Opinião

Opiniao 03 01 2017 3463

Dias de domingo – Walber Aguiar*Sou apenas um homem. Um pequenino homem à beira de um rio. Vejo as águas que passam e não as compreendo. Drummond

Menino, vem almoçar! Era o grito, a ordem irrefutável, o sinal para que todos se postassem à mesa, em torno do cozido, da panelada, da galinha caipira, enfim, de tudo aquilo que dava prazer aos olhos e ao paladar.

A festa mesmo era aos domingos, quando todo mundo se reunia para conversar e viver intensamente aquelas horas curtas, porém agradáveis. Felizmente, a televisão, que naquela época ainda não se tornara a “deusa dos raios azulados”, não fazia a frágil cabeça  de meninos e meninas. Ausentes a manipulação da mídia e o poder ideológico da política partidária, exercíamos livremente nossa pureza e ingenuidade. Baladeira, bolinha de gude, manja, esconde-esconde, geral, bandeirinha, pião, papagaio (pipa), gibis e a tradicional pelada faziam parte de nossa intensa e louca infância. E logo ali, na velha Coronel Mota. Tudo era milimetricamente aproveitado. Todos os espaços daquela efervescência existencial eram preenchidos pela meninada.

Ainda lembro do dia em que todos estávamos à beira de uma vala enorme. Idos de 70. Nego João era o mais temido, pois dava cascudos na molecada. Lá no começo da rua avistamos Ricardo, mais conhecido como “Mercadinho”. Vinha com uma enorme bacia de cocadas na cabeça, todas cobertas com um pano branco. Começamos a jogar pedras, a fim de que o menino se desviasse. Não deu outra: o vendedor de doces deixou cair toda a mercadoria na vala. Todos correram pra casa. Ricardo chorou e teve as cocadas pagas pelo velho “Arigó”, pai de Raimundinho, que não teve como escapar da surra. O velho, de saudosa memória, era tio de meu pai e tinha fama de mau, pois durante a adolescência, no Nordeste, quis seguir o bando de Virgulino Ferreira, o Lampião.

Duas coisas eram temidas: a surra em casa e o encontro com a turma do “Deda”, na outra parte da rua. Ninguém podia invadir o território alheio, sob pena de apanhar e chegar em casa chorando. Por aquelas bandas morava Mário, o vascaíno, primo de “camiranga”. Baixinho, galista, torcedor fanático do Vasco, vibrava com os gols de Roberto Dinamite e vivia discutindo futebol com aqueles que também entendiam do assunto. O filho de seu Eduardo e dona Marieta era folclórico e extremamente gozador. Mas Mário nunca  convenceu ninguém a torcer pelo time da cruz de malta. Desde pequeno aprendi a torcer pelo Fluminense, herança de meu primo Magno, que me ensinou a ter bom gosto, tomar vinho e  vibrar com os gols de Cláudio Adão, Assis e Romerito. Aquelas três cores me fascinariam para sempre.

Naquela manhã todos acordaram assustados. Fogos espocavam por todos os lados. Era mais uma Copa do mundo. A seleção entrava em campo nos gramados argentinos. Ano de 78, festa, rua enfeitada de bandeirinhas verde-amarelas, junto com os rojões de seu Cleto, estourados sempre depois da vitória da Seleção canarinho. Era o máximo. Ali, na velha rua, a alegria era contagiante. Naquela geografia dos pés descalços, acontecia de tudo, “chuva de peixe”, gozação, valas abertas, alagações e tudo quanto a imaginação pudesse criar. Antônio Chinelão fez parte daqueles dias. Dono de bar, aguentou muita coisa. Chateção de bêbado, jogo de sinuca e o famoso “pendura” .Mesmo caxingando, vítima de uma armadilha de caça, “Chinelo” atendia a todos com enorme cortesia. Magno, nego João, caboco Clério, “Camiranga”, Dagmar, Paulo “Mamão”, Nairon e Danilo Preventino. Jânio “Cachorrão” também aparecia por lá de vez em quando. Gostava de beber no bar do seu Pinheiro, embalado pela viola de Clério, o caboco que tocava não apenas violão, mas o sentimento de cada um de nós.

Ainda hoje, na quietude de meus pensamentos, ouço todas as vozes, todos os gritos, todas as tristezas e alegrias daquela velha rua de barro batido, daquele espaço santificado pela devocionalidade de um sentimento quase infantil.. O lugar de Moacir, o “Bode”, de Barbosinha, Márcio Velho, Maurício Bunitin, Delei, Ailton e Chico Catraca. Lembro de seu Calandrino, Dona Vevé, Vovô, Sabugo, Treveco, Dona Iolanda e Genésio do trombone. Quando a saudade aperta o peito, fico olhando todos aqueles quintais e lembrando da felicidade, da manga com sal e dos gritos sempre vivos de Dona Maria, a mulher que me amou incondicionalmente…

*Advogado, poeta, historiador, professor de filosofia e membro da Academia Roraimense de [email protected]    confissoesdopoeta.blogspot.com  ———————————–Recordações e muitas saudades – Marlene de Andrade*Bem- aventurados o que choram, pois serão consolados. (Mateus 5:4)

Passei o Natal no Rio de Janeiro na casa de um dos meus irmãos. Lá estava minha irmã, minha mãe e mais um de meus irmãos e uma porção de sobrinhos, cunhadas e Cia Ltda. Foi comigo para o Rio de Janeiro meu neto de 16 anos, minha filha caçula, seu filho de 10 anos e seu esposo. Fiquei hospedada no apartamento de uma de minhas filhas que reside em Copacabana. Minha filha do meio preferiu ficar em Boa Vista mesmo, mas o que mais me entristeceu foi não estar presente o meu irmão que reside em Caxambu, pois depois que ele ficou viúvo após mais de 30 anos de casado a vida dele mudou muito devido a imensa saudade da mulher que tanto amava.

