Sem uma reforma ética, em primeiro lugar, dificilmente terá campo para uma reforma política. A ideia de que se passa para a população é a de que as reformas acabam privilegiando aqueles que se encontram no topo da pirâmide, forma todas as concessões realizadas pelo governo. A reforma é essencial para avançar e retomar o crescimento, mas não pelos operadores que agora estão atuando nos bastidores dessa reforma.

Engolfado por uma onda de impopularidade, Michel Temer tornou-se um presidente à procura de uma marca. Desde que assumiu a Presidência no lugar de Dilma Rousseff, Temer afirma que não está preocupado com a popularidade. O diabo é que o reformismo de Michel Temer está escorado numa fórmula vencida. Para aprovar suas reformas no Congresso, Temer compôs um governo loteado e convencional. Está conseguindo passar até por onde nunca imaginávamos passar. Estão mais do que evidentes – com ou sem o Temer – as razões para a manutenção de um estado de exceção. São duas: a jurídica, onde a corrupção é tão grave que justificaria até a suspensão do estado de direito. Por isso, muitos batem palmas, inclusive no exterior, acreditando que o Brasil estaria mais maduro por combater tão abertamente o problema da corrupção.

O problema norteador são as reformas? Evidentemente que não. As reformas são parte de um todo que sequer foram debatidas com a sociedade, sindicatos e organizações sociais. Em menos de seis meses, Temer e sua equipe econômica conseguiram o inesperado. Pena que em seis meses a reforma política ainda sequer tenha sido lembrada.

*Doutor em Economia pela Universidade da Califórnia

Trabalho x Saúde – Marcelo Uchôa Gomes*

Podemos dizer que todo profissional, seja lá qual for sua profissão, não pode e nem tem o direito de adoecer. Porque isso pode atrasar seu trabalho e o trabalho da empresa ou da instituição que trabalha. Por outro lado, podemos dizer que esse profissional não ganha o suficiente para sustentar sua família e nem para comprar remédios para curar uma simples gripe. Estava em uma padaria e encontrei um amigo que veio e me deu um abraço e disse para mim: “Eu fiquei cego por causa da diabetes…”, levei um tremendo susto e me fez lembrar de uma situação que passei. Uns tempos atrás, tive um princípio de AVC, causado pelo estresse e pelo acúmulo de trabalho por causa de minha profissão. Sou profissional da área da Educação – Professor, que me deu esse presente de Grego aos 35 anos estava sofrendo esse problema porque não somos preparados para detectar tais sintomas, seja qual for o problema. Por outro lado os governantes não se preocupam com a saúde dos profissionais, levando os mesmos ao estresse e a exaustão de carga de trabalho. Se o profissional, ou melhor, se o servidor público, seja Federal, Estadual ou Municipal, não desenvolver seu trabalho, sua função é taxado de preguiçoso, de trabalhador relapso que só pensa em arranjar desculpa para falta o trabalho, toda semana está nos postos de saúde. Para que isso não venha acontecer com frequência, os governantes deveriam desenvolver ou criar um órgão para cuidar especialmente da saúde dos profissionais das diversas áreas e não ficar desconfiando de seus servidores. Apesar de sermos mal renumerados e o preço dos remédios altos, não devem reclamar daqueles que mesmo doentes cumprem suas obrigações, como os professores que não podem faltar porque não tem quem o substitua em sua disciplina, em seu trabalho, em sua obrigação. Por isso muitos ficam doentes e são afastados forçadamente, porque muitos não querem deixar a sala de aula porque são responsáveis e são profissionais. Embora muitos perdam a voz, devido à inflamação das cordas vocais, outros adquirem problemas estomacais por comerem mal, fora de hora, de dormirem mal porque têm que ficar até tarde desenvolvendo atividades para o dia seguinte, planejando, estudando. Muitos colegas de profissão também fazem outras faculdades e muitos não aguentam mais e param de estudar no meio do caminho e se aposentam por invalidez por causa da doença, do estresse. Muitos que nunca pisaram em uma sala de aula criticam sem saber o tamanho da responsabilidade que carregamos nas costas, e não sabem o que temos ou sentimos. Não sabem o tamanho do problema que nos acompanha diariamente, e muitas das vezes, somos forçados mesmos doentes, suportar o mau-humor dos alunos e dos pais que chegam exigindo o máximo do professor sem saber como está a saúde dele, porque não veem o professor como ser humano e sim como uma máquina que sabe tudo, não precisa se ausentar de sala de aula para ir para faculdade aprender mais, para poder repassar para os filhos deles. Então, podemos ser melhores valorizados se os governantes nos veem como ser humanos que precisam de cuidados e podemos ser melhores renumerados, para termos condições de cuidar de nossas saúdes. Durante um ano, muitos colegas passam mal em sala e são forçados a ir ao médico, pagar caro, para termos um diagnóstico adequado, para poder levar até as pessoas responsáveis que muitas vezes sem saber, criticam, em vez de observar melhor os problemas que cada um tem e preferem não porque será criticado muitas das vezes até mesmo perseguido dentro da instituição de ensino. É humilhante toda essa situação. Poderiam criar um centro de atendimento só para os professores, com especialistas de diversas áreas, para dar diagnósticos cabíveis a esses profissionais, em vez de criar formas de afastar aquele ou aquela profissional que adoeceu e renomeando como readaptados para que os mesmos não percam suas funções dentro de uma escola. Dessa forma, o profissional que passou muitos anos se esforçando para não faltar, não atrasar seu diário de classe, ser bem visto pelos alunos, pelos pais, pelos próprios colegas, se sente muitas vezes rejeitado e excluído do grupo por ser um readaptado, porque está tirando a vaga de outro que poderia estar em seu lugar, mais só que muitos novatos não estão preparados como esse que foi readaptado. São essas as diferenças provocadas por esses problemas de saúde que as autoridades públicas não enxergam por não se preocupam se o servidor está bem ou não, se precisa de atendimento médico ou não. Se nós quisermos ter um bom atendimento temos que gastar, e muitas vezes não temos condições. Por isso que pedimos um pouco de atenção para a saúde do servidor público, para podermos chegar ao final de carreira dignamente e podermos dizer fomos cuidados, por isso conseguimos vencer uma jornada longa de trabalho ao longo da vida. Para que isso venha acontecer, os governantes terão que prestar mais atenção aos seus servidores, para evitar que muitos sofram nas filas dos PS, perdendo, não só o tempo, a vida, nas longas esperas por atendimentos, quando conseguem.

