Jessé Souza

O estopim e a polvora 3509

O estopim e a pólvoraQualquer galeroso que ainda está ensaiando entrar para o mundo do crime aprendeu a dizer por aí que pertence a esta ou aquela facção criminosa. Os novos pobres que estão surgindo não têm mais a esquerda como referência de esperança de lutar por um mundo melhor, diante do que se vê na política brasileira, na qual esquerda e direita estão no mesmo buraco da corrupção.Em Roraima, a esquerda está se assemelhando a um cego perdido no tiroteio. E o que se vê são sindicatos lutando por seus benefícios sem ao menos incluir o trabalhador pobre, sem qualificação, sem formação e os imigrantes que estão chegando para ocupar o mercado de trabalho.Com o decreto de morte da utopia que era pregada pela velha esquerda, os novos empobrecidos estão absorvendo o discurso dos extremistas de direita. Basta ler nas redes sociais os discursos de gente que não consegue escrever cinco palavras de forma correta, mas defende abertamente as piores atrocidades como solução imediata para os problemas, como se a democracia e um país moderno, com base na educação, não fossem mais garantia de desenvolvimento e bem-estar.Antes condenados ao silêncio pelas mídias tradicionais e representados por ativistas que iam para as ruas protestar, agora os novos excluídos – aqueles que buscam emprego ou sobrevivem da aposentadoria dos avós – facilmente são cooptados por discursos de Bolsonaro ou dos pastores neopentecostais que, mesmo levando facada no pescoço, logo em seguida conseguem fazer com que a camisa suja de sangue comece a “fazer milagres” e a “curar pessoas”.Sem referência e sem ideologias, os jovens entregues à ociosidade e às drogas enxergam nas facções criminosas uma identificação, um reduto de poder que desafia a ordem estabelecida, essa mesma ordem esfacelada pela corrupção em Brasília, no Estado e nos municípios.  São os mesmos jovens que veem vereadores que mal assumiram o mandato e já brigando por aumento salarial, enquanto muitos tentam sobreviver com um salário mínimo indigno.Há uma massa sem referência, sem esperança, sem exemplo e sem inclusão social solta por aí, cooptada pela extrema direita, por facções criminosas, pelo galeroso da esquina ou o traficante do bairro. E há os pobres órfãos de uma esquerda e que não acreditam mais na política e na democracia pela forma como tudo está descambando.Não são apenas os presídios superlotados e comandados por facções criminosas que estão prestes a explodir a qualquer momento. Temos uma sociedade largada ao descaso e à desesperança pronta para explodir. E todos estamos caminhando para 2018 sem saber o que virá… O estopim foi aceso há tempos.*[email protected]: www.roraimadefato.com

Publicidade