Opinião

Opiniao 02 02 2018 5591

Renascer na madrugada – Eurico Teles*

Não foi fácil, nem rápido: o encontro de credores, executivos da Oi e o administrador judicial Arnold Wald, começou na manhã de 19 de dezembro e terminou na madrugada do dia seguinte, no Riocentro. A Assembleia Geral dos Credores foi o último capítulo de uma saga que começou em 20 de junho de 2016, quando a Oi apresentou à Justiça o pedido de Recuperação Judicial para renegociar suas dívidas. O plano foi aprovado na primeira assembleia, fato inédito até então entre as recuperações judiciais no país. A aprovação foi por maioria expressiva na classe de credores sem garantia real (72,17%) e praticamente por unanimidade nas classes trabalhistas (100%), garantia real (100%) e microempresas (99,8%).

No início, havia a preocupação em como os colegas da empresa reagiriam ao pedido de Recuperação Judicial. Mas foi deles que veio o primeiro e mais forte sinal de que iríamos atravessar esta tormenta. Depois de o pedido ser feito, os próprios funcionários criaram e fizeram circular a hashtag #somostodosoi, para que todos continuassem a fazer o seu trabalho da melhor forma possível. O resultado: a empresa melhorou seus indicadores da qualidade.

Seguros de que a empresa continuaria a todo vapor, fomos para a negociação. Foi um longo período de conversas com grandes e pequenos credores. Viajei pelo Brasil para implantar centros de negociação de acordos com quem tinha até R$ 50 mil a receber. Só nestes centros, nos entendemos com 30 mil dos 55 mil credores. Isso mostrou como a Recuperação Judicial é importante para preservar as empresas e assegurar a estabilidade da economia do País.

Com o Plano de Recuperação aprovado e homologado pela Justiça, fica a reflexão: o quanto este instrumento pode estar ajudando a economia brasileira a sair da recessão? Quantas falências foram evitadas? Quantos empregos deixaram de ser destruídos? Em relação à Oi, cito alguns números para dar a dimensão da companhia: falamos de uma empresa que tem cerca de 130 mil funcionários, diretos e indiretos que foram preservados.

Assumimos esta meta com credores, acionistas, clientes e moradores dos locais em que a companhia atua, uma abrangência não equiparada por nenhuma outra empresa no país. A aprovação do Plano de Recuperação Judicial é o que faltava para que novos investidores, inclusive fora do Brasil, se unam ao projeto da Oi. A capitalização prevista (que vai aumentar o patamar de investimento de R$ 5 bilhões para R$ 7bilhões anuais no triênio 2018/19/20) vai transformar intenção em realização. O futuro das telecomunicações anuncia mudanças profundas no nosso dia a dia. Para este novo mundo, uma nova Oi nasceu na madrugada do dia 20 de dezembro de 2017.

*Presidente e diretor jurídico da Oi

Gentileza gera gentileza – Vera Sábio*

Não há idade para aprender e, mesmo sendo pai ou mãe, diversas vezes os filhos têm o dom de nos ensinar coisas básicas.

Ontem passei por uma discussão com um atendente; simplesmente por sua má vontade de atender bem o cliente.

Isto é tão corriqueiro pelas pessoas que devem estar trabalhando para servir o público; mas não compreendem este dever, esquecendo que “o cliente sempre tem razão”.

Não digo que estou certa em me exaltar; meu filho adolescente teve melhor serenidade no momento estressante. Porém, isto poderia ser facilmente evitado, se os atendentes estivessem no local certo, quando resolveram ter a profissão de servir o cliente.

Chega ser hilário, verificar que o vendedor está naquele setor exatamente para atender o cliente e facilitar sua compra. Afinal, ele só existe porque alguém irá procurá-lo para comprar algo que deseja.

Tão lógico, todavia tão frustrante quando verificamos a má vontade do vendedor, o qual não sabe que gentileza gera gentileza.

Eu estava acostumada comprar em uma loja e precisei fazer uma troca. Lá chegando, uma das atendentes me falou que o procedimento simples estava em escolher outra mercadoria e levar as duas no local da troca para efetuá-la.

Tudo bem, até que na troca, a outra atendente verificou que mesmo o produto possuindo as etiquetas necessárias, a nota não estava dentro da sacola.

Comentei o que sabia, pois achava que a nota estava lá, que poderia ter caído quando a outra atendente verificou o produto da troca. Mas, já havia trocado na mesma loja, outro produto que ganhei, sem a nota fiscal.

Neste momento o estresse veio à tona.

A atendente com a má vontade de procurar a nota no computador à sua frente e ainda pedir ajuda a mais 3 atendentes que encontravam-se neste local, disse simplesmente que não poderia fazer a troca, que quando era presente poderia, mas como quem comprou fui eu, não teria como.

Nisso meu filho me tirou da fila e disse: “bom, então troca para mim, ganhei de presente…”. O que era verdade, a troca era para ele.

E a atendente com descaso, repetiu que não podia, que eram normas da casa…

Indignada, pedi para chamar o gerente, já afirmando que não seria mais cliente daquela loja…

Nesse momento, não sei porquê, mas procuraram a nota no computador e em menos de 2 minutos fizeram a troca.