*Professor

Hibernação cívica – Afonso Rodrigues de Oliveira*

“Os problemas na política são dos políticos; os problemas nos políticos são da sociedade.”

Entorpecidos, é como estamos. E olha que isso faz tempo pra dedéu. Aqui e acolá alguém tenta se levantar, trôpego, esfregando os olhos. É assim que estou vendo a sociedade brasileira, atualmente; que nem cachorro rodando atrás do próprio rabo, sem saber quem é, nem por quê. Estão querendo acabar com o famigerado foro privilegiado. Ufa!!… Finalmente alguém se tocou que já era tempo de acabarmos com a velha, famigerada, caduca, anacrônica e arcaica política do “sabe com quem está falando”? Porque é isso o que o foro privilegiado é.

Não faz muito tempo, ouvi uma autoridade, que não identifiquei, dizendo, numa entrevista: “Os problemas na política são dos políticos; os problemas nos políticos são da sociedade”. Ele disse isso no final da entrevista, levantando-se para sair. Estou autorizando a me jogar a primeira pedra, quem prestou atenção à fala da autoridade. Nem mesmo o entrevistador prestou. Talvez não tenha tido condições de entender o que foi dito. A sociedade está anestesiada. Perdeu o respeito para com ela mesma. Ela mesma se encarrega de mandar para os legislativos, os representantes que ela merece. E nada mais do que isso. A banalização está dominando a razão. Anulando-a. O que está acontecendo na nossa política não é mais do que o reflexo do despreparo da sociedade. E antes que você se sinta ofendido enquanto membro da sociedade, lembre-se de que todos os que estão nos escandalizando na política foram eleitos por nós.

E muitos até, eleitos depois de expulsos da política.

A coisa está tão banalizada que já ouvimos alguém dizer: “O senador fulano renunciou para não perder os direitos políticos. Assim já poderá se candidatar nas próximas eleições”. E depois os que o elegerem irão para as ruas esbravejar. E continuamos politicamente analfabetos. Naquela de, “rouba, mas faz”; “roubou, é verdade, mas fez. Por isso continuarei votando nele”. Já ouvi essa fala, vinda de pessoas tidas como cultas e civilizadas.

Fiquei feliz quando soube que pretendem acabar com o foro privilegiado. Finalmente um troglodita sairá da hibernação. Mas, mais um deve ser eliminado. E isso será no dia em que alguém descobrir o absurdo que são os concursos públicos atuais. Ainda não percebeu? Reflita sobre isso: qual o objetivo do concurso público? Evitar que se nomeiem parentes, amigos e aderentes? Cara, preste atenção. Você continua combatendo o inimigo errado. Veja se se toca para o imbróglio. Reflita sobre as aspas no início deste trabalho. Prepare-se para seu voto. Pense nisso.

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