Jessé Souza

No vacuo da inseguranca 6152

No vácuo da insegurançaAndar pelos bairros de Boa Vista é um bom exercício para se perceber as transformações pelas quais a cidade vem passando, algumas lentamente e outras muito rápidas. Mas uma questão que preocupa todos é a insegurança, que aflige os moradores dos bairros mais pobres, na zona oeste, aos mais nobres, na zona leste. O medo é generalizado e as ocorrências policiais diárias mostram isso.

Um caso que revela esse cenário foi o cruel assassinato de uma evangélica que trabalhava como voluntária fazendo faxina na igreja onde ela congregava, no bairro Santa Luzia, na zona oeste. Por não ter dinheiro para dar aos bandidos, ela foi golpeada fatalmente no pescoço, dentro do templo, onde ela estava sozinha e indefesa.

Por coincidência, a Polícia Militar estava concentrando seus esforços na “Operação Choque” no interior do Estado, em especial no sul de Roraima, onde a insegurança se tornou um grande problema. Também na Capital são realizadas ações conjuntas das polícias, mas essas operações são apenas uma forma de passar sensação de segurança e de tentar justificar à população que o governo está fazendo algo.

Mas quem anda pelos bairros tem notado a ineficiência do poder público com a segurança, a partir do surgimento de empresas de segurança privada, que têm se expandido por toda a cidade, mostrando que a insegurança do povo passa a ser o lucro de empresários que enxergaram a deficiência do Estado em garantir proteção aos cidadãos.

Quem se sente largado pelo poder público acaba vendo-se obrigado a pagar mensalidade de R$ 100,00 para que empresas vigiem seus lares ou seus empreendimentos nos bairros da Capital. O negócio tem sido tão lucrativo que a segurança privada pode ser vista dos bairros nobres aos mais afastados do Centro.

Pequenos comerciantes acabam contratando vigilantes fortemente armados para ficarem na frente de seus estabelecimentos quando anoitece. E os pais e mães de famílias sentem-se compelidos a contratar o serviço de vigilância, sob o risco de terem seus lares invadidos a qualquer hora do dia por bandidos cada vez mais audaciosos, a exemplo do que ocorreu na igreja evangélica, no sábado.

O grande perigo é que essa ausência do poder público, que transfere para as empresas privadas a segurança do cidadão, acabe fomentando o surgimento de milícias, assim como ocorre nos grandes centros, onde um poder paralelo se estabelece no vácuo da incompetência do Estado. E todos sabemos no que pode dar quando existe um poder paralelo atuando onde o poder público não chega. Estamos correndo um grande perigo!

* [email protected]: http://roraimadefato.com/main/