Jessé Souza

O crime e os engravatados 4643

O crime e os engravatados Os últimos desdobramentos que resultaram na prisão de mulheres que integram o núcleo feminino da facção criminosa Primeiro Comando da Capital (PCC) demonstram, mais uma vez, a organização da bandidagem com seus tentáculos até na advocacia, o que representa mais um sinal grave de alerta às autoridades.

Embora a prisão de advogados em Roraima assuste as pessoas, isso não é nenhuma novidade no país, a exemplo da Operação Ethos, em São Paulo, onde vários advogados foram presos sob acusação de envolvimento com o “Partido do Crime”. Das 35 pessoas presas, 32 eram advogados, inclusive o vice-presidente do Conselho Estadual de Defesa dos Direitos da Pessoa Humana (Condepe).

Lá, os advogados eram utilizados como “pombos-correios”, ajudando o PCC a elaborar uma lista para execução de agentes do Estado, algo muito semelhante ao que está ocorrendo por aqui, conforme as investigações que resultaram na prisão das “cunhadas” do crime organizado, como são chamadas as mulheres de líderes de facção criminosa.

A ação em curso mantido pela Polícia Federal em conjunto com outras forças policiais do Estado só revela o que todos já sabíamos a respeito do avanço do crime no Estado, por culpa da omissão da maioria das autoridades, que não agiram no tempo certo.Em São Paulo, a estratégia dos criminosos era se infiltrar em todos os organismos possíveis, seja para manter contato fora dos presídios ou mesmo gerar notícias para desestabilizar as forças policiais, fazendo a opinião pública acreditar que os agentes de segurança estavam agindo de forma truculenta, ou seja, “oprimindo”, como os presos costumam falar.

As prisões que estão ocorrendo são fundamentais para desarticular os criminosos, mas isso não é o suficiente, pois é fundamental reestruturar o sistema prisional, pois além dos problemas estruturais, o Estado mal consegue dividir presos por facções, mantendo uma na Penitenciária Agrícola de Monte Cristo (Pamc) e a outra rival na Cadeia Pública de Boa Vista.

Enquanto não houver controle total sobre a situação, principalmente no sistema prisional, o estado de Roraima continuará convivendo com essa onda de violência, com crimes de execução registrados semanalmente, como se homicídio agora fosse algo banal.

Os passos foram dados tardiamente, mas o importante é que as polícias têm mostrado enfrentamento ao crime, conseguindo com que a Justiça alcance também os “engravatados” que estão em sintoniza com o crime organizado. É preciso extirpar o mal antes que ele domine tudo, a começar pelas autoridades.*[email protected]: www.roraimadefato.com.br