Já o 31 de dezembro fui com minha filha caçula, meu genro e meus dois netos para Brasília onde reside a filha mais velha de minha irmã, a qual também estava lá. A mamãe, poxa vida, se mandou para Maricá onde foi passar o final do ano na casa de um dos meus irmãos. Quanto minha filha que mora em Copa, foi passar o Réveillon em João Pessoa. Quantas alegrias, porém, quantos desencontros e saudades dos que estavam ausentes. Que vida estranha é essa! Contudo, que bom foi estar comquase todos meus familiares e lembrar situações do passado quando todos juntos lutávamos por dias melhores. Que pena que agora não sei quando os verei de novo.

Amo Boa Vista, mas sinto falta de meus familiares que residem longe de mim, mas fazer o quê, se a vida é mesmo cheia de desencontros? Senti muitas saudades de meu pai que faleceu há vinte anos e que deixou muitas saudades.  Bem que Vinícius de Morais explicou em versos e prosas que a “vida é a arte da separação”, porém me consola saber que Deus cura os de coração quebrantado e cuida das nossas feridas (Salmo 147:3).

Mas que bom que estou, novamente aqui, em Roraima, a qual adoro com um amor muito especial! Que bom também que meus irmãos e muitos dos meus familiares ainda estão vivos e quem sabe nos encontraremos muitas outras vezes? E para ficar bom ainda mais, tomara que 2017 seja um ano com muita paz e harmonia para todos nós, brasileiros, que tanto sofremos as consequências da institucionalização da corrupção, em nosso tão querido país.

*Médica Especialista em Medicina do Trabalho/ANAMT, técnica de Segurança no Trabalho e pós-graduada em Perícias Médicas e Saúde Públicahttps://www.facebook.com/marlene.de.andrade47(95) 36243445———————————–Início de corrida – Afonso Rodrigues de Oliveira*“Se você pode sonhar, você pode fazer”. (Walt Disney)Quem conhece as histórias de vida do Disney e do Henry Ford, entende bem o que eles disseram com seus pensamentos simples. O Henry Ford, por exemplo, disse: “Se você acha que pode você está certo. Se acha que não pode, está igualmente certo”. Tudo depende do que você acha no que você vê. Comece vendo as coisas na sua simplicidade. Estamos iniciando uma corrida que vai nos desgastar na sua aceleração, dependendo de como a encaramos. São mais de trezentos e sessenta dias de corrida sem paradas. Seu cansaço vai depender do seu preparo físico, mental e racional. Tarefa igual para cada um de nós. Não há diferença nem paradas para ninguém. Então vamos encarar a tarefa com otimismo, perseverança e bom humor. Este faz a diferença que traz uma diferença enorme no resultado da corrida.

Não precisa ficar olhando para o calendário todos os dias, isso cansará você e você envelhecerá durante a corrida. Acabamos de festejar o fim de uma delas. Até mesmo os que não tiveram tanto sucesso assim.

Veja bem, o primeiro dia da corrida já se foi, era, e não voltará mais. E já vi, no jornal, alguém fazendo careta com a dor da ressaca. Para ela o primeiro dia já foi cansativo e exaustivo. Como serão os trezentos e tantos, restantes. E o dia que passou não voltará mais. O que nos leva à racionalidade de viver cada minuto do dia como se o dia fosse o último, na corrida. Mas cuidado, não caia na esparrela de viver o dia como o último, mas apenas como se ele fosse o último. Há uma diferença enorme entre uma coisa e a outra.

Esqueça o dia que já se foi e viva intensamente o dia de hoje, agora. Não se deixe levar pelos desacertos. Aprenda com eles. Tudo que acontece na sua vida, todos os dias, todas as hora, e a cada minuto, faz parte de sua vida. Jogue para o lixo o que não lhe agradou e esqueça-o. Procure aprender com ele fazendo a coisa diferente, a partir do minuto seguinte. É assim que crescemos e evoluímos sobre esta Terra que ainda está em evolução. E você pode fazer parte dessa evolução, mesmo dando uma de colibri. Não importa quanta água você leva para apagar o incêndio, o que importa é sua atitude na contribuição para apaga o fogo. E não deixe que o fogo da desordem atinja você durante os mais de trezentos dias que você ainda tem pela frente para festejar o término da corrida. Você não será a única pessoa a vencer a corrida. Nela não há primeiro lugar. O número de primeiro pódio é incontável. E um está reservado para você. E não decepcione você mesmo, não o atingindo. Você pode, se achar que pode. Pense nisso.

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