Agora alguém deve estar pensando, o porquê de um texto assim, enquanto vários outros, estão enxergando suas histórias neste relato.

O que lhes afirmo é que enquanto os atendentes, vendedores e qualquer pessoa que dependa do público para manter seu trabalho não colocar a mão na consciência, fazendo como gostaria que os outros lhe fizesse irão perdendo gradativamente seus clientes.

Cada dia temos novas concorrências no comércio; porém a diferença entre você voltar ao mesmo estabelecimento para realizar a compra que poderia fazer em vários outros não está no produto, quase nunca na marca, poucas vezes no preço; no entanto a maioria das vezes, na forma em que foi bem acolhido, tratado e aceito naquele local.

Gentileza gera gentileza, e não devemos esquecer disso.

*Psicóloga, palestrante, servidora pública, escritora, esposa, mãe e cega com grande visão interna.CRP: 20/[email protected]

A forma da água – Oscar D’Ambrosio*

A marginalidade torna os diferentes iguais. Esse poderia ser o mote do filme ‘A forma da Água’ (‘The Shape of Water’). Temos ali, em meio à Guerra Fria, na qual EUA e Rússia preferem a destruição do mundo a uma derrota, um romance improvável e lindamente filado e interpretado.

A paixão entre uma criatura fantástica meio peixe, meio homem, uma espécie de sereia ou iara masculina, e Elisa, a faxineira muda de um laboratório experimental secreto em que a ‘fera’ está presa. O encontro entre os diferentes possibilita uma épica fábula, onde a morte simbólica é inevitável para se ter um final feliz em uma nova dimensão.

Os personagens de apoio desse encontro – um desenhista de anúncios publicitários homossexual com o trabalho rejeitado pela utilização cada vez mais comum da fotografia; um espião russo que deseja salvar a criatura; e uma faxineira, colega de Elisa, que começa a descobrir o empoderamento feminino – completam o quadro.

A direção de Guillermo del Toro congrega a fantasia da situação com o drama do sofrimento dos protagonistas e o amor que pode tudo harmonizar. O ritmo acelerado, a delicadeza das imagens e a sincronicidade da trilha sonora envolvem e apontam para uma salvadora conclusão: a ficção pode não salvar, mas reconforta. *Jornalista, mestre em Artes Visuais pelo Instituto de Artes da Unesp, é Doutor em Educação, Arte e História da Cultura

Vamos investir – Afonso Rodrigues de Oliveira*

“Vamos investir primeiro em educação, segundo em educação, terceiro em educação. Um povo educado tem as melhores opções na vida e é muito difícil que os enganem os corruptos e mentirosos.” (José Mujica)

Mas vamos primeiro aprender a educar. A Educação, por aqui, há muito tempo anda numa queda catastrófica. E faz muito tempo. Ainda pensamos em níveis trogloditas. Educar pra quê? Uma caminhada longa, demorada e muito cansativa. E nada mais simples do que o cansaço para os que não pensam. Só quando formos um povo realmente educado seremos um povo livre. Como o Mujica, Napoleão Bonaparte também disse que “Devemos construir mais escolas para não termos que construir mais presídios. E por incrível que pareça, nem construímos escolas nem presídios.” E o que temos? Bandidos nas favelas, nas cidades e na política.

Não adiante querermos ser cidadãos civilizados enquanto não nos civilizarmos. E não nos civilizaremos enquanto não nos educarmos. E só nos educaremos quando nos educarem. Eu ainda era um garoto quando li, na capa do meu caderno, na escola primaria, a seguinte frase: “A educação é como a plaina: aperfeiçoa a obra, mas não melhora a madeira.” E só entenderemos isso quando nos educarmos o suficiente para entender. Somos seres humanos. E como tal ainda temos falhas, no nosso grau de evolução racional. O que significa que a educação não vai eliminar os corruptos, mas vai nos tornar esclarecidos para sabermos como nos livrarmos deles. Gente…

Vamos parar um pouco e refletir sobre a vergonha que estamos sofrendo. E ainda não demos importância à simplicidade do dizer do Barão de Itararé: “Se o idiota está no poder é porque os que o elegeram estão bem representados”. E não é mais do que um idiota, cada um dos políticos da elite política, que está na cadeia, representando os que o elegeram na política. Simples pra dedéu. E nem nos mancamos que estamos caindo naquela de: “Dize-me com quem andas e te direi quem és”.

Vamos lutar pela nossa educação. Não deixemos que o mundo nos veja como meros títeres de espertalhões que não são mais do que idiotas. Vamos cuidar dos nossos filhos e netos para que eles possam ter um mundo melhor do que o nosso. E mais do que isso, orgulhem-se do nosso trabalho para uma educação à altura do Brasil que os idiotas estão achincalhando. E não podemos, nem devemos, considerar uma pessoa educada só porque ela sabe ler e escrever. E acredite, ainda há políticos que acham que “para ensinar essas crianças do interior o professor basta saber ler e escrever”. Vamos fazer nossa parte, limpando o lamaçal em que vive nossa política. Pense nisso.

*[email protected]