Jessé Souza

Do linchamento ao canibalismo 4584

Do linchamento ao canibalismo Não se tratam apenas do desalento que a política partidária provoca com a corrupção e o desgoverno das autoridades em todos os níveis. A barbárie que estamos assistindo em Boa Vista, com populares linchando em via pública suspeitos de roubos e furtos, tem motivação em uma índole que se está construindo baseada no ódio e no preconceito.

As redes sociais são o melhor termômetro para visualizar o que está por detrás desse comportamento primitivo de trucidar aqueles apontados como reprováveis na sociedade. Nos grupos de WhatsApp, por exemplo, é comum alguém logo sugerir que se trucide um acusado de um delito ou mesmo um crime e até mesmo um abandono de incapaz.

As pessoas estão perdendo a capacidade de tolerar, respeitar e seguir as leis que regem a sociedade. E não se trata de nível cultural ou formação escolar, pois o nazismo foi permitido em uma Alemanha que possuía o maior número de doutores entre os países da Europa.

Na política, assim como querem depositar a solução de problemas em uma pessoa que faça às vezes de super-herói, de um ídolo ou um falastrão que parece falar a voz da ignorância, no cotidiano as pessoas também querem soluções rápidas para a violência, achando que instituir a Lei de Talião, do “olho por olho, dente por dente”, fosse a solução imediata para cessar a violência. Mas não se combate a violência usando de mais violência.

Somos um país onde não existe pena de morte oficialmente, mas muitas pessoas querem fazer o papel da polícia, da Justiça e do executor de pena de morte, mas não porque estão tão somente desiludidas com a política, com a insegurança e com os desmandos, mas porque há uma índole maléfica que vem sendo construída.

Se fossem somente a insegurança e a desilusão com a política os motivos de agir de forma primitiva, as pessoas estariam atacando na rua os bandidos de gravata, os corruptos que assaltam os cofres públicos e tiram o dinheiro da saúde, da educação, do emprego e das melhores condições de vida da população. No entanto, o mesmo que trucida um ladrão de celular, em via pública, muitas vezes é o mesmo que reverencia o político corrupto e o reelege a cada ano eleitoral.

O que estamos precisando é de uma tomada de consciência sobre respeitar o próximo e suas diferenças, seguir as leis, cobrar das autoridades que elas cumpram com o seu papel constitucional e, ainda, cada um assumir o papel de cidadão comprometido com as mudanças para melhor, mesmo diante da desesperança, do caos político e da imobilidade dos governos. Se não for assim, estamos caminhando para um canibalismo de pobre devorando pobre. E os ricos cada vez mais ricos.*[email protected]: www.roraimadefato.com.br