Jessé Souza

Na fila do oportunismo 4452

Na fila do oportunismo  Nas décadas de 1970 e 1980, qualquer pessoa podia ocupar um pedaço de terra, na cidade ou no interior, fazer um barraco qualquer e se declarar dono. Quem viveu naquela época poderia ser dono de um sítio às margens de qualquer igarapé ou de uma casa em qualquer cidade. No entanto, os roraimenses da época não tinham qualquer ambição ou necessidade de ocupar nada.

Então, foram chegando os migrantes e começaram a se apropriar do que foi possível, seja por conta própria ou motivados por políticos que incentivavam (e ainda hoje incentivam) as invasões com a promessa de legalizar depois, caso eleitos. A maioria dos bairros de Boa Vista começou desta forma.

A propósito, uma cena que ocorreu na semana passada reflete bem essa questão. Uma senhora de 60 anos estava na fila para pegar um histórico da conta de energia a fim de comprovar a posse de uma casa no Beiral, para fins de indenização.Na fila da Eletrobras, a senhora falava em alto e bom tom que tinha mais duas casas em Boa Vista e um sítio no interior. E fazia questão de dizer que o dinheiro da indenização que ela iria receber, cerca de R$ 70 mil, seria para comprar gado para sua propriedade na zona rural. O detalhe é que a casa no Beiral estava alugada para outra senhora, que no passado já havia recebido uma unidade habitacional para deixar o local, segundo ela.

E assim se faz a “indústria da invasão” em Boa Vista, onde o Beiral é apenas um desses exemplos. É fato que há famílias ali que têm apenas aquela moradia, mas boa parte dos casebres à beira do rio servia apenas ao tráfico de droga ou para especulação, isso sem contar com aquelas famílias que já haviam recebido casas para deixar o local.

Há quem diga que estaria ocorrendo um “saneamento social”, com a retirada de famílias pobres. Mas os boa-vistenses sabem que o melhor para a cidade é revitalizar aquela área, com retorno no turismo, geração de emprego e renda.

O que a sociedade precisa ficar atenta é com a aplicação dos recursos públicos nesse projeto. Já sabemos que, quando se trata de poder público, é necessário fiscalizar de perto. A Operação Lava Jato está aí para comprovar isso. E a Orla Taumanan é outro exemplo, pois uma terceira plataforma simplesmente não apareceu, a não ser a base dos pilares submersos nas águas do Rio Branco.

Um parêntese: não é a primeira vez que a Prefeitura tenta retirar os moradores daquela área, no Centro, às margens do Rio Branco, que alaga nos invernos mais rigorosos; agora, com milhões do Governo Federal na conta, a fiscalização deve ser mais rigorosa.*[email protected]: www.roraimadefato.com.br