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TERRITÓRIO BRASILEIRO DO PIRARA TOMADO PELA INGLATERRA

A construção do Forte São Joaquim na confluência dos rios Uraricoera e Tacutu, em 1775, foi um marco decisivo na conquista do rio Branco para o domínio português. A decisão para construir o Forte, hoje praticamente destruído, foi tomada para que os portugueses pudessem enfrentar a cobiça internacional e assegurar a soberania de Portugal sobre as terras do vale do rio Branco. Após a inauguração do Forte de São Joaquim, em 1778, os portugueses partiram para a criação de povoados, reunindo os próprios índios da região. Foram criados os povoados: Nossa Senhora da Conceição e Santo Antônio (no rio Uraricoera), São Felipe (no rio Tacutu) e Nossa Senhora do Carmo e Santa Bárbara (no rio Branco).

Estrangeiros em terras rio-branquenses: Os primeiros colonizadores a chegar ao rio Branco foram os portugueses: Capitão Francisco Ferreira, o Padre carmelita Jerônimo Coelho e José Miguel Aires. Estes vieram com o propósito de aprisionar índios e recolher ovos de tartaruga para fazer manteiga. Depois deles, vieram Lourenço Belfort e Cristóvão Aires Botelho, que foram os primeiros a ultrapassar a cachoeira do Bem-Querer. Outro estrangeiro foi Nicolau Horstman, um holandês que partiu de Paramaribo, capital da colônia holandesa na América do Sul, atingiu o rio Negro e depois o rio Branco em 1741 para fomentar o comércio de escravos índios pelos rios Tacutu e Jauaperí até àquela colônia.

Já os espanhóis, vindos do rio Orinoco entre 1771 e 1773, invadiram o rio Uraricoera, atravessando a cordilheira de Pacaraima, o que parecia impossível para os portugueses na época e fundaram três povoações: Santa Rosa, Santa Bárbara e “São João Batista de Cada Cada”. Foram, no entanto expulsos pelos portugueses.

Dentre estes estrangeiros que aportaram em terras hoje roraimenses, há um que é tema central desta reportagem: Robert Hermann Schomburgk (1804 – 1865), explorador britânico, nasceu em Freiburg, Saxônia prussiana, filho de um pastor protestante. Em 1835, a ele foi confiado o comando de uma expedição à então Guiana Inglesa. Ele cumpriu sua missão (1835-1839) e incidentalmente descobriu em 1837 uma planta aquática que posteriormente a denominou de “Vitória-régia” (em homenagem à rainha Vitória, da Inglaterra).

Em 1841, Schomburgk voltou à Guiana, desta vez como oficial do Governo Britânico para mapear e fixar suas fronteiras. O resultado foi uma fronteira provisória entra a Guiana e a Venezuela, conhecida como a “Linha Schomburgk”, assim como a fronteira com a colônia holandesa do Suriname. Ele aconselhou a regulamentação da fronteira com o Brasil, já que alegou ter visto escravidão de índios locais – muitos dos quais já extintos – por brasileiros.

Posteriormente, suas explorações nessa região geraria um conflito diplomático que seria denominado “Questão do Pirara”, no qual o Brasil cedeu dois terços do território disputado.

Robert Schomburgk chegou até o forte São Joaquim, portanto no centro do Vale do Rio Branco, sem que os portugueses desconfiassem de suas reais intenções. Ao retornar a Londres (capital da Inglaterra) ele relatou que a presença militar portuguesa na região era precária, quase inexistente. Sugeriu, inclusive, que a Inglaterra deveria ocupar esses espaços “vazios”, e até de ocupá-los em caráter permanente.

Seguindo os conselhos de Schomburgk, os ingleses agiram de imediato, argumentando que o território do Pirara era ocupado por tribos independentes que reclamavam a proteção da Inglaterra. E, como o Brasil não tinha ninguém para defendê-lo nesta contenda, se viu obrigado a reconhecer, mesmo que provisoriamente, a neutralidade da área em litígio, e retirou os civis e militares da região, mas com a condição de que as tribos continuassem independentes.

Schomburgk aproveitou a oportunidade e liderou em 1842, uma expedição que assentou marcos fronteiriços e demarcou, por conta própria, a fronteira Guiana e Brasil (sem a concordância do governo brasileiro). O resultado final deste engodo britânico foi submetido ao Rei da Itália, Victor Manuel III, que estabeleceu a fronteira, dando a palavra final. Apesar dos esforços da diplomacia brasileira através de Joaquim Nabuco, do Barão do Rio Branco e do governo do Pará, através de Antonio Ladislau Monteiro Baena, em junho de 1904, foram retirados do Brasil 19.630 km² e entregues à Inglaterra (somando territórios para a Guiana), com a promessa de que 13 570 km² seriam devolvidos ao Brasil. A área tomada do Brasil, é onde está hoje a cidade de Lethem, na Guiana.

Ali, naquela área, havia duas fazendas: a “Bom Sucesso” (instalada na margem direita do Rio Itacutú) e a “São Salvador” (na margem esquerda, onde hoje está o município de Bonfim), ambas as fazendas pertenciam ao cearense João Pereira da Silva, que havia aportado na região em 1880. Ele casou-se com Carolina Marques Brasil, filha do Capital Bento Ferreira Marques Brasil e de Cecília Corrêa Ruiz gaúcha. O casal teve três filhos, Gabriel, Eduardo e Galdino (todos com o sobrenome “Pereira da Silva”).

Após o estabelecimento da Fronteira pelo Rei da Itália Victor Manuel III, em 6 de junho de 1904, a fazenda Bom Sucesso ficou na Guiana (onde hoje está Lethem) e, pouco tempo depois, venderam tudo o que tinham para a Companhia Inglesa “Dadanawa”, que, na época, tinha como gerente o senhor H.P. C. Melville – o homem mais rico da região, à